Page 17 Manual de Interações medicamentosas no tratamento da dor crónica
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Os principais mecanismos de interação que afetam a absorção de fárma-
cos administrados por via entérica são a alteração do esvaziamento gástri-
co, a alteração da motilidade gastrointestinal (GI), a modificação do volume,
composição ou viscosidade das secreções GI, o efeito do pH na ionização
e dissolução do fármaco, a interação com sistemas de transporte e a alte-
ração do fluxo esplâncnico. Fig. A (Shannon, 2007)
Os alimentos podem provocar atraso do esvaziamento gástrico, subida do
pH intestinal, aumento do fluxo sanguíneo hepático e diminuição do trânsi-
to gastro-intestinal, que poderão afectar o perfil farmacocinético de alguns
fármacos. Considera-se que a interação fármaco-alimentos poderá resultar
em quatro tipos de ação: atraso, diminuição, aumento ou absorção não
afectada. A título de exemplo, a biodisponibilidade da estramustina (cito-
tóxico) diminui 36% quando administrada com alimentos e 63% com leite.
(Scripture & Figg, 2006)
Todos os analgésicos opióides diminuem a velocidade de esvaziamento
gástrico e a motilidade intestinal podendo associar-se a uma absorção mais
lenta e consequente diminuição da concentração máxima do fármaco.
Ao longo do tubo digestivo encontra-se a glicoproteína p (P-gp), uma pro-
teína de transporte localizada no enterócito (mas também no fígado, rim e
barreira hemato-encefálica), que pode alterar a biodisponibilidade dos fár-
macos de administração oral, por alteração da absorção, em consequência
de polimorfismos genéticos individuais, fenómenos de indução/inibição en-
zimática, ou mesmo por mecanismo de competição.
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