Page 303 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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tratadas com os medicamentos i.v. disponíveis, como morfina, Uma história diferente: as
cetamina ou tramadol, ou uma combinação deles, junto com
baixa dose de midazolam para evitar estresse pós-traumático, crianças também têm dor
mas não para analgesia. Assim que a dor aguda é aliviada, crônica?
pode-se iniciar medicação oral com 20 mg/kg de paracetamol.
A criança vai precisar de analgésicos para fisioterapia, troca
de curativos, ou até mesmo para a troca da roupa de cama. A Sim, elas têm, mas pouco se sabe sobre a
criança e seus pais devem ser preparados com uma explicação epidemiologia da dor crônica em crianças, mesmo
do que está sendo feito. A dor pode ser tratada com em países ricos. A dor crônica costuma ser
paracetamol ou cetamina oral (8-10 mg/kg) e cetamina i.v. observada na adolescência. Condições comuns são
(1 mg/kg). Se ela for para cirurgia, a infiltração local da cefaléia, dor abdominal, dor musculoesquelética, dor
área doadora com anestésicos locais ou um bloqueio regional de anemia falciforme, síndrome de dor regional
podem ser benéficos. complexa e dor neuropática pós-traumática ou pós-
operatória. Crianças com câncer ou AIDS têm
Qual o monitoramento vários níveis de dor à medida que a doença
progride. A dor recidivante se torna crônica devido
necessário para analgesia a tentativas mal-sucedidas de ajustar e enfrentar uma
no período pós-operatório? experiência incontrolável, assustadora e adversa. Ao
longo do tempo, é o peso dessa experiência que leva
os pacientes a desenvolver sintomas concomitantes
Deve haver medidas de ressuscitação ao pé do leito de incapacidade física crônica, ansiedade, distúrbios
para todos os pacientes recebendo infusões de do sono, ausência da escola e afastamento social. Os
opióides. O monitoramento e o registro rotineiros pais relatam estresse grave e papéis familiares
dos escores de dor, escores de sedação e frequência disfuncionais. Existe um maior elemento
respiratória são importantes em todas as condições psicológico na dor crônica do que na dor aguda,
de dor moderada a intensa, e para todos os assim como nos adultos.
pacientes recebendo infusão. Todas as crianças
recebendo opióides devem ser monitoradas com Como tratar a dor crônica
cuidado por pelo menos 24 horas, inclusive crianças
em ACP sem infusão de fundo. No caso de excesso em crianças?
de opióides, a sedação sempre vem antes da
depressão respiratória. Portanto, a observação do A avaliação da dor crônica deve estabelecer não
estado de alerta do paciente é a chave para um apenas o local, a gravidade e outras características da
monitoramento seguro. O monitoramento a cada 4 dor, mas também o impacto físico, emocional e
horas é considerado seguro para detectar aumento social da dor.
de sedação. Uma redução da frequência respiratória O tratamento deve incluir terapia específica dirigida
abaixo de 30% do valor basal em repouso também à causa da dor e aos sintomas associados, como
pode ser usada como parâmetro de alarme. A espasmos musculares, distúrbios do sono, ansiedade
saturação de oxigênio é um monitor melhor do que ou depressão. Analgésicos comuns, como AINEs e
frequência de apnéia/respiratória porque detecta opióides, podem ser usados na dor neuropática,
mais precocemente obstrução de vias aéreas, mas juntamente com antidepressivos e
para as situações normais e para pacientes fora da anticonvulsivantes. O tratamento farmacológico
unidade de terapia intensiva, não existe indicação de deve ser combinado com medidas de suporte e
que o controle regular da sedação seja inferior à modalidades integradas de tratamento não
oximetria de pulso. farmacológico, como massagem, acupuntura,
relaxamento e fisioterapia. Os métodos físicos
incluem um chamego ou abraço da família,
massagem, neuroestimulação elétrica, posição