Page 8 Volume 17 - N.4 - 2009
P. 8
A. Teixeira, M.E. Sluijter: A Radiofrequência no Tratamento da Dor: Estado da Arte e Novos Horizontes
da ocorrência de fenómenos inconsistentes. Por proporcional à impedância dos tecidos e à den-
exemplo em pacientes submetidos a lesões do sidade da corrente.
6
Gânglio da raiz dorsal (GRD), verificava-se ao fim Durante a aplicação de RFP, Cosman , utili-
de algumas semanas, uma recuperação do dé- zando um termocouple com tempo de resposta
fice sensorial transitório nos dermátomos corres- adequado, demonstrou a produção de picos tér-
pondentes, sem perda do efeito analgésico. Esta micos que atingem temperaturas neurodestruti-
inconsistência podia ser explicada por uma ac- vas, com a duração de 200 mseg. Foi estimado
ção selectiva nas fibras C, mas estudos de pa- que os picos térmicos, nos parâmetros mais uti-
2
tologia não corroboraram este efeito selectivo . lizados na clínica, podem ter uma acção neuro-
Em 1997, Slappendel comparou os resultados destrutiva nos primeiros 0,1 mm adjacentes ao
clínicos de lesões de RF ao GRD cervical a eléctrodo. Ambas as modalidades produzem
o
40 e 67 C e não encontrou diferenças nos pois temperaturas acima do limiar dos 45 C,
o
mesmos, o que reforçou a tese de que o efeito mas com escalas espaciotemporais muito dis-
3
térmico não era responsável pela analgesia . tintas.
Duas modalidades de RF são utilizadas na O valor do campo eléctrico à volta do eléctro-
prática clínica: a RFC, em que a corrente é apli- do tem um valor elevado , sendo mais intenso
5
cada de modo contínuo, que é uma técnica neu- na ponta do que na porção cilíndrica e decaindo
rodestrutiva; e a RFP, em que o fluxo da corren- muito rapidamente com a distância, sendo esta
te é periodicamente interrompido, permitindo diminuição mais acentuada na ponta. Os valores
tempo suficiente para que o calor gerado seja foram calculados por Cosman, num modelo físi-
dissipado pela condutividade térmica e pela cir- co, em que comparou os efeitos de RFP a 45 V
culação e sem que a voltagem tenha de ser com RFC a 13 V. Com a RFP, os valores foram
reduzida para manter a temperatura do eléctro- 200 KV/m na ponta e 45 KV/m na parte cilíndrica,
do inferior a 43 C, abaixo do limiar térmico de à superfície do eléctrodo, e de respectivamente
o
lesão neuronal irreversível de 45 C. De estudos 10 KV/m e 20 KV/m a 1 mm de distância, e com
o
de previsão em computador resultaram os pa- a RFC de 19 KV/m à superfície do eléctrodo e
râmetros iniciais a aplicar, consistindo de uma 2,5 KV/m a 1 mm de distância. Campos eléctri-
voltagem de 45 V e dois ciclos activos/seg de cos desta magnitude causam variações do po-
20 mseg cada com 480 mseg de pausa entre tencial de membrana de que resultam efeitos
ciclos. Esta é uma técnica clinicamente não des- biológicos significativos, cuja sequência vai da
trutiva . disfunção de canais iónicos, à electroporose re-
4
A RFC é efectuada em duas variantes. Numa versível (formação de poros na membrana com
o objectivo da lesão é a neurodestruição térmica um dramático aumento na condutividade da
do alvo neural. É um procedimento de desner- membrana), à electroporose irreversível, à rup-
vação em que a temperatura das lesões é de tura da membrana e à morte celular. Um dos
o
80-90 C. Na outra, o objectivo é uma interrup- efeitos propostos, resultante da variação do po-
ção selectiva da nocicepção que consiga evitar tencial de membrana, é a depressão sináptica
défices motores e sensoriais e fenómenos de de longa duração.
neurite e utiliza temperaturas de lesão mais bai- O campo eléctrico originado por correntes de
xas de 67-75 C. RF com 500 kHz tem também a capacidade de
o
penetrar os corpos celulares e as fibras. A pe-
netração depende, entre outros factores, do raio
Efeitos electrofísicos destas e do isolamento de mielina. O valor esti-
Da aplicação da corrente de RF, resulta a for- mado do campo eléctrico intracelular nas fibras δ,
mação de um campo magnético e de um campo na região dos nodos de Ranvier é quatro vezes
eléctrico. superior ao do interior das fibras C e 100 ve-
A força do campo magnético à volta do eléc- zes inferior onde existe cobertura de mielina.
trodo foi estimada em 0,6 Gauss, esta grandeza Os efeitos biológicos destes campos eléctricos
é da ordem do campo magnético terrestre e não de penetração não são conhecidos.
há evidência que tenha efeitos biológicos signi- A densidade da corrente na superfície do
ficativos. eléctrodo foi estimada, e é superior em vários
2
O campo eléctrico gerado pela RF está em graus de magnitude à densidade de 10 A/m
constante variação e as partículas num campo das correntes que ocorrem naturalmente nas cé-
eléctrico não-uniforme são submetidas a uma lulas nervosas. Para um eléctrodo com um raio
força, a força dielectroforética, que medeia os de 0,5 mm e 4 mm de ponta activa, o valor é de
3
5
2
efeitos biológicos dos campos eléctricos e que 10 -10 A/m .Os efeitos biológicos destas eleva-
depende das propriedades das partículas, do das densidades de corrente também não são
meio onde se encontram e da frequência da actualmente conhecidos.
corrente RF . O campo eléctrico causa efeitos As lesões de RFC têm um componente térmi-
5
térmicos e não-térmicos. co destrutivo dominante, mas não está elucida-
O efeito térmico é causado pela oscilação de do o contributo dos efeitos não-térmicos do DOR
iões nos electrólitos tecidulares. Da fricção in- campo eléctrico na sua acção e não se poden-
teriónica resulta a produção de calor que é do atribuir os seus efeitos apenas ao calor. 7