Page 18 Volume 10, Número 4, 2002
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Dor (2002) 10
do de 60 min de registo electrofisiológico que
precedeu sempre a lesão periférica. Foram
registadas 5 populações neuroniais no tálamo
lateral (um total de 32 neurónios, 5,6 ± 2,1 por
registo), e ainda duas populações controlo (7
neurónios); nestas populações controlo os re-
gistos prolongaram-se por 180 min, não se
tendo efectuado qualquer lesão periférica.
As respostas neuronais anteriores à constrição
parcial do nervo ciático foram comparadas com
as respostas obtidas 180 e, quando possível, 360
min após a lesão. A figura 1 apresenta os gráficos
das respostas de 6 neurónios talâmicos registados
simultaneamente à estimulação periférica dolorosa
aplicada em 3 distintos pontos, antes e depois da
constrição do nervo ciático.
Após a lesão periférica, 28 dos 32 neurónios
registados (88%) sofreram alterações na ex-
tensão ou posição do seu campo receptivo
(definido como a área corporal cuja estimula-
ção suscita uma resposta fisiológica neuronal),
e/ou no limiar de excitabilidade dos neurónios.
No período controlo anterior à constrição, 11
dos 32 neurónios eram do tipo LT, 7 eram
WDR, 8 eram NS e 6 não possuíam campo
receptivo identificável. Cento e oitenta min
após a constrição, 9 neurónios eram LT, 3
eram WDR, 10 eram NS e 10 não respondiam
a qualquer estimulação periférica (Fig. 2).
Embora a distribuição dos neurónios pelas
diferentes classes de excitabilidade não seja
significativamente diferente antes e depois da
constrição do nervo (teste t, p = 1,0), 19 neurónios
(59% do total) mudaram de classe de excitabili-
dade após a constrição. Dos 6 neurónios que no
início dos registos não tinham campo receptivo
cutâneo identificável embora apresentassem
actividade espontânea persistente, cinco
deles passaram a responder à estimulação
táctil da cauda, respondendo 3 maximamente
a estimulação não dolorosa, e 2 especificamente a Figura 1. Alterações induzidas por constrição parcial
estimulação dolorosa. Este aparecimento de do nervo ciático nas propriedades de resposta e
respostas a estimulação cutânea em neurónios campos receptivos de neurónios talâmicos. Os gráficos
previamente não somatotópicos foi imediato, sendo são histogramas da frequência de actividade neuronal,
observados na primeira estimulação, i.e., 5 registados simultaneamente numa população de 6
neurónios do complexo ventrobasal do tâlamo, antes e
minutos após a constrição do nervo ciático. Ao 180 minutos após a lesão periférica. As barras
mesmo tempo a constrição do nervo causou o verticais cinzentas marcam os períodos de estimulação
desaparecimento das respostas a estimulação dolorosa aplicada em três pontos: A – pata posterior
cutânea em 9 neurónios (4 LT, 3 WDR e 2 NS, contralateral; B – cauda; C – pata posterior ipsilateral.
(Fig. 2).
A correlação funcional populacional entre parte (10 dos 12 pares) pelo menos um dos
neurónios foi analisada nas três experiências neurónios ter alterado o seu limiar de excita-
em que foram registados simultaneamente bilidade, e terem mesmo alguns (em 7 dos 12
mais de três neurónios. Uma pequena porção pares) perdido o seu campo receptivo cutâ-
de pares de neurónios dentro de cada popu- neo. A constrição do nervo alterou, no entan-
lação apresentou correlação significativa do to, o índice de conectividade funcional do
seu padrão temporal de actividade. Nas três conjunto de todos os pares neuronais analisa-
experiências consideradas foram analisados dos. Esta alteração populacional do índice de
os 55 possíveis pares de neurónios, e apenas conectividade tem uma forte influência espa-
12 tinham padrões de actividade correlacio- cial: o índice de conectividade populacional
DOR nada no tempo. Estes 12 pares de neurónios antes da constrição do nervo apresentava
valores mais altos para os pares de neurónios
não perderam a sua correlação funcional após
22 a constrição do nervo apesar de na sua maior correspondentes a células vizinhas (distânci-
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