Page 38 Volume 17 - N.4 - 2009
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R. Pestana, et al.: Cifoplastia no Tratamento da Dor
fosfato de cálcio apenas recomendada para por cimento durante vertebro ou cifoplastia. En-
fracturas de tipo A1 e A3 de Magerl. Propõem contraram um risco de embolia de 3,5-23% no
que, em fracturas mais destrutivas, se associe a tratamento de fracturas osteoporóticas, não pa-
cifoplastia com fosfato de cálcio a instrumenta- recendo ser superior em fracturas osteolíti-
ção posterior. cas, mas em estudos em que foi utilizada TC,
Vários autores têm criticado a utilização do a incidência de embolia por cimento atingiu
fosfato de cálcio nestas situações, como por os 90% na vertebroplastia e os 37,5% na ci-
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exemplo Boszczyk . Argumentam que o fos- foplastia. Em 214 case reports, 95 casos tive-
fato de cálcio parece atractivo para substitui- ram complicações, sendo 90 após vertebro-
ção do PMMA pelas suas qualidades de os- plastia e apenas cinco após cifoplastia.
teocondução, mas no entanto apresenta Desses 95, 34 tiveram embolismo pulmonar
capacidade de tensão inferior e pouco se por cimento, sendo todos após vertebroplas-
sabe sobre o seu comportamento biomecâni- tia percutânea e quatro deles com mortalida-
co sob forças repetidas de compressão a lon- de. Não encontraram procedimentos standard
go prazo. Experimentalmente, observaram-se para diagnóstico e tratamento da embolia por
fissuras no cimento após carga repetida em cimento, mas estabeleceram como recomen-
modelos de fracturas osteoporóticas. Os au- dação seguimento clínico nos casos assinto-
tores observaram fissuras no cimento docu- máticos e actuar segundo as guidelines para
mentadas por TC a que se acresce uma rea- tratamento das embolias pulmonares trombó-
bsorção média de cimento de 20,3%, não ticas nos sintomáticos, nomeadamente com
sendo claro se estas alterações correspon- heparinização inicial, a que se segue 6 meses
dem a processo de substituição óssea ou de de terapêutica com cumarínicos. A melhor
reabsorção patológica agravado por fissura- profilaxia para esta complicação parece ser
ção do material com potencial formação de a injecção de cimento apenas em fase de
tecido fibroso. Embora estas alterações não consistência pastosa, bem como a interrup-
condicionassem alterações do outcome, clara- ção da sua injecção aos primeiros sinais de
mente indicam que o actual conhecimento des- extravasamento.
te cimento não é suficiente para o recomendar
como tratamento de rotina em fracturas verte-
brais traumáticas. São necessários mais estu- Qual é a evidência na cifoplastia?
dos biomecânicos antes de se poder fazer essa A utilização generalizada da vertebroplastia
recomendação. e cifoplastia tem sido criticada por muitos
dada a inexistência de estudos aleatorizados
e controlados que suportem o benefício des-
Embolização de cimento e cifoplastia tas técnicas sobre o tratamento conservador.
A embolização de cimento é uma das com- Neste sentido, foram publicados no New En-
plicações da vertebroplastia e cifoplastia, con- gland Journal of Medicine, em 2009, dois es-
forme já referido no capítulo complicações. tudos multicêntricos, aleatorizados e contro-
Podem resultar em lesão assintomática dos te- lados de vertebroplastia versus placebo 41,42 .
cidos envolventes, compressão de raízes ner- O estudo de Buchbinder, et al. incluiu 78 do-
vosas ou medular e embolia pulmonar por ci- entes, 38 aleatorizados para vertebroplastia e
mento. Vários estudos têm apontado um menor 40 para placebo, e o estudo de Kallmes, et al.
risco de embolização de cimento como uma 131 doentes, 68 submetidos a vertebroplastia
vantagem da cifoplastia sobre a vertebroplas- e 63 no grupo placebo. Foram estudos seme-
tia. O estudo de Pitton analisou o extravasa- lhantes, incluindo apenas fracturas osteoporó-
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mento de cimento e outras complicações em ticas 1,8,10 , com menos de 12 meses e não con-
500 vertebroplastias, documentado por TC. Ob- solidadas, com confirmação por RM. O estudo
tiveram uma taxa de mortalidade de 0,4% (1 em de Kallmes permitia cruzamento dos grupos
251 doentes) por embolia pulmonar e a morbi- após 1 mês. Todos os doentes foram aleatori-
lidade foi de 2,8% (7/251), incluindo síndrome zados para vertebroplastia ou procedimento
coronário agudo, síndrome do cone medular e placebo, que consistiu na execução de todos
fracturas adicionais. A taxa global de extrava- os passos iniciais da vertebroplastia até à in-
samento de cimento analisada por TC foi de trodução do trocar no pedículo da vértebra,
55,4%, predominantemente para os discos sendo este apenas ligeiramente penetrado, a
(25,2%), plexo venoso epidural (16%), muro que se seguia preparação do cimento para o
posterior (2,6%), foraminal (1,6%), vasos para- doente ter percepção olfactiva igual à da ver-
vertebrais (7,2%). A presença de cimento intra- tebroplastia. Os cuidados pós-intervenção fo-
discal não se associou a maior risco de fractu- ram sobreponíveis. A avaliação pós-operatória
ras. Concluíram que embolismo pulmonar de foi realizada à 1 semana e 1,3 e 6 meses, e
cimento, mesmo em pequenas quantidades, incluiu critérios de controle da dor (escala VAS)
pode determinar evolução fatal. Krueger, et al. e funcionais (Quality of Life Questionnaire of DOR
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realizaram estudo de revisão a propósito da the European Foundation for Osteoporosis
incidência e tratamento da embolia pulmonar [QUALEFFO]). Em ambos os estudos se concluiu 37
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