Page 34 Volume 17 - N.4 - 2009
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R. Pestana, et al.: Cifoplastia no Tratamento da Dor
da dor e melhoria neurológica aos 6 meses em corpo vertebral ou os balões atingirem o seu
seis doentes em que utilizaram a cifoplastia volume ou resistência a pressão máximos. É
isolada e em conjugação com cirurgia e abla- necessário evitar nesta fase a disrupção da
ção com etanol. Os autores sugeriram que a cortical dos pratos vertebrais e muro anterior e
cifoplastia pode ser utilizada não apenas em posterior, de forma a reduzir o risco de extra-
hemangiomas dolorosos mas também em do- vazamento de cimento. Os balões são então
entes com compromisso neurológico com desinsuflados e as cavidades criadas no corpo
bom resultado. A cifoplastia percutânea tem vertebral preenchidas com cimento, tipica-
vários benefícios em relação à vertebroplas- mente polimetilmetacrilato (PMMA) contrasta-
tia, incluindo redução do risco de extravasa- do, a baixa pressão, utilizando cânulas pró-
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mento de cimento (maior complicação), des- prias para o efeito . A injecção do cimento
crito como cerca de 65% na vertebroplastia e deve ser suspensa logo que se observe fuga
apenas 10% na cifoplastia. Teoricamente isto para o disco, tecidos paravertebrais ou espa-
levará a menores complicações do que a ver- ço epidural , podendo provocar compressão
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tebroplastia. das estruturas neurológicas ou embolia veno-
Os hemangiomas são habitualmente lesões sa. Nas situações de preocupação com extra-
intra-ósseas, mas também podem causar FCV. vasamento venoso ou transcortical, pode-se
Por isso, o benefício adicional da cifoplastia no mudar a posição do trocar ou injectar o cimen-
restauro da altura do corpo vertebral relativa- to em fase mais sólida. A injecção do cimento
mente à vertebroplastia sugere que a cifo- deve ser realizada sob controlo de fluorosco-
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plastia poderá tratar os dois mecanismos de pia contínua .
dor, o hemangioma propriamente dito e a FCV.
Adicionalmente, os tratamentos adjuvantes
como radioterapia e terapêutica lítica pode- complicações
rão ser utilizados conjuntamente. Apesar de As complicações mais frequentes da cifoplas-
promissora, a utilização da cifoplastia no tra- tia são extravasamento de cimento e novas frac-
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tamento dos hemangiomas vertebrais neces- turas . O extravasamento de cimento, para além
sita de mais estudos que suportem o seu uso dos limites do corpo vertebral, é uma complica-
rotineiro. ção comum tanto na vertebroplastia como na
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cifoplastia . Mais frequentemente envolve o es-
paço discal, espaço pré-vertebral através de
aspectos técnicos fissuras no corpo vertebral e espaço perirradi-
A cifoplastia pode ser realizada sob anestesia cular. Normalmente é clinicamente assintomáti-
local ou geral, com controlo de fluoroscopia. Um ca, mas pode provocar défices neurológicos,
ou mais níveis podem ser tratados na mesma sobretudo se houver fuga de cimento para o
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sessão . A vértebra fracturada é abordada por canal raquidiano . Em um estudo de revisão de
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uma pequena incisão na região dorsal ou lom- cifoplastia em FCV osteoporóticas com 360 pro-
bar, seguindo-se a introdução de trocar com drill cedimentos em 222 doentes, tiveram 38 fugas
manual, por via transpedicular, utilizado para de cimento (11%), mas apenas um caso de ra-
criar um canal de trabalho por onde se inserem diculopatia, melhorada com bloqueio selectivo e
um ou dois balões insufláveis no espaço medu- fisioterapia. Noutro estudo com 192 procedimen-
lar do corpo vertebral (habitualmente dois, um tos em 102 doentes, foi registado extravasamen-
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através de cada pedículo) . A fluoroscopia é to de cimento em 7%, todos assintomáticos .
fundamental para a correcta introdução do tro- Também nas fracturas osteolíticas a globalida-
car, com o objectivo de posicioná-lo na região de dos estudos da revisão efectuada por Bou-
anterointerna do corpo vertebral. Os resultados za abordam este ponto. Em média houve
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de estudos biomecânicos clínicos e em cadáver fuga de cimento em 6% dos procedimentos de
sugerem que a abordagem transpedicular unila- cifoplastia. Nos estudos prospectivos a per-
teral pode ser tão eficaz como a bilateral. Para centagem parece ser superior. Não encontra-
este tipo de acesso transpedicular é necessário ram relação entre percentagem de fuga e tipo
que os pedículos tenham pelo menos 4-5 mm de tumor (mieloma múltiplo vs metástase) ou
de largura. Em pedículos de menores dimen- idade da fractura. No estudo de Fourney ,
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sões, como frequentemente em níveis superio- comparando esta complicação entre vertebro-
res a D8, uma trajectória mais lateral extrape- plastia e cifoplastia, verifica-se 9% de fugas as-
dicular pode ser utilizada. Após colocação dos sintomáticas na vertebroplastia e nenhuma na
trocares, muitos autores preconizam a realiza- cifoplastia, e no estudo de Kose não se verifi-
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ção de venografia antes da injecção do cimen- caram fugas em nenhum dos procedimentos.
to, por forma a evitar embolia venosa, enquan- Quanto à incidência de novas fracturas (adja-
to outros consideram que esta manobra não centes ou à distância), num estudo não aleato-
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minimiza complicações . Segue-se o enchimen- rizado com grupo controle que comparava cifo-
to dos balões com produto de contraste para plastia com tratamento médico standard para DOR
visualização radiológica e a sua progressiva e FCV osteoporóticas, o grupo com intervenção
lenta insuflação, até restaurar a altura normal do apresentou 18% de novas fracturas contra 50% 33