Page 30 Volume 11, Número 3, 2003
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Dor (2003) 11
devem ser usadas como adjuvantes das inter- facilitar a adaptação e promover a qualidade de
venções farmacológicas. A utilização de técni- vida, e que poderá incluir, por exemplo, o ensino
cas cognitivo-comportamentais como a hipnose, de estratégias psicológicas de controlo de dor
os treinos de relaxamento, o biofeedback, a e/ou de outros sintomas. Caso numa primeira
distracção, a imagética e a redefinição podem abordagem não se considere pertinente o acom-
ajudar o doente no confronto com a sua dor. Por panhamento psicológico do doente, este deverá
exemplo, o relaxamento alivia a dor ou evita que repetir a avaliação psicológica com regularidade,
esta se torne mais intensa através da redução assim, a mesma é repetida um mês, três meses
da tensão muscular de causa espasmódica. e seis meses após a primeira consulta e anual-
Turk e Rennet (1981) propuseram um progra- mente em doentes seguidos em consulta médica
ma psicológico para o controlo da dor, que in- de follow-up.
cluía a utilização das técnicas distractivas e de A integração da Psicologia na Unidade Tera-
relaxamento, e a reestruturação cognitiva proce- pêutica de Dor data de 1983, com a celebração
dendo à disputa de crenças e sentimentos dis- de um protocolo de ensino e investigação com a
funcionais. O objectivo global deste tipo de pro- Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educa-
gramas é aumentar a percepção de controlo ção da Universidade de Lisboa, segundo o qual
mostrando ao doente que este tem recursos os alunos finalistas da licenciatura desenvolvem o
internos para fazer face à dor, aumentando o seu estágio académico. Será, contudo, apenas
sentimento de auto-controlo e auto-eficácia. Ape- em 1990, que o Instituto Português de Oncologia
sar da utilização dos programas cognitivo-com- contrata para os seus quadros um psicólogo,
portamentais se mostrarem eficazes no controlo possibilitando assim, a continuidade do trabalho
da dor, estes devem ser usados de um modo quer com os doentes quer com a equipa, tendo-
criterioso e as técnicas não devem constituir se estabelecido os protocolos de actuação e os
actos isolados. Nem todos os doentes devem ser modelos práticos de articulação. A contratação do
incluídos em programas psicológicos de controlo psicólogo da equipa possibilitou ainda a articula-
da dor, assim doentes que apresentam a dor ção entre a Unidade de Dor e a Faculdade de
controlada através da utilização de analgésicos e Psicologia, tendo sido estabelecidos critérios co-
têm poucos efeitos secundários ou doentes com muns entre ambos na formação e orientação dos
grandes limitações das suas capacidades não alunos estagiários.
devem ser incluídos neste tipo de programas Nas guidelines proposta pela IASPA para a
estruturados, devendo ser avaliados no sentido classificação das unidades de dor, a psicologia
de lhes ser fornecido um apoio psicológico mais surge como um dos elementos indispensáveis na
individualizado e focalizado nas dificuldades ou formação de equipas multidisciplinares. O psicó-
constrangimentos apresentados. Deverá enten- logo especialista em dor crónica é o elemento da
der-se que a intervenção psicológica não se equipa com mais qualificações para avaliar os
esgota na utilização de pacotes terapêuticos mais obstáculos psicológicos do doente, quer no que
ou menos estruturados, os factores psicológicos respeita à adesão às propostas terapêuticas quer
desempenham um papel importante no decurso na avaliação do travão que o próprio doente
e desenvolvimento da dor crónica, assim o doen- pode exercer no sentido da não recuperação.
te deve ser acompanhado desde o diagnóstico Para alguns doentes a dor passou a ser a forma
ao tratamento. que eles encontraram de comunicar e interagir
Em termos gerais podem traçar-se como ob- com o mundo, e por essa razão tornam-se resis-
jectivos de uma Unidade de Dor, o alivio do tentes à mudança. Este know how do psicólogo,
quadro álgico e a melhoria da Qualidade de Vida servindo de conselheiro, é uma mais valia impor-
dos doentes, recorrendo-se à terapêutica sinto- tante para as equipas que se dedicam ao trata-
mática adequada e ao apoio psicológico. Trans- mento da dor.
versal ao acompanhamento do doente com dor,
e para qualquer dos profissionais envolvidos, Bibliografia
deverá estar a questão da avaliação, tendo sem- Lesage P, Portenoy RK. Cancer Control. Journal of the Moffitt Cancer
pre presente que a dor existe quando o doente Center 1999;6(2):136-45.
diz que a sente, e no grau em que este a refere. Massie MJ, Holland JC. The cancer patient with pain: psychiatric compli-
Ao psicólogo deverá interessar não só a avalia- cations and their management. Medical Clinics of North America
1987;71(2):243-58.
ção da intensidade, localização e tipo de dor, Portenoy RK, Foley MK. Management of Cancer Pain. Em: Holand JC,
mas os índices de ansiedade e depressão, a Rowland JH (eds). Handbook of Psychooncology: Psychological care
of patients with cancer. Nova Iorque: Oxford University Press 1989.
avaliação da qualidade de vida e das estratégias Tunks E. Comorbidity of Psychiatric Disorder and Chronic Pain; Pain 1996 –
de confronto e adaptação à situação de doença na updated review. IASP Committee of Refresher Courses. Campbell
e de dor. É com este objectivo que numa primei- JN (ed). Seattle, EUA: IASP Press 1996.
ra consulta o doente é submetido a avaliação Turk D, Holzman A. Pain management – Handbook of Psychological
Treatment Approaches. Great Britain: Pergamon Press 1986.
das áreas acima mencionadas, e será com base Turk D, Meichenbaum D, Genest M. Pain and Behavioral Medicine: A
no resultado dessa mesma avaliação do ponto Cognitive-Behavioral Perspective. Nova Iorque: The Guilford Press
DOR de vista psicológico, se delineará o processo de Turk DC, Meichenbaum D. Cognitive-behavioral approach to the manage-
1983.
acompanhamento psicoterapêutico, apresentan-
30 do-o como proposta ao doente no sentido de lhe ment of chronic pain. Melzack R, Wall PD (eds). Textbook of Pain.
a
2 ed. Nova Iorque: Churchill Livingstone 1989:1001-9.
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