Page 19 Opióides
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Para além destes receptores «clássicos», há ainda a referir um novo
receptor de actividade pouco conhecida, chamado «receptor órfão»
(ORL1, «nociceptina» ou «orfanina FQ»). Apesar da sua base estrutural
semelhante aos restantes receptores, a sua actividade farmacológica
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mantém-se pouco evidente .
Os opióides exógenos actuam na dor ligando-se de forma selectiva
aos diferentes receptores. É da interacção e da forma de ligação a estes
diversos receptores que resulta a actividade analgésica dos opióides .
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O sistema µ tem maior número de receptores no córtex cerebral, no
tálamo e na substância cinzenta peri-aquedutal, sendo raros na medula
espinhal. Tem essencialmente um efeito analgésico na dor aguda e
crónica, embora possa desencadear outros efeitos, tais como: euforia,
dependência física, depressão respiratória, hipotermia, bradicárdia e
miose. Os receptores δ têm uma distribuição difusa no córtex cerebral,
hipocampo, amígdala e no tubérculo olfactivo (sistema límbico). Pare-
cem ser os locais preferenciais para a ligação das encefalinas, substân-
cias que quando bloqueada a sua degradação induzem analgesia. Outros
efeitos passíveis de serem obtidos: euforia, efeitos autonómicos e efei-
tos relacionados com a vertente afectivo-motivacional do sistema noci-
ceptivo. O sistema κ tem a maior concentração de receptores na medu-
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la espinhal, tálamo, hipotálamo e córtex cerebral . Tem uma acção
pouco clara, parecendo no entanto estabelecer uma actividade de base
sobre a qual actuam os receptores µ e δ . No entanto a analgesia que
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induzem é de origem espinhal. Produzem também sedação . Esta anal-
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gesia parece ser mais importante nos estados de dor crónica .
Estes conhecimentos sobre os receptores permitiram o desenvolvi-
mento e a síntese de substâncias opióides com comportamentos tão
diferentes como por exemplo a mortina, agonista µ e κ (analgésico que
melhorou radicalmente o tratamento da dor e fármaco padrão dos
opióides) e a naloxona, antagonista, que se liga aos receptores µ e κ
bloqueando o sistema e não permitindo sua activação. Existem também
agonistas-antagonistas, como por exemplo a pentazocina, que se liga
aos receptores µ e κ, actuando como antagonista dos receptores µ e
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como agonista dos receptores κ .
Em relação aos opióides mais conhecidos, o seu modo de actuação no
que se refere aos receptores mais estudados é a representada na tabela 1.

Podemos pois concluir que é da capacidade de ligação a determina-
dos receptores e da actividade intrínseca entre o opióide e os diferentes
receptores que emergirão as características que farão do opióide um
fármaco a ter em conta (ou não) no arsenal terapêutico (Tabela 2).


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