Page 12 Volume 19 - N2 - 2011
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Dor (2011) 19
O placebo na Dor
© Permanyer Portugal 2011
Luísa Carvalho
Resumo
Nos dias de hoje considera-se placebo uma substância inactiva que é utilizada como se fosse uma dose
efectiva de um medicamento, ou uma intervenção clínica tal como palavras, gestos, dispositivos ou mesmo
cirurgia.
O efeito placebo traduz-se em qualquer alteração física ou emocional que ocorre após a toma ou administração
de uma substância (ou intervenção) e que não resulta de alguma propriedade sua específica. O efeito do
placebo depende da via de administração (ev., im., p.o., etc.). O tempo de latência é curto e tem efeito geralmente
mais rápido do que o do medicamento, com um pico de actividade máxima mais precoce. Podemos constatar
uma relação entre a dose e o efeito, sendo o efeito mantido por algum tempo.
Nos ensaios clínicos aleatorizados considera-se muitas vezes como efeito placebo outros aspectos com ele
não relacionados, tais como a história natural da doença, as flutuações sintomáticas, a regressão à média,
o efeito Hawthorne, o viés da análise, intervenções paralelas e os falsos positivos.
No verdadeiro efeito placebo entram dois mecanismos essenciais: o condicionamento clássico e a expectativa
consciente do paciente. É através destes dois sistemas que a maioria dos circuitos neuronais se processa
a nível cerebral para originar o efeito placebo.
As novas técnicas de imagiologia cerebral têm fornecido informação essencial para se aprofundar o
conhecimento das interacções entre o corpo, a mente e o ambiente.
O caminho percorrido no esclarecimento do funcionamento do placebo leva-nos à conclusão que qualquer
tratamento (físico, farmacológico ou psicológico) pode ter eventualmente um efeito duplo: o relacionado com
a intervenção e outro inerente à percepção do tratamento que é recebido.
Na prática clínica a utilização do efeito placebo ainda não está suficientemente estudada, carecendo de mais
investigação. Vários aspectos éticos prendem-se com a sua utilização nomeadamente com a decepção consciente
do paciente. No entanto, é eticamente aceitável a promoção de um ambiente de consulta que diminua a ansiedade
e aumente as expectativas positivas dentro de uma abordagem honesta dos benefícios esperados de uma
intervenção clínica. A utilização de um tratamento com o objectivo primário de utilização do efeito placebo
é uma questão polémica e controversa, cabendo à sociedade médica e civil a sua discussão. Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação
Palavras-chave: Dor. Placebo. Prática médica. Investigação.
Abstract
Nowadays we consider a placebo an inactive substance, used as an effective dose of a medical substance
or a clinical intervention such as words, gestures, devices or even surgery procedures.
The placebo effect results in any physical or emotional event that happens after the administration of a drug
(or intervention) that is not caused by its own proprieties. The placebo effect depends on the administration
route (iv., im., p.o., etc.). It has a faster onset of action than the comparator drug, with a precoce maximal
activity. We can observe a relationship between the dose and the effect, and the effect keeps for awhile.
In randomized clinical essays there is often some aspects beyond the placebo effect that are wrongly associated
at it, such as the natural history of disease, the symptomatic fluctuations, the regression to the mean, the
Hawthorne effect, the parallel interventions, the false positive results and some research biases.
In the true placebo effect there are two main mechanisms of action: the classic conditioning and the conscientious
patient expectative. Between these two systems most of the neuronal circuits at brain level balance to build
the placebo effect.
Brand new brain image techniques have offered new and essential information deepening the knowledge
about the interaction among the body, the mind and the environment.
Assistente de Medicina Geral e Familiar DOR
UCSP Gerações, CS Benfica, ARS LVT
E-mail: dra.luisa@netcabo.pt 11