Page 139 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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Perguntas que deve colocar Como deve ser avaliada a dor?

a si próprio e respostas Devido à sua subjetividade complexa, a dor é difícil
de quantificar, dificultando assim o estabelecimento
prováveis de uma avaliação exata. No entanto, foram
desenvolvidas e normalizadas inúmeras ferramentas
de avaliação destinadas a identificar o tipo de dor, a
O que é a dor? quantificar a intensidade da dor e a avaliar o efeito e
A dor aguda resulta de danos nos tecidos, os quais medir o impacto psicológico da dor sentida por um
podem ser causados por infeção, lesão ou pela doente.
progressão de uma disfunção metabólica ou de uma Uma escala de dor pode ser unidimensional
doença degenerativa. A dor aguda tem tendência a ou multidimensional. No contexto de um
melhorar à medida que os tecidos se regeneram e traumatismo agudo/pré-operatório, quando a causa
responde bem aos analgésicos e outros tratamentos da dor é óbvia e se prevê que a dor seja resolvida
para a dor. Sabemos que a dor é uma sensação mais ou menos rapidamente, são recomendadas as
subjetiva, e por isso, foram concebidas várias escalas unidimensionais. Alguns exemplos:
ferramentas destinadas a avaliá-la de forma objetiva.  Escala Numérica (EN), na qual o doente
A dor apresenta várias dimensões possibilitando classifica a dor de 0 a 10, por ordem
diversas descrições das suas qualidades e a sua crescente de intensidade
perceção pode ser subjetivamente modificada por  Escala Visual Analógica (EVA), na qual o
experiências passadas. doente marca a intensidade da dor numa
A dor aguda provoca uma resposta de linha
stresse, que consiste no aumento da pressão arterial  Escala Verbal (EV)
e do ritmo cardíaco, resistência vascular sistémica,
disfunção da função imunológica e na libertação  Escalas ilustrativas, como a Escala de Faces
alterada de hormonas pituitárias, neuroendócrinas e da Dor, que consiste em desenhos de
outras. Esta resposta pode limitar a recuperação de expressões faciais. Este tipo de escala é útil
uma cirurgia ou lesão. Demonstrou-se que o em crianças, doentes com perturbações
adequado alívio ou prevenção da dor na sequência cognitivas e pessoas com barreiras
de uma cirurgia ortopédica melhoram os resultados linguísticas.
clínicos, aumentam a probabilidade de um regresso
aos níveis de atividade anteriores à lesão e previnem Embora a escala multidimensional da dor
o desenvolvimento da dor crónica. O tratamento tenha sido desenvolvida para a investigação da dor,
insuficiente da dor aguda pode causar um aumento pode ser adaptada para a utilização em clínica. Uma
da sensibilidade à dor em futuras ocorrências. versão adaptada do “ Brief Pain Inventory”
Além disso, as fontes da dor em contextos questiona os doentes relativamente à localização da
de traumatismo agudo e no pré-operatório são dor, à intensidade da mesma ao longo do tempo,
principalmente de origem somática e visceral aos tratamentos anteriores e ao efeito da dor sobre
profundas, tal como pode ocorrer em acidentes o humor, a função física e a capacidade de
rodoviários, quedas, ferimentos por bala ou desempenhar as várias funções do dia-a-dia.
apendicite aguda. A dor nos contextos de
traumatismo agudo e no pré-operatório é Existe uma obrigação de controlar a dor no
geralmente causada por uma combinação de vários contexto da dor aguda e no pré-operatório?
estímulos: mecânicos, térmicos e químicos. Estes A responsabilidade de controlar a dor de um doente
estímulos provocam a libertação de substâncias e de aliviar o sofrimento é a pedra angular da
nociceptivas, por ex. a histamina, a bradiquinina, a obrigação de um profissional de saúde. Os
serotonina e a substância P, que ativam os recetores benefícios para o doente incluem a redução do t
da dor (nociceptores) e iniciam os sinais da dor. internamento hospitalar, a mobilização precoce e a
diminuição dos custos hospitalares.






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