Page 37 Volume 17 - N.4 - 2009
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Dor (2009) 17
2,4-23%, valor inferior ao da história natural das longo de vasos sanguíneos que penetravam o
fracturas osteoporóticas não tratadas . Basea- implante de CaP. Não se verificou reabsorção
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do nesse facto e tentando estabelecer papel do cimento de CaP.
preventivo da cifoplastia na incidência de novas O estudo de Grafe, et al. comparou pros-
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fracturas, Becker, et al. compararam o risco pectivamente durante 3 anos o resultado clí-
de novas fracturas em grupos aleatorizados nico e morfológico da cifoplastia com CaP e
para cifoplastia monosegmentar ou cifoplastia com PMMA. Este estudo envolveu 40 doentes,
adjacente profiláctica, sendo esta no nível aci- 20 em cada grupo, tendo ambos efectuado
ma ou abaixo conforme o tipo de fractura. Es- simultaneamente terapêutica farmacológica
tudaram 60 doentes durante 12 meses, obtendo com cálcio, vitamina D , bifosfonados, analge-
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follow-up em 23/30 doentes do grupo monoseg- sia e fisioterapia. Durante o períodos de estu-
mentar e 27/30 do grupo profiláctico. Não se do e no final do follow-up não se verificaram
verificaram diferenças estatisticamente signifi- diferenças estatisticamente significativas no
cativas na incidência de novas fracturas ao final controle da dor, resultado funcional e restau-
de 1 ano, pelo que concluíram não existir indi- ro da altura do corpo vertebral. Não se veri-
cação para cifoplastia profiláctica do nível ad- ficaram também diferenças significativas na
jacente. incidência de novas fracturas. Concluíram
que o CaP é uma alternativa segura e eficaz
ao PMMA no tratamento das FCV, sendo es-
Tipos de cimento pecialmente promissor em doentes jovens
O polimetilmetacrilato é o material mais utiliza- pelo potencial de reabsorção e substituição
do na estabilização interna de FCV. A sua soli- por novo tecido ósseo, mas que serão neces-
dificação dá-se a temperaturas de até 70 °C, e sários estudos aleatorizados e controlados
Aebi, et al. demonstraram que essas temperatu- para poder ser aconselhado o uso rotineiro
ras são suficientes para causar necrose intraver- do CaP.
tebral, mas que as temperaturas atingidas nas Maestretti , no seu estudo de 2006, pros-
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estruturas circundantes, como os discos e os pectivo de série de casos, investigou o resul-
pratos vertebrais, são mais baixas e por isso tado clínico e radiológico de cifoplastia com
dificilmente condicionarão lesões térmicas. No fosfato de cálcio em fracturas traumáticas.
entanto, ocorre extravasamento de cimento em Sabe-se que 90% das fracturas vertebrais trau-
cerca de 5-10% das cifoplastias, pelo que a máticas ocorrem na região toracolombar, e
possibilidade de lesão térmica das estruturas 66% delas são fracturas/compressão de tipo A
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neurológicas deve ser tida em consideração . (A1 – 35, A2 – 3,5, A3 – 27,5%) da classifica-
Por esta razão, alguns autores advogam a utili- ção de Magerl. As fracturas tipo A envolvem
zação de cimentos de fosfato de cálcio (CaP), principalmente o corpo vertebral, estando a
que solidificam por cristalização à temperatura coluna posterior íntegra ou minimamente lesa-
corporal, evitam lesão térmica e além disso, ao da. Embora este seja um tipo de fractura muito
contrário do PMMA que não é biodegradável, comum, não existe consenso sobre tratamento
o CaP é reabsorvido pelos osteoclastos no te- standard. Falência da estabilidade após fixa-
cido ósseo. Outros autores têm levantado pre- ção transpedicular e mais especificamente
ocupações sobre a libertação de monómeros após remoção do material de artrodese ou após
citotóxicos pelo PMMA, provocando inibição da tratamento conservador devem-se possivelmen-
perfusão óssea e remodelação, bem como au- te a lesões do disco, com degenerescência pos-
mento da produção de factor de necrose tumo- terior do mesmo e diminuição do suporte da
ral com consequente aumento da reabsorção coluna anterior. O restauro da altura do corpo
óssea sistémica 33-36 . Estes factos revestem-se vertebral e preservação dos pratos vertebrais
de particular interesse no doente jovem, já que pode prevenir o risco secundário de deformida-
o PMMA se irá manter dentro do corpo vertebral de cifótica e diminuir o risco de dor crónica. Este
durante muitos anos. Contrariamente, não exis- estudo teve um follow-up médio de 30 meses.
tem evidências desta toxicidade com o CaP, Obtiveram correcção da cifose de 17 para 6°
pelo que este cimento se torna a opção apa- com ligeira perda às 24 h. O score VAS diminuiu
rentemente mais apropriada para doentes jo- de 8,7 para 3,1 aos 7 dias, e 0,8 no final do
vens. Apesar destes argumentos favoráveis, tem follow-up. Resultados similares foram encon-
havido preocupação crescente com reabsorção trados na avaliação de incapacidade (escala
acelerada do CaP, levando a falência do cimen- Roland-Morris). A taxa de reabsorção de ci-
to, desestabilização vertebral e re-fractura, se- mento a 1 ano foi de 20,3%. Todos os doentes
gundo alguns case reports. Alguns cimentos sem outras patologias associadas tiveram alta
recentes desenvolvidos, como o calcibon, pare- às 48 h e todos os doentes activos retomaram
cem ser apropriados para realização de cifo- o trabalho aos 3 meses com a mesma capaci-
plastia. Estudos recentes em modelos animais dade funcional prévia ao acidente. Concluíram
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DOR descrevem que o CaP permite crescimento ós- que esta técnica é uma potencial alternativa
seo directamente na superfície dos implantes, e
minimamente invasiva para redução de fractu-
36 que aos 12 meses existiam depósitos ósseos ao ras, mas que atendendo às características do