Page 386 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos

uma morte prematura. Adicionalmente, problemas
de culpa podem levar a estresse psicológico por
tentar se culpar pela doença, por exemplo: “é minha
culpa que eu tenho um tumor porque eu fumava
demais”, ou “estou infetado pelo HIV devido à
minha vida sexual irresponsável”.
Consequências práticas
O aconselhamento adequado e o suporte emocional
devem ser integrados aos cuidados de saúde desses
pacientes. Uma boa comunicação e explicações
sobre as possibilidades terapêuticas existentes
podem reduzir o medo e o desamparo, e permitir
que os pacientes enfrentem melhor a doença e seus
desafios. Particularmente no Quênia, o apoio
religioso tem se mostrado útil.
Quais são as opções para a
dor crônica não oncológica?
Em termos de dor abdominal crônica, que é difícil
de ser localizada e administrada pelo paciente, e que
em geral se apresenta junto com ameaça de
incurabilidade e morte iminente. Em geral, os
médicos se perguntam, “Por que o paciente veio
aqui hoje?” As razões do paciente podem ser medo
de doença grave após mortes na família,
comorbidades psicológicas, sofrimento emocional
devido a abuso sexual, mas também problemas com
o contexto real da vida e estratégias ineficazes de
enfrentamento que podem levar ao aumento da dor.
Consequências práticas
Deve-se procurar os indicadores de estresse
mencionados acima que possam afetar o
desenvolvimento e a manutenção da dor.
Intervenções terapêuticas, inclusive uma boa
explicação sobre a doença, apoio psicológico
continuado, conselhos sobre dieta balanceada, etc.,
devem ser incluídos ao longo do tempo.
Como podemos abordar a
cefaleia crônica?
A maioria das cefaleias não têm causa orgânica. Em
geral, encontramos interações entre a cefaleia e
padrões musculares disfuncionais, como aumento
de tensão, que pode então se tornar o fator
desencadeante da cefaleia. Fatores de estresse social,
como excesso de demandas no trabalho ou
estratégias ineficazes para enfrentar o estresse
podem tornar as cefaleias intensas e crônicas.
Consequências práticas
O importante no tratamento das cefaleias é explicar
ao paciente que o estresse pode levar a um aumento
de intensidade e frequência da cefaleia. As
intervenções psicológicas mais importantes são
educação para enfrentar a dor e sobre a importância
da administração do estresse e a redução de
hiperatividade com aulas de terapia
comportamental, técnicas de relaxamento, etc.
O que pode ser usado para
lombalgia crônica?
Na maioria dos casos, a lombalgia crônica tem
origem musculoesquelética, acompanhada de
impossibilidade de enfrentá-la e de outras
“bandeiras amarelas”. Um problema especial ao
enfrentar a lombalgia crônica é o fato de que às
vezes não é possível dar explicações suficientes ao
paciente sobre a causa e a origem da dor. Por
exemplo, o diagnóstico de “lombalgia inespecífica”
leva a uma grande incerteza por parte do paciente,
em geral causando medo de uma patologia mais
grave e o desejo de mais procedimentos
diagnósticos. Costuma haver um componente
iatrogênico quando são solicitadas investigações
adicionais – em parte porque o paciente insiste nisso
e em parte porque o médico pode estar incerto:
“Existe tumor ou prolapso grave de disco causando
a dor?” Pode haver relutância em “perder algo”.
Consequências práticas
A compilação abrangente de todos os achados, além
da discussão com os colegas sobre diagnósticos e
tratamentos prévios podem ser úteis para obter o
quadro completo do paciente. Deve-se informar o
paciente sobre procedimentos diagnósticos
invasivos desnecessários e, em geral, muito
dispendiosos.