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Dor (2001) 9

Quadro IX. Morbilidade psiquiátrica (n = 131)
Homens Mulheres Total
n % n % n %
Provável P > 6 23 44,2 >7 49 62 72 55
Não provável P < 6 29 55,8 <7 30 38 59 45



Quadro X. Diagnóstico psiquiátrico (n = 18 pacientes referenciados)
n %
Perturbações de humor
Depressão major 5 55
Distimia 5
Perturbações somatomorfes Hipocondríaco 1
Perturbações de adaptação Ansiedade 1
Depressão 2
Perturbações factícias Com sintomas físicos 1
Factores psicológicos Afectam condição física 2
Sem diagnóstico 1





doentes de dor tem uma morbilidade psiquiá- existir diagnóstico psiquiátrico, dois perturbações
trica similar à de outras disciplinas hospitalares. de adaptação. Os motivos do pedido da ava-
Mas uma vez que é superior ao encontrado na liação psiquiátrica foram a orientação terapêu-
comunidade geral e clínica geral o valor encon- tica, dificuldades em intervir no caso, confir-
trado é significativo e confirma a necessidade de mação da suspeita do diagnóstico, dificuldades
ao avaliarmos um paciente de dor se pensar e no diagnóstico e a orientação clínica a seguir.
questionar quais os factores psicológicos asso- Nos casos observados pelo psiquiatra é im-
ciados, uma vez que os pacientes não os ver- portante focar como outros autores que a psi-
balizam de uma forma espontânea 5,13 . copatologia mais frequentemente encontrada é
Pensamos que a única maneira de aumentar perturbação psiquiátrica do tipo depressivo o
este reconhecimento na consulta de pacientes que acontece em 55% dos casos 2,13,17 .
com dor é através da educação na dor segundo Neste estudo não era propósito distinguir com
o modelo biopsicossocial de quem lida com rigor científico entre a percentagem (4%) da mor-
pacientes de dor, rastreio desses factores e o bilidade psiquiátrica real como causa de dor, e
sistemático uso de uma muito simples escala a percentagem (51%) da morbilidade psiquiátrica
psiquiátrica. Isto não significa que depois seja associada ao diagnóstico somático. Isto é a co-
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necessária a colaboração psiquiátrica em todos morbilidade psiquiátrica .
os casos, mas apenas naqueles onde exista a O uso no tratamento de antidepressivos foi
necessidade de uma confirmação e orientação confirmado em 94,65% dos casos, o que mostra
diagnóstica, dificuldade de abordar o caso ou que os antidepressivos são provavelmente os
exigência de uma intervenção específica psico- fármacos mais receitados para o tratamento de
farmológica ou psicoterapêutica. dor crónica. As doses usadas são geralmente
Isto acontece em geral na nossa actividade mais baixas do que para o tratamento de de-
prática de uma unidade de dor multidisciplinar e pressões, o que é o mesmo que dizer em doses
é por essa razão que, dos 18 pacientes da sintomáticas e por outro lado porque são fre-
amostra total, 5 não atingiram a pontuação para quentemente usados em combinação com ou-
serem considerados potenciais casos de acordo tros fármacos 19-23 .
com ER/80 mas mesmo assim o clínico entendeu
necessária a colaboração psiquiátrica. Isto si- Conclusões
gnifica uma selectividade na colaboração pedida
uma vez que a presença de um psiquiatra na Apesar do reduzido número da amostra po-
avaliação da dor e equipa de tratamento pro- demos concluir que a morbilidade psiquiátrica
move nos outros membros da equipa a aptidão presente nos pacientes de dor é uma dimensão
para detectar factores emocionais mais subtis importante na clínica de dor. O uso de uma es-
ou aumentar a suspeita da presença de distúr- cala de rastreio como ER/80 provou ser um ins-
bios psiquiátricos. trumento simples e útil para a sua detecção. De
® A análise dos casos não identificados pelo forma a conseguir os objectivos à qual uma clí-
DOR ER/80 mostrou que dois desses casos eram de nica de dor se propõe há necessidade de uma
24 depressão mascarada, um confirmou-se não equipa multidisciplinar onde o psiquiatra deve
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