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Dor (2014) 22

Dor no Doente Queimado



Ana Lúcia Nobre, Alexandra Amaral e Luiz Tornesi







Resumo
O tratamento da dor no doente queimado continua a ser insuficiente, diminuindo a adesão aos procedimentos
terapêuticos, aumentando o stress e contribuindo para patologias a longo prazo.
No doente queimado, a dor surge em diversas situações e não depende apenas dos aspetos relacionados
com a queimadura, mas também do stress e ansiedade, sendo igualmente importante prevenir e tratar
estes aspetos.
O tratamento da dor é complexo e diferente nas várias fases até à recuperação. A terapêutica multimodal
e abordagem multidisciplinar são fundamentais para um tratamento adequado e eficaz da dor no doente
queimado.

Palavras-chave: Queimado. Dor Basal. Dor Incidental. Dor nos procedimentos. Dor da regeneração. Analgesia
multimodal. Opióides.


Abstract
The treatment of pain in burn patients remains inadequate, reducing adherence to therapeutic procedures,
increasing stress, and contributing to long-term pathologies.
In the burn patient, pain arises in various situations and depends not only on aspects related to the burn,
but also on stress and anxiety, and it is extremely important to prevent and treat these characteristics.
The treatment of pain is complex and different during the various stages of recovery of the burn patient.
Multimodal therapy and a multidisciplinary approach are essential features for the appropriate and effective
treatment of pain in burn patients. (Dor. 2014;22(1):23-6)
Corresponding author: Ana Lúcia Nobre, ana_lucia_nobre@hotmail.com
Key words: Burn patient. Basal pain. Incidental pain. Procedural pain. Pain of regeneration. Multimodal
analgesia. Opioids.





Introdução Queimaduras – Classificação
Apesar de a dor no doente queimado estar As queimaduras são classificadas de acordo
descrita como um problema clínico importante com a extensão e profundidade do tecido le-
há mais de duas décadas, o seu tratamento sado . De acordo com a profundidade, estas
2,3
continua a ser insuficiente 1,2,4 . Isto acontece, podem ser divididas em graus: 1º grau, em
pois a dor aguda no doente queimado é com- que a queimadura apenas atinge a epiderme;
plexa (a dor e as necessidades psicológicas do 2º grau, em que ocorre queimadura total da epi-
doente evoluem ao longo do tempo) e existe igual- derme e parcial da derme e 3º grau, em que há
mente alguma falta de formação dos profissionais atingimento total da epiderme e derme, e possi-
4
2-7
de saúde sobre como atuar nesta situação . velmente outros tecidos (músculos, ligamentos) .
O tratamento insuficiente da dor no doente quei- As queimaduras de 2º grau dividem-se ainda em
mado é uma questão importante, pois diminui a queimaduras de 2º grau superficial, em que
adesão do doente aos procedimentos terapêuti- ocorre lesão da epiderme e de pequena porção
cos, aumenta o stress e contribui para patolo- da derme, e de 2º grau profundo, em que existe
gias a longo prazo, como dor crónica, stress lesão da epiderme e de mais de metade da
1-4
pós-traumático, depressão e delírio . derme. No que diz respeito à extensão da quei-
madura, esta é classificada em termos de percen-
tagem de superfície corporal queimada, admitin-
do-se que, no adulto, cada extremidade superior
Serviço de Anestesiologia e cabeça representam 9% da superfície corporal,
Centro Hospitalar de Lisboa Central DOR
Lisboa, Portugal a face anterior do tronco, face posterior do tronco
E-mail: ana_lucia_nobre@hotmail.com e cada extremidade inferior correspondem a 23
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