Page 21 Volume 10, Número 1, 2002
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Dor (2002) 10
Dor (2002) 10
Um Olhar (breve) Sobre a Dor Mental
A. Vale Ferreira
Resumo
Este artigo pretende dar conta (de uma forma sucinta) da evolução do conceito de dor
mental, numa perspectiva psicodinâmica, desde Freud até autores mais actuais. Preten-
de ainda realçar a sua importância no funcionamento mental dos seres humanos e a
necessidade de a “olharmos” como diferente de conceitos como a angústia, a culpa, o
luto, o desprazer, o sofrimento, etc., com os quais aparece várias vezes confundida ou
então, diluída nos quadros psicopatológicos mais clássicos. Embora o conceito de dor
mental esteja longe de estar acabado, parece estar ligado à angústia de separação, à
consciência de si e do outro, à sensação de existir separadamente, de emergir num
mundo vivo e parecendo exprimir uma sensação catastrófica de descontinuidade do Eu.
Portanto, ligada ao medo de morrer, ao sentimento de fracasso de continuar a ser, a uma
queda no abismo.
Palavras chave: Dor mental. Perspectiva psicodinâmica. Angústia de separação. Psico-
terapia.
Summary
This article intends to give account (in a brief way) of the mental pain concept evolution,
in a psychodynamic perspective, from Freud to recent authors. Also intends to enhance
its importance in the human beings mental activity and the need “to look” at, distinctively
from concepts like the anguish, the blame, the mourning, the displeasure, the suffering,
etc., that several times appears confused or then, diluted in the “pictures” of the classic
psychopathology. Although the concept of mental pain be far away from being ended, it
seems to be linked to the separation anguish, to the conscience of himself and the other,
to the sensation of existing separately, to emerge in an alive world and seeming to
express a catastrophic sensation of discontinuity of the self. Therefore, linked to the fear
of dying, to the feeling of failure in continuing to be, to the fall in the abyss.
Key words: Mental pain. Psychodynamic perspective. Separation anguish. Psychoterapy.
“Existem pessoas que são tão intolerantes à dor ou à frustração (ou em quem a dor
ou a frustração é tão intolerável) que sentem a dor mas não a sofrem e assim não
se pode dizer que a descobrem... o paciente que não for capaz de
sofrer dor falha em ‘sofrer’ prazer” (Bion).
Psicólogo clínico - Psicoterapeuta de inspiração psicodinâ-
mica
Membro da equipa multidisciplinar -
CLINIPSIQUE - Clínica de Dor do Porto
DOR Director do Centro de Informação e Acolhimento Norte
(CIAC), do Serviço de Prevenção e Tratamento
20 da Toxicodependência (SPTT) - Direcção Regional Norte,
do Ministério da Saúde

