Page 38 Volume 17 - N.1 - 2009
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S.F. Bernardes: Enviesamentos de Sexo nos Julgamentos de Dor
Quadro 1. Variáveis independentes, seus níveis e formas de operacionalização
Variáveis independentes Níveis Operacionalização
Sexo do(a) paciente Mulher Paciente apresentada como mulher de 37 anos
Homem Paciente apresentado como homem de 37 anos
Duração da dor Aguda Paciente vivia com dor lombar há três dias
Crónica Paciente vivia com dor lombar há três anos
Reacções de estoicismo Estóico(a) Paciente é descrito(a) como…
… calmo(a) e tranquilo(a)*
… não se queixa nem verbaliza a dor
… não chama a atenção dos profissionais de saúde, espera vez de ser
atendido(a)
… descreve dor como aguda e penetrante
Não-estóico(a) Paciente é descrito(a) como…
… agitado(a) e ansioso(a)
… choroso(a) e queixoso(a), verbaliza dor
… chama atenção de profissionais de saúde para ser atendido(a)
rapidamente
… descreve dor como assustadora e cruel
No estudo 1, a operacionalização das reacções de estoicismo do(a) paciente foi realizada apenas manipulando a apresentação de sinais
de ansiedade.
conceptual acima exposto, esperava-se que a existir uma tendência para a psicologização e
presença significativa de enviesamentos de sexo consequente desvalorização das dores das mu-
nos julgamentos de dor estivesse dependente, lheres 12,13 , cuja imagem estereotípica se encon-
i.e., fosse moderada pelas variáveis contextuais tra mais associada que a do homem a modelos
acima mencionadas (hipótese 2). de senso comum sobre a somatização 13,22 .
Mas qual a direcção dos efeitos moderadores Finalmente, e no que diz respeito à influência
esperados para cada uma daquelas variáveis do sexo do(a) observador(a), esperava-se que
contextuais? A resposta a esta questão remete- a presença de enviesamentos de sexo em detri-
nos para a elaboração de hipóteses mais espe- mento da mulher fosse mas provável quando o
cíficas. Em primeiro lugar, relativamente à dura- participante fosse do sexo masculino que quan-
ção da dor, esperava-se que a presença de do fosse do sexo feminino (hipótese 2.3). Tal
enviesamentos de sexo em detrimento da mu- hipótese advém não apenas da constatação de
lher fosse mais frequente em contextos de dor evidências empíricas prévias que directamente
aguda por oposição a contextos de dor crónica a sustentam 17,29,30 , mas também de evidências
(hipótese 2.1). Esta hipótese decorre de estudos que sugerem serem homens aqueles que detêm
por nós realizados que sugerem que em contex- crenças mais diferenciadoras dos modos de ser
tos de dor crónica incapacitante as imagens do e agir face à dor de homens e mulheres 4,8,18,23 ,
homem e mulher se tornam indiferenciadas. Por apresentando, portanto, maior propensão para
exemplo, naqueles contextos, tanto leigos(as) um processamento de informação assente em
como enfermeiros(as) esperam uma ausência imagens estereotípicas de género.
de diferenças na forma como homens e mulhe-
res reagem face à sua dor e também no grau Materiais e Métodos
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em que traços de dependência, dominância ou
instrumentalidade se manifestam em cada um Participantes
deles . Assim, neste contexto, mesmo na pre- No estudo 1, participaram 205 estudantes de
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sença da activação de tais imagens de género, enfermagem (44,9% homens) com idades com-
ao serem indiferenciadas levarão com menor preendidas entre os 18 e os 32 anos (M = 20,64,
probabilidade a enviesamentos de sexo nos jul- DP = 2,72). No momento da realização do estu-
gamentos de dor. do, cerca de 48% dos(as) participantes encon-
o
Em segundo lugar, quanto ao efeito das reac- trava-se a terminar o 1. ano, 26,1% o 2. ano e
o
ções de estoicismo face à dor, esperava-se que os restantes o 3. ou 4. ano das respectivas licen-
o
o
os enviesamentos de sexo em detrimento da ciaturas em faculdades públicas de Lisboa e Por-
mulher surgissem apenas na presença de reac- to. No estudo 2, participaram 222 enfermeiros(as)
ções menos estóicas (i.e., mais histriónicas) da (38,3% homens), com idades compreendidas en-
parte do(a) paciente (hipótese 2.2). De facto, tre os 22 e os 52 anos (M = 33,03, DP = 6,80) a DOR
evidências sugerem que na presença de pistas exercer a sua profissão nos mais variados hos-
de stress (e.g., sinais de ansiedade) parece pitais (84,2%), centros de saúde (9,5%) ou outras 37