Page 23 Opióides
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na redução da intensidade da dor («janela terapêutica» dos opióides). A
«janela terapêutica» dos opióides é reduzida, pelo que para obter um
controlo óptimo da dor com efeitos adversos mínimos, devem manter-
se concentrações plasmáticas ligeiramente superiores à CAME espe-
cífica de cada doente. Por estas razões, é necessário personalizar a
dose de opióide a administrar em cada doente de acordo com a res-
posta analgésica obtida. É fundamental que as concentrações plasmá-
ticas dos opióides sejam estáveis, evitando o aparecimento de varia-
ções bruscas, o que a acontecer, predispõe ao aparecimento de efeitos
secundários (com concentrações elevadas), e de dor (com concentra-
ções subterapêuticas).

Os opióides com uso na clínica podem ser divididos em quatro
grupos: os agonistas totais dos receptores µ, os agonistas parciais
dos receptores µ, os agonistas-antagonistas mistos e os antagonis-
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tas puros dos receptores µ .
O fármaco padrão dos opióides é a morfina, uma vez que é o mais
bem caracterizado farmacodinamicamente e farmacocineticamente.
É também um fármaco de baixo custo económico. Será em relação a
esta substância, que serão descritas algumas características farmacoló-
gicas dos opióides.

A morfina tem uma semi-vida de eliminação do plasma de 2 a
3,5 horas, e uma duração analgésica de 4 a 6 horas, pelo que o efeito
cumulativo é pequeno se não for administrada com intervalos de tempo
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inferiores a 4 horas . Induz analgesia reduzindo a libertação pré-sinápti-
ca do neurotransmissor e hiperpolarizando os neurónios do corno dorsal
a nível pós-sináptico, evitando assim a transmissão da nocicepção .
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É metabolizada através de um processo chamado glucoronidação rea-
lizada no fígado por um enzima intitulado uridina-difosfato-glucuronosil-
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transferase (UGT) . Os principais metabolitos são, a morfina-6-gluco-
ronido (M6G) e a morfina-3-glucoronido (M3G), que são eliminados
pelo rim. O primeiro é um potente analgésico com grande afinidade
para os receptores da morfina e com efeitos duradouros. Com uma
administração regular de morfina, os produtos metabólicos acumulam-
se resultando num reforço da analgesia. Essa é a razão pela qual uma
dose única de morfina por via oral pode não ter um efeito analgésico
suficiente, enquanto doses regulares resultam numa analgesia satisfa-
tória. A M3G, inicialmente considerada como um metabolito inactivo,
tem uma muito baixa afinidade para os receptores da morfina, e em
estudos animais verificou-se que pode ter uma acção antagonista do
efeito analgésico da morfina e do M6G (efeito paradoxal). Este meta-
bolito parece estar relacionado com certos sintomas neurotóxicos, tais


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