Page 32 Volume 23 - N4 - 2015
P. 32
F. Antunes, et al.: Dor (Lombar) Crónica, Função e Qualidade de Vida. Uma Proposta de Consenso em Unidade de Dor
VI encontro nacional das unidades de dor. Este fase posterior, foram apresentados e discutidos
encontro visou congregar o maior número de publicamente entre elementos de diferentes UD
profissionais e saberes, de modo a estabelecer do país, sendo este texto o corolário de todo
consensos e linhas de orientação na abordagem este trabalho.
da dor crónica. Foram estabelecidos grupos de
trabalho para discussão de diferentes assuntos, Recomendações apresentadas
cabendo a estes (instrumentos métricos na DLC) Como conclusão e em jeito de proposta/su-
como pressupostos, sugerir: gestão de intervenção clínica, propõe-se a utili-
– A utilização de escalas funcionais/algo-fun- zação do «Questionário de incapacidade de
cionais na avaliação de utentes com lom- Roland Morris» (autores da versão portuguesa:
balgia, por ser uma das patologias mais Joaquim Monteiro, Luis Faísca, Odete Nunes e João
prevalentes de dor crónica. Hipólito. Ata médica portuguesa 2010;23:761-766) © Permanyer Portugal 2016
– A utilização de escalas de avaliação do es- e do «Índice de Oswestry sobre Incapacidade»,
tado de saúde/QV do doente, generalistas versão 2.0 (autores da versão portuguesa: Na-
e pouco complexas, que pudessem ser tália Martins, Cristina Patrício, Virgínia Pereira e
aplicadas como rotina nas UD. Luís Brás. Repositório de instrumentos de medi-
ção e avaliação em saúde da universidade de
Discussão Coimbra) para a avaliação funcional dos utentes
A dor lombar é uma das causas mais fre- com dor lombar.
quentes de dor nos países ocidentais. Afeta Nos instrumentos de avaliação de estado de
todos os grupos etários com especial incidên- saúde/qualidade de vida, recomenda-se a utili-
cia entre os 40-60 anos, tendo uma prevalência zação da versão portuguesa do «Brief Pain In-
anual de cerca de 30%. ventory – inventário resumido da dor – formulário
De acordo com os estudos mais recentes de abreviado» – (Tradução, adaptação cultural e
dor em Portugal, cerca de 31% da população estudo multicêntrico de validação de instrumen-
portuguesa sofre de dor crónica e, em 14,3%, tos para rastreio e avaliação do impacto da dor
ela é classificada como moderada a forte. A crónica Luís Filipe Azevedo, Altamiro Costa Pe-
6
,
localização mais frequente é a coluna lombar, e reira, Cláudia Dias, Luís Agualusa, Laurinda Le-
a patologia do foro músculo-esquelético é a mos, José Romão, Teresa Patto, Sílvia Vaz-Serra,
mais prevalente . Rosário Abrunhosa, Carlos Jorge Carvalho, Ma-
3
A DLC, entendida como síndroma disfuncio- ria Carlos Cativo, Duarte Correia, José Correia,
nal, repercute-se na globalidade do indivíduo Georgina Coucelo, Beatriz Craveiro Lopes, Ma-
com implicações a nível das suas capacidades ria do Céu Loureiro, Beatriz Silva e José M. Cas-
funcionais, causando limitações de atividade e tro-Lopes. Dor 2007;15 (4):6-39) e do «Questio-
de participação ativa na vida diária. nário de estado de saúde (SF-36v2)» (autores
O indivíduo caracteriza-se pelas atitudes e ati- da versão portuguesa, Pedro Lopes Ferreira. Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
vidades que executa, pelo que a funcionalidade Repositório de instrumentos de medição e ava-
acaba por ser em si própria, a definição do que liação em saúde da universidade de Coimbra).
realmente somos. As repercussões da dor na Esta proposta/recomendação não invalida a
função refletem-se no dia a dia e consubstan- utilização de outras escalas funcionais ou de ins-
ciam-se naquilo que chamamos de QV. trumentos que avaliam especificamente o de es-
Medir o grau de funcionalidade do individuo e tado de saúde e a QV. São o corolário de pes-
a sua QV são tarefas importantes nos prestado- quisa e discussão num grupo de trabalho
res de cuidados de saúde, particularmente na proposto pela direção da APED, visando a apli-
caracterização do estado de saúde, mas tam- cação regular e sistemática de instrumentos mé-
bém na objetivação de resultados de programas tricos objetivos e válidos (nos domínios da função
de cuidar e tratar. Não sendo uma tarefa fácil, e da QV) em doentes seguidos regularmente em
torna-se particularmente difícil e exigente no in- UD portuguesas, melhorando a qualidade de
dividuo com dor, dada a plêiade de repercus- prestação de cuidados e serviços.
sões que a DLC desencadeia a nível individual
e social. Bibliografia
Neste trabalho procuramos diversos instru- 1. A Gutenbrunner C, Ward A, Chamberlain, et al. White book on
mentos métricos, escalas/índices de avaliação Physical and Rehabilitation Medicine in Europe. J Rehabilitation
funcional e de QV, tendo em conta os pressu- Med. 2007;Jan;45:6-47.
postos enunciados. Tivemos em conta a adap- 2. Breivik AH, Collett B, Ventafridda V, Cohen R, Gallacher D. Survey
tação e validação para a população e língua of chronic pain in Europe: Prevalence, impact ondaily life, and treat-
ment. European Journal of Pain 10. 2006;287-333.
portuguesa (cultural e linguística na popula- 3. Azevedo LF, Costa-Pereira A, Mendonça L, Dias CC, Castro-
ção portuguesa), assim como os seus estudos Lopes JM. Epidemiology of Chronic Pain: A Population-Based
de reprodutibilidade, validade, sensibilidade e Nationwide Study on Its Prevalence, Characteristics and Associ-
ated Disability in Portugal. The Journal of Pain, Vol 13, No 8 (Au-
especificidade largamente documentados. Numa gust). 2012:pp 773-83.
DOR
31