Page 29 Volume 12, Número 4, 2004
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Dor (2004) 12
Dor (2004) 12

Artigo original
Efeito do Antagonista do Receptor

de Glicina (Estricnina) no Tempo de


Latência de Resposta de Neurónios

da Medula Espinhal de Rato:


um Estudo com Multieléctrodos



1,2
Helder Cardoso-Cruz , Clara M. Monteiro , Deolinda Lima
1
1
e Vasco Galhardo
1,2



Resumo
A administração de estricnina, um antagonista do receptor da glicina, desencadeia um estado de dor
táctil persistente denominado por alodinia. Com o objectivo de estudar alterações no circuito populacional
espinhal induzidas pela aplicação de estricnina, foram registados pequenos grupos de neurónios vizinhos
antes e depois da sua aplicação. Neste estudo foi registada a actividade de 267 neurónios em 14 ratos
anestesiados com uretano. Os registos foram levados a cabo com matrizes de 8 eléctrodos de tungsténio
orientados rostrocaudalmente com um espaçamento entre si de 240 µm. A estimulação mecânica foi apli-
cada na pata posterior do rato, contralateral ao registo e consistiu em períodos de 60 s a 0,5 Hz de toque
suave (não doloroso) e por períodos de 30 s de pressão nóxica. Após administração intratecal de estric-
nina, as respostas à estimulação foram avaliadas cada 15 min até um total de 3 h. A maior parte dos
neurónios desenvolveu sinais de hiperexcitabilidade após aplicação de estricnina, traduzida por um au-
mento da actividade espontânea (151 células) ou por um aumento das respostas à estimulação táctil e/ou
nóxica (116 células). Um total de 69 células que apresentaram respostas precisas à estimulação táctil
foram seleccionadas para a análise do tempo de latência de resposta (TLR). Vinte e sete desses neurónios
apresentaram uma diminuição do TLR ao estímulo após aplicação de estricnina. Esta diminuição variou
entre 0,1 e 16,3 ms, com 17 células a apresentarem uma diminuição até 5 ms. O maior decréscimo ocorreu
nos neurónios com valores de latência naive mais elevados. Os neurónios com aumento do TLR (12 célu-
las) apresentaram na maioria dos casos (9 células) uma variação de até 5,0 ms. Esta variação da latência
poderá estar associada a mecanismos de sensitização induzidos pela remoção da inibição glicinérgica
das sinapses espinhais. Estes resultados sugerem que a diminuição do TLR poderá estar associada ao
desenvolvimento da hiperexcitabilidade espinhal, provavelmente devido a um unmasking dos aferentes
silenciosos.

Palavras-chave: Estricnina. Injecção intratecal. Dor. Medula espinhal. Sistema somatossensitivo.











1 Instituto de Biologia Molecular e Celular Correspondência:
Universidade do Porto, Portugal Vasco Galhardo,
2 Instituto de Histologia e Embriologia Instituto de Biologia Molecular de Celular
Faculdade de Medicina Unidade de Morfofisiologia do Sistema Nervoso
DOR Universidade do Porto, Portugal Rua do Campo Alegre, 823
4150-180 Porto, Portugal
28 E-mail: galhardo@med.up.pt
URL: http://users.med.up.pt/galhardo
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