Page 21 Volume 10, Número 4, 2002
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V. Galhardo: Codificação populacional da dor: O papel das redes neuronais espinais e talâmicas na génese e manutenção de dor persistente
sinal-ruído por população registada. espinal (Palecek, et al., 1992; Laird & Bennett,
A análise da correlação temporal funcional 1993) e do tálamo lateral (Guilbaud, et al., 1990),
entre os pares de neurónios registados simulta- era a de que os neurónios das duas regiões
neamente revela igualmente que as alterações apresentavam alterações muito semelhantes
mais significativas surgem na resposta à estimu- entre si: maior actividade espontânea, expan-
lação não dolorosa, e são consequência directa são dos campos receptivos, redução do limiar
da melhoria da relação sinal/ruído. A figura 5 de excitabilidade e respostas que se prolon-
apresenta os gráficos de auto e heterocorrela- gam para além do fim da estimulação. A única
ção de 9 neurónios registados simultaneamente, importante diferença dizia respeito à incidência
onde se observa que a injecção de formol au- preferencial da plasticidade: na medula espinal
menta a capacidade populacional dos neurónios ocorrem principalmente grandes alterações na
acompanharem a estimulação não dolorosa, mas excitabilidade neuronial, com alteração dos
não altera a conectividade funcional durante a campos receptivos relativamente restrita (Mc-
estimulação dolorosa. Mahon & Wall, 1989; Cook, et al., 1987), en-
quanto no tálamo e no córtex somatossensitivo
Discussão a plasticidade nociceptiva acarreta especial-
A maior parte dos resultados de estudos mente grandes modificações na extensão e
electrofisiológicos sobre a plasticidade noci- complexidade dos campos receptivos
ceptiva dizem respeito às alterações nas res- (Ergenzinger, et al., 1998; Lamour, et al., 1983;
postas de neurónios singulares induzidas por Sherman, et al., 1997).
modelos animais de hiperalgesia. Uma das Estas observações estão de acordo com da-
observações retirada da comparação da plasti- dos anatomofisiológicos básicos. Os campos
cidade nociceptiva das populações da medula receptivos das células nociceptivas espinais,













































Figura 5. A. Correlogramas cruzados de pares de neurónios registados simultaneamente. Os dados dizem respeito
ao sincronismo temporal observado entre 9 neurónios da lâmina V da medula espinal.
B. Exemplo dos correlogramas entre os neurónios #1 e #4. A coincidência temporal entre os dois neurónios é
representada tomando um potencial de acção do neurónio #1 como referencial de tempo zero, e anotando os
potenciais de acção do neurónio #4 que ocorrem dentro do período de análise de ± 250 ms. Este procedimento é
repetido para todos os potenciais de acção do neurónio #1, ocorridos durante os períodos de estimulação não DOR
dolorosa e dolorosa.
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