Page 20 Volume 10, Número 4, 2002
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alteração do limiar de excitabilidade. A altera-
ção do limiar de excitabilidade foi estatistica-
mente significativa para 31 dos 54 neurónios
registados. Dez neurónios que inicialmente res-
pondiam apenas a toque inócuo passaram a
responder também a pressão dolorosa, 9 neu-
rónios que só respondiam a estimulação doloro-
sa passaram a responder também a tacto inó-
cuo, e 2 neurónios que respondiam a ambas
estimulações passaram a responder apenas a
tacto inócuo. Os 10 neurónios que inicialmente
não tinham campo receptivo identificável pas-
saram todos a responder à estimulação táctil
da pele glabra. Destes 10 neurónios, após a
injecção de formol 4 passaram a responder
apenas a tacto inócuo, enquanto os restantes 6
passaram a responder a estimulação inócua e
dolorosa. A injecção de formol não provocou
em nenhum neurónio uma perda de resposta a
estimulação cutânea da pele glabra da pata
posterior.
O número de neurónios que alterou a sua
classe de excitabilidade (entre respondendo
apenas a tacto inócuo, apenas a pressão dolo-
rosa, ou a ambas) 90 min após a injecção de
formol foi de 3,75 ± 0,42 por registo populaci-
onal. De igual forma, o número de diferentes
classes de excitabilidade presente em cada
população baixou de 3,25 ± 0,16 antes da
injecção para apenas 2,00 ± 0,27, com a maioria
dos neurónios a responder simultaneamente a
estimulação inócua e dolorosa (46 dos 54
neurónios, ou 75 ± 9% dos neurónios por popu-
lação registada (Fig. 4B).
A injecção de formol não provocou uma alte-
ração significativa na frequência de disparo
espontâneo dos neurónios (de 1,06 ± 0,32 para
1,08 ± 0,28 – P = 0,96, teste t, n = 54), nem
uma alteração da actividade provocada por
estimulação dolorosa (de 7,79 ± 1,98 para 10,66
± 2,28 – P = 0,18, teste t, n = 54), mas causou
um aumento significativo na actividade desper-
tada por estimulação inócua (de 5,30 ± 0,76
para 8,71 ± 1,02 – P < 0,01, teste t, n = 54).
Estas alterações populacionais não são resulta-
do de uma tendência comum a todos os neuró-
nios: alguns neurónios aumentaram bastante a
sua resposta à estimulação cutânea, enquanto
outros sofreram diminuições após a injecção de
formol. Como regra geral a injecção de formol Figura 4. A. Alterações das propriedades de resposta
provocou uma diminuição das respostas dos de neurónios espinais induzidas por injecção subcutânea
de formol. Os gráficos são histogramas da frequência de
neurónios que inicialmente possuíam níveis mais actividade neuronal, registados simultaneamente numa
altos de actividade espontânea e evocada, en- população de 6 neurónios na lâmina V do corno dorsal
quanto provocou um aumento de actividade da medula espinal, antes e 90 min após a injecção de
evocada nos restantes. Como consequência, a formol. As barras verticais cinzentas marcam os
períodos de estimulação táctil aplicada à pele glabra da
actividade induzida por estimulação não dolo- pata posterior: T – tacto não doloroso, P – pressão
rosa nos 36 neurónios que antes da injecção de dolorosa.
formol respondiam com menos de 5 disparos B. Distribuição dos neurónios por classes de
por s a uma estimulação táctil de 5 toques por excitabilidade, antes e 90 min após a injecção de
s, quadriplicou em 35 dos neurónios e passou formol. NR – neurónios não excitáveis; T – neurónios
que respondem apenas a tacto não doloroso; P –
DOR de 2,06 ± 0,34 disparos/s para um valor final de neurónios que respondem apenas a pressão dolorosa;
T+P – neurónios que respondem a ambas as
9,01 ± 2,09 disparos/s. Esta alteração corres-
24 ponde a um aumento de 2,84 ± 1,47 na relação estimulações.