Page 17 Volume 10, Número 1, 2002
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previa que sujeitos clinicamente deprimidos obtives- Todas as investigações referidas até aqui indicam
sem menores benefícios do programa de interven- que as intervenções psicológicas que incluem treino
ção do que os sujeitos não deprimidos. Dos resulta- de relaxamento, reestruturação cognitiva, estratégias
dos obtidos no pós-teste, salienta-se a confirmação de distracção, aumento de actividades capazes de
das hipóteses principais do estudo, com melhores produzir sentimentos de prazer de uma forma gradual,
resultados para o grupo experimental. Observaram- que contrabalancem momentos de actividade com
se diminuições na frequência e intensidade da dor, momentos de descanso, a capacidade de estabelecer
nos níveis de morbilidade física e psicológica, de objectivos pessoais, bem como o reforço de comporta-
sofrimento e depressão, com claros aumentos em mentos de saúde são geralmente eficazes em indivídu-
termos das estratégias de coping utilizadas. Os re- os que apresentam dor crónica. Muitos destes estudos
sultados dos testes de hipóteses e das análises deram uma resposta eficaz aos critérios referidos an-
efectuadas confirmaram um conjunto de dados da teriormente como essenciais para se poder considerar
literatura que indicam a força sinergética deste tipo um estudo como válido (Keefe, et al., 1986). De facto,
de intervenção, conjugada com a médica, no trata- estas intervenções deram origem a importantes resul-
mento de pacientes com dor crónica. Estes dados tados: aumento dos níveis de actividade, diminuição
apontam para a necessidade urgente de integrar do uso de medicação e diminuição nos níveis de dor
abordagens multidisciplinares e biopsicossociais no relatados. Além disso, o seguimento destes sujeitos
tratamento da dor crónica, especialmente no contex- revelou a manutenção dos ganhos por 6 a 18 meses
to hospitalar (Araújo-Soares e McIntyre, 2000). (Wilson e Gil, 1996).
Este conjunto de estudos apresenta evidências em- Notavelmente, os estudos referidos possuem boas
píricas de que uma intervenção cognitivo-comporta- medidas e quatro dos estudos, apesar dos ganhos
mental é eficaz para pacientes com lombalgia cróni- obtidos, não apresentaram uma diminuição significati-
ca, diminuindo os comportamentos de dor, mas não a va nos níveis relatados de dor (Altmaier, et al., 1992;
sensibilidade a esta. Os estudos em pacientes com Nicholas, et al., 1992; Puder, 1988; Turner e Clancy,
dor crónica nas costas geralmente englobam amos- 1988). Estas descobertas são consistentes com os
tras mais homogéneas (pelo menos a nível da locali- estudos de Fordyce, Roberts e Sternbach (1985 em
zação física da dor) e incluem comparações face a Wilson e Gil, 1996), que revelam que a intervenção
um placebo apropriado ou face a condições apropri- psicológica não se destina a tratar a dor crónica per
adas de controlo. Em muitos destes estudos são se, mas, sim, a intervir nos comportamentos de dor,
utilizados manuais de intervenção (Wilson e Gil, 1996; embora seja raro que nestas intervenções os terapeu-
Araújo-Soares e McIntyre, 2001), o que é uma carac- tas também tenham como objectivo a redução da
terística positiva a notar, uma vez que diminui a medicação. Apesar destes resultados serem favorá-
possibilidade de variáveis parasitas e mediadoras veis a uma intervenção psicológica, a maioria deles
interferirem nos resultados obtidos. No entanto, as apresenta algumas limitações metodológicas. Muitos
amostras possuem uma dimensão reduzida, o que deles apenas incluíam um grupo de controlo em lista
implica a necessidade de replicação. Em geral, veri- de espera, não possuindo outros grupos que nos
fica-se que as intervenções de carácter multimodal pudessem dar resposta acerca do efeito do contacto
são mais eficazes do que os programas que se focam com o terapeuta ou de outros parâmetros potencial-
apenas num ou dois componentes. Também se veri- mente importantes. Em termos dos estudos de segui-
fica que o adicionar de um componente psicológico à mento (follow-up), verifica-se que na sua maior parte
terapia tradicional (p. ex. cognitivo-comportamental) apenas 50 a 60% dos sujeitos que participaram nas
apresenta um efeito complementar e sinergético em intervenções fizeram parte deste seguimento. Existe
todas estas intervenções. ainda uma heterogeneidade considerável em termos
individuais em factores como o tipo de dor crónica.
Síndromas de dor idiopática Factores como o ambiente familiar, estratégias cogniti-
vas de coping e cognições disfuncionais interferem na
Um conjunto de intervenções psicológicas têm-se resposta às intervenções efectuadas e, apesar de
focado nos síndromas de dor idiopática. Neste tipo muitos estudos terem avaliado estas variáveis, a mai-
de síndroma não existe uma causa física determina- oria destes não analisou o impacto destes factores no
da ou então a dor relatada é excessiva face às tratamento. Outras limitações residem no facto de de-
provas físicas encontradas (Edelson e Fitzpatrick, terminadas variáveis não serem avaliadas, como as
1989; Pilowsky e Barrows, 1990. Em: Wilson e Gil, medidas demográficas e as de funcionamento global
1996). Num estudo efectuado por Edelson e Fitzpa- durante a pré-intervenção.
trick em 1989, tentou comparar-se terapia cognitivo- Em suma, a literatura abordada sugere que o paci-
comportamental individual, hipnose e treino do foco ente que recebe tratamento psicológico, incluindo te-
atencional. Os resultados indicaram que os pacien- rapia cognitiva e comportamental e/ou terapia compor-
tes que receberam a intervenção cognitivo-compor- tamental operante de modo a conseguir lidar com a
tamental começaram a passar mais tempo de pé, dor crónica (não provocada por doença biológica),
quando comparados com os outros dois grupos. Os apresenta melhores resultados nas medidas de co-
pacientes que receberam terapia cognitivo-compor- ping, intensidade da dor, nível de actividade e compor-
DOR tamental ou hipnose apresentavam níveis mais bai- tamentos de dor. O efeito da intervenção psicológica
no uso da medicação encontra-se menos esclarecido.
xos de intensidade da dor do que o grupo de
16 controlo (Wilson e Gil, 1996). Contudo, muitas questões permanecem por responder,

