Page 34 Volume 23 - N4 - 2015
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D. Chieira, et al.: Suspeita de Fístula Cutânea de Líquido Cefalorraquídeo após Técnica Epidural


Case report: A 30-year-old pregnant woman was submitted to epidural analgesia for labor. A catheter was
placed with single puncture and analgesia was started with ropivacaine 0.2% with clinical success. Twenty
hours after the epidural procedure, continuously discharging fluid from the puncture site was detected. The
puerpera presented with nausea and dizziness without headache or meningeal signs. Liquid was sent for
analysis: glucose 187 mg/dl, proteins 217 mg/dl, chloride 104 mmol/l. Capillary glycemia: 75 mg/dl. These
values confirmed that fluid was interstitial and excludes cerebrospinal fluid fistula. The puerpera remained
asymptomatic and fluid drainage ceased spontaneously after three days.
Discussion: An epidural procedure was performed with a single puncture and drainage occurred with cathe-
ter still in the epidural space and not after its removal, which is more common in the literature. There are
case reports of asymptomatic fistulas and therefore they should not be excluded based only on clinical symp-
toms. Diagnosis requires simple fluid analyses. β2-transferrin and specific acetylcholinesterase can be analyzed, © Permanyer Portugal 2016
and imaging exams can also be used in the diagnosis. There is no standard treatment. Conservative measures
are recommended. Epidural blood patch is another option. Surgical treatment is the last choice.
Conclusions: Cerebrospinal fluid fistula is a rare complication of neuraxial anesthetic techniques, but poten-
tially fatal, so the diagnosis and treatment must be promptly made. (Dor. 2015;23(4):32-6)

Corresponding author: Diana Chieira, dianadcostac@hotmail.com
Key words: Cerebrospinal fluid. Cutaneous fistulas. Epidural analgesia.




Introdução e objetivos com perfusão de ropivacaína 0,2% com eficácia
As fístulas cutâneas de líquido cefalorraquí- clínica.
deo (LCR) são complicações raras de procedi- 4 h após ter sido iniciada a analgesia epidural,
mentos que abordam o neuroeixo, mas que po- a grávida foi submetida a cesariana urgente por
dem estar associadas a complicações graves estado fetal não tranquilizador. Este procedimen-
como cefaleias persistentes e incapacitantes e to decorreu sem intercorrências sob anestesia
meningite . Os autores pretendem descrever um epidural com ropivacaína a 0,75% (75 mg).
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caso de suspeita de fístula cutânea de LCR, O cateter epidural também foi utilizado para
após a realização de analgesia epidural para analgesia do pós-operatório (morfina 2 mg de
trabalho de parto e respetiva conduta diagnós- 12-12 h).
tica e terapêutica. Cerca de 20 h após cesariana (24 h após
Existem poucos casos descritos na literatura colocação de cateter epidural), o anestesiologis-
sobre fístulas de LCR após abordagem do neu- ta foi chamado para avaliar drenagem de líquido Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
roeixo 2,3 Como tal, os autores fazem uma revisão no local da punção do cateter epidural. A puér-
.
da literatura sobre os métodos de diagnóstico e pera apresentava queixas de tonturas e náu-
terapêuticas recomendadas para este tipo de seas, sem cefaleias, desde o momento do pri-
situação clínica. meiro levante. Ao exame objetivo, verificou-se
edema marcado da região dorso-lombar, apire-
xia e ausência de sinais meníngeos.
Relato de caso A observação do penso do cateter revelou
O caso clínico descrito é de uma mulher de marcada exsudação de líquido transparente,
30 anos, primípara, com obesidade de grau I discretamente hemorrágico, pelo orifício de in-
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(Índice de Massa Corporal 32 kg/m ) e pré- serção do cateter (e não através do mesmo).
-eclâmpsia, submetida a analgesia epidural para (Fig. 1)
trabalho de parto induzido (por restrição de Foi colocada a hipótese de fístula cutânea
crescimento intrauterino). de LCR, pelo que foi colhido líquido para aná-
A grávida apresentava contrações prematuras lise que revelou glicose 187 mg/dl; proteínas
desde as 22 semanas de gestação e perfil ten- 217 mg/dl e cloro 104 mmol/l. Foi realizada uma
sional de difícil controlo. Estava medicada com glicémia capilar: 75 mg/dl. (Fig. 2 e Quadro 1).
ácido acetilsalicílico, magnésio, progesterona e A puérpera foi aconselhada a manter repouso
nifedipina. Apresentava edemas generalizados, no leito, decúbito dorsal e a aumentar a in-
sobretudo nos membros inferiores e região lom- gestão de líquidos por via oral. Optou-se por
bar (sinal de Godet+++). retirar o cateter epidural que decorreu sem in-
O anestesiologista procedeu à colocação de tercorrências.
cateter epidural, por via mediana, no espaço Perante os resultados analíticos obtidos, a au-
L3-L4 utilizando uma agulha Tuohy 18 Gauge, e sência de sintomas da puérpera e o edema na
utilizou a técnica de perda de resistência com região lombar, confirmou-se que a drenagem
ar. O cateter foi colocado após punção única. era de líquido intersticial e excluiu-se a possibi- DOR
Depois da administração de dose teste com li- lidade de fístula de LCR. Não foram pedidos
docaína a 2% (40 mg), a analgesia foi iniciada mais exames analíticos ou imagiológicos. 33
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