Page 36 Volume 17 - N.4 - 2009
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R. Pestana, et al.: Cifoplastia no Tratamento da Dor
dos dois procedimentos no tratamento de FCV O restauro da altura do corpo vertebral tem
osteoporóticas sintomáticas resistentes ao trata- o potencial de reduzir a cifose pós-fractura e
mento médico convencional. Embora exista uma possivelmente diminuir a incidência de fractu-
boa razão risco/benefício para os dois procedi- ras adjacentes. Em estudos biomecânicos, tan-
mentos, a cifoplastia apresenta melhor perfil de to a cifoplastia como a vertebroplastia restauram
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segurança . a resistência do corpo vertebral, no entanto ape-
nas a cifoplastia consegue restaurar a altura do
Fracturas osteolíticas corpo vertebral e, consequentemente, o alinha-
Vários estudos publicados na literatura de- mento sagital. No entanto, uma redução esta-
monstraram redução na intensidade da dor após tisticamente significativa de fracturas adjacentes
cifoplastia e que esse efeito se mantinha duran- não está ainda consistentemente demonstrada,
te o período de seguimento . O estudo de Four- nem tão pouco a superioridade da cifoplastia
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ney mostrou que tanto a cifoplastia como a em relação à vertebroplastia neste campo.
vertebroplastia eram eficazes no tratamento da Existem várias explicações para as fracturas
dor em grau semelhante e em elevado número adjacentes após tratamento de uma FCV com
de doentes. O estudo de Kose demonstrou cimento. A rigidez do cimento pode teorica-
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que embora a cifoplastia e a vertebroplastia me- mente induzir alterações degenerativas no
lhorem a dor, a cifoplastia consegue maior con- osso adjacente e torna a vértebra tratada mui-
trole da dor aos 6 e 12 meses. to mais resistente do que a adjacente. O estu-
do biomecânico de Baroud demonstrou que
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o cimento actua como um pilar reduzindo a
Fracturas adjacentes deformação fisiológica dos pratos vertebrais
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Lindsay, et al. tentaram definir a história na- em carga, resultando aumento da pressão in-
tural das FCV, utilizando populações controle tradiscal adjacente de 19%. Os autores colo-
medicadas com placebo de três grandes en- cam como hipótese que este fenómeno seja
saios farmacêuticos de medicação para osteo- um dos responsáveis por fracturas adjacentes.
porose e revendo a incidência de novas fractu- Concluem que a terapêutica antiosteoporótica
ras osteoporóticas vertebrais. Através de é essencial e a mais eficaz na redução da
comparação de radiografias simples seriadas, incidência de novas fracturas, existindo evi-
documentaram que a incidência anual de FCV dência insuficiente para concluir que a cifo-
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em mulheres pós-menopausa sem fracturas an- plastia também o faça. Korovessis, et al. reali-
teriores era de 3,6%. Este valor subia para 19,2% zaram estudo prospectivo em 27 adultos
se existisse 1 FCV nas radiografias iniciais, e submetidos e cifoplastia para FCV osteoporóti-
para 24% se existissem dois ou mais FCV no cas com o objectivo de analisar a densidade
estudo radiológico inicial. mineral óssea (DMO) nesse nível e vértebras
A deformidade cifótica secundária a FCV adjacentes e sua relação com etiologia de no-
aumenta o stress anterior nos níveis verte- vas fracturas. Trataram um total de 48 FCV, sen-
brais adjacentes ao modificar a carga biome- do a um nível em 13 doentes e dois ou três nos
cânica ao longo da coluna. Deste modo uma restantes 14. Não encontraram alterações sig-
fractura vertebral tem um risco aumentado de nificativas no balanço sagital pós-operatório
fracturas subsequentes nos níveis adjacen- ou altura posterior do corpo vertebral, no en-
tes. Por esta razão a cifoplastia foi introduzi- tanto na porção anterior este aumento foi sig-
da como tratamento potencial mais eficaz do nificativo. A densidade mineral óssea aumentou
que a vertebroplastia já que permite restaurar significativamente no prato vertebral inferior da
a porção anterior da vértebra e o balanço vértebra tratada. Quando apenas um nível foi
biomecânico vertebral. Presume-se assim tratado não se verificaram alterações da DMO
que o tratamento de FCV com cifoplastia re- das vértebras supra- ou infra-adjacente, mas
duz a incidência de fracturas nos níveis ad- após cifoplastias a vários níveis houve signifi-
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jacentes . O artigo de revisão de Campbell cativa redução da densidade óssea no prato
estudou a incidência de fracturas adjacentes superior da vértebra supra-adjacente. Durante
após cifoplastia. A incidência de novas fracturas os 2 anos de seguimento houve 18% de novas
variou entre 12,4-21,6%, sendo cerca de 66% no fracturas, sendo todas em doentes tratados a
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nível adjacente ao tratado. Harrop, et al. tra- dois ou três níveis. Concluíram, por isso, que
taram 225 fracturas em 115 doentes e um total estas alterações da densidade óssea poderão ser
de 26 doentes tiveram 34 novas fracturas. Nes- consequência da cifoplastia, mas são necessários
te estudo a incidência de novas fracturas foi de estudos controlados com maior follow-up para
11,25% em doentes com osteoporose primária determinar se não se trata apenas da história
e 48,6% em doentes com osteoporose secun- natural.
dária a corticoterapia. Hulme, et al. fizeram
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uma revisão de 12 estudos com dados sobre
fracturas e obtiveram 115 novas fracturas em cifoplastia profiláctica DOR
766 doentes tratados (15%), com 66% destas A vertebroplastia e cifoplastia estão associa-
localizadas nos níveis adjacentes. das a um risco de novas fracturas vertebrais de 35
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