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guiu em vários Centros, entretanto. Nashold, na validade da sua experiência e dos seus méto-
Carolina do Norte, e Sindou, em França, redes- dos. Foi o suficiente para mais tarde reactivar a
cobriram os «fascinantes» cornos dorsais da chama.
medula espinal, com a sua importante acção Os neurocirurgiões muitas vezes não têm a
integradora, e ao mesmo tempo identificaram noção de que continuam a dedicar a maior par-
novos alvos para intervenção cirúrgica. te do seu tempo ao diagnóstico e tratamento de
Actualmente os cirurgiões da dor estão agru- situações dolorosas, na generalidade tão co-
pados em sociedades de cirurgiões e neuro- muns como as cefaleias, as raquialgias e as
cientistas, que têm por objectivo o estudo e a radiculopatias, e na generalidade já numa fase
modificação das funções nervosas com interfe- crónica ou conspurcada. Na realidade, o seu
rência mínima sobre a anatomia. Tratam a dor e esforço e a sua inteligência continuam a prestar
tambem a epilepsia, o movimento e as funções relevantes serviços aos doentes.
mentais superiores. Há alvos no sistema nervoso que são impor-
tantes para a resolução de situações de dor
Desenvolvimento crónica. E sobre os quais a neurocirurgia pode
e deve intervir.
Os métodos neurocirúrgicos têm limitações.
Rapidamente se verificou que «a dor fugia à
frente do canivete» e que algumas cirurgias ti- Estado actual
nham efeitos colaterais inaceitáveis. Isto levou à A essência da cirurgia é a actuação selectiva
reavaliação de algumas técnicas, e mais tarde sobre alvos. Alvos são locais onde se desenro-
ao aparecimento do conceito de cirurgia mini- lam eventos nefastos ou onde podemos modifi-
mamente invasiva. car comportamentos sem efeitos sistémicos.
Por outro lado, os neurocientistas tinham des- A dor é um fenómeno localizado – num metâ-
vendado alguns mistérios funcionais e bioquími- mero, num segmento ou numa região. Mesmo a
cos da dor, e perceberam que o fenómeno do- dor central tem estas características. A teoria de
loroso é tambem geral e que não se limita a terapêuticas dirigidas continua a fazer sentido e
isolados locais anatómicos. a experiência clínica comprova-o. O hardware
Os anestesistas tinham saído das salas de continua a ser importante. A anatomia continua
operações e passaram a usar os seus métodos a preceder e a acompanhar a fisiologia.
anestésicos e analgésicos em prática clínica ex- Os modernos meios da imagiologia mostram
terna, fazendo questionar o valor dos métodos variações regionais da função. Ainda não com-
invasivos. Reabilitaram os opióides, até aí olha- preendemos em toda a sua extensão o signifi-
dos com desconfiança pela opinião pública e cado destes dados, mas é patente a segmenta-
até pela classe médica. Quando em 1985 Ro- ção dos acontecimentos.
nald Reagan recebeu analgesia epidural após A história e a formação dos neurocirurgiões
uma colectomia, os métodos dos anestesistas dão-lhes uma capacidade e uma responsabili-
foram aceites de modo exponencial pela popu- dade especiais. Na prática clínica actual, há
lação e pelos médicos. A investigação farmaco- algumas áreas de interesse dominante, tais
lógica desenvolveu entretanto novos fármacos como: a lombalgia, a nevralgia do trigémio, ou-
mais precisos e mais toleráveis. tras formas de dor facial e as variadas formas
O tratamento percutâneo e farmacológico ga- de dor neuropática ou central.
nhou rápida predominância pela sua novidade Para lidar com esta patologia, os neurocirurgi-
e pela sua inocuidade, sobretudo no tratamento ões continuam a usar os métodos ablativos, que
da dor aguda ou da doença maligna. Surgiu ainda não têm paralelo em eficácia clínica. E
enfim o tratamento organizado em Unidades de que são cada vez mais seguramente dirigidos,
Dor, que na generalidade ignoraram a experiên- mais precisos e mais inócuos. Salientam-se as
cia neurocirúrgica. Também nesta altura é reve- modernas cirurgias da Drez e as modernas cor-
lado um largo estudo cooperativo e prospectivo dotomias dirigidas por TC. Em termos de moni-
que pôs em causa o valor clínico da neuroesti- torização os avanços são óbvios, quer em ter-
mulação e levou a algum desânimo. mos neurofisiológicos quer em termos
Nesta época, os neurocirurgiões, que têm imagiológicos («navegação»).
uma prática clínica congestionada, ficaram atur- A estimulação das colunas dorsais medulares
didos com a nova realidade e com os desenvol- voltou a ser usada de modo mais generalizado,
vimentos explosivos do campo da dor. Alguns e outras formas de estimulação periférica estão
sentiram que a sua experiência e especificidade a emergir. A estimulação central divide-se hoje
não tinham interesse neste meio cada vez mais competitivamente entre a estimulação profunda
bioquímico, e decidiram trocar a sua actividade estereotáxica e a estimulação do córtex motor.
por novas áreas nascentes como a microcirurgia Em relação à cirurgia da nevralgia do trigémio,
e a cirurgia da base do crânio. dividem-se grupos que preferem os métodos
DOR pulverizados técnica e geograficamente. E al- percutâneos e outros que utilizam preferencial-
Restaram alguns grupos de cirurgia funcional
mente a microdescompressão vascular. Com
6 guns teimosos que continuaram a acreditar na todas as controvérsias, o manejamento da ne-