Page 15 Volume 13 - N.1 - 2005
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Dor (2005) 13
Dor (2005) 13
Enxaqueca
Genética
José M. Pereira Monteiro
Introdução cepto a hereditariedade ligada ao sexo que foi
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Há poucas doenças que causem tanto sofri- excluída por Mochi, et al., em 1993 .
mento e perturbação no agregado familiar como A melhoria dos critérios de diagnóstico das
a enxaqueca, e sobre as quais se saiba tão cefaleias primárias com o advento da nova clas-
pouco no que respeita às suas causas, meca- sificação elaborada pela International Headache
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nismos, prevenção ou cura. Society em 1988 conjugada com o aperfeiço-
Considera-se actualmente que na génese da amento das técnicas de epidemiologia genética,
enxaqueca estão envolvidas primariamente es- nomeadamente, las técnicas analíticas de liga-
truturas neuronais centrais (tronco cerebral e ção (linkage), paramétrica (c/diagnósticos) ou
córtex cerebral) e periféricas (sistema trigémi- não paramétrica (c/sintomas) e de segregação
no-vascular), segundo os defensores da teoria foram de grande relevância para o progresso
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neurovascular mas, que são influenciadas por verificado no estudo genético. Mas, o desenvol-
factores ambienciais (alimentos, clima, esta- vimento das técnicas de estudo molecular, como
ções do ano, ciclos biológicos) e por factores a técnica de PCR que permitiu a replicação de
genéticos . cadeias de ADN, de marcadores de ADN, assim
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O conceito genético da enxaqueca é bastante como a constituição da base de dados do geno-
remoto e pode ser detectado quer em descri- ma humano constituíram poderosos métodos
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ções antigas como as de Liveing , que em 1873 para identificação de genes responsáveis por tra-
referiu a incidência familiar de enxaqueca e a ços genéticos humanos e por uma grande varie-
sua maior ocorrência nas mulheres, quer em dade de doenças de transmissão hereditária.
definições e critérios de diagnóstico da enxa- Os estudos genéticos iniciais incidiram, so-
queca elaboradas por uma comissão ad hoc bretudo, sobre doenças raras e monogénicas,
nomeada pelos National Institutes of Health dos mas actualmente, estão a ser mais aplicados
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EUA em 1962 , e posteriormente aprovados pela na investigação das doenças muito prevalen-
World Federation of Neurology . tes, geralmente, poligénicas ou multifactoriais.
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Na investigação genética da enxaqueca têm Estas doenças designadas doenças de heredi-
sido usadas diversas metodologias, nomeada- tariedade complexa são de abordagem mais
mente, o estudo de gémeos, de famílias e de difícil e requerem a utilização de dados obtidos
variantes raras. a partir de mecanismos fisiopatogénicos conhe-
Os estudos mais antigos em gémeos, anterio- cidos ou de doenças associadas como fonte de
res a 1993, foram escassos e os resultados pou- genes candidatos.
co esclarecedores ou mesmo contraditórios,
devido a erros metodológicos. A maior parte dos Estudos genéticos recentes
estudos genéticos antigos foram baseados em Os estudos genéticos da enxaqueca mais
descrições dos probandos, isto é, sem interro- recentes, isto é, sobretudo a partir de 1993,
gatório directo dos familiares. Os poucos estu- são de base populacional e utilizaram metodo-
dos controlados revelaram um aumento do risco logias de epidemiologia e de genética mais
de ocorrência de enxaqueca nos familiares dos perfeitas e adequadas. Consistiram basicamente
testados com enxaqueca quando comparado em estudos de populações gerais de grandes
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com os controlos . dimensões para identificação de probandos e
Com base nos estudos familiares mais antigos respectivas famílias, casos esporádicos, gémeos,
foram diversos os tipos de hereditariedade pro- variedades raras e respectivos controlos 6-9,11 . Ou-
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postos para a enxaqueca , contudo, nenhum tras técnicas de estudo genético que têm sido
logrou obter uma confirmação inequívoca, ex- usados são os métodos analíticos de ligação
linkage e de segregação. Os estudos de ligação
consistem na pesquisa da segregação conjunta
de um marcador genético ou gene conhecido,
Centro de Estudos de Cefaleias
DOR Serviço de Neurologia como por exemplo a da enxaqueca hemiplégica
familiar (FHM) no Cr 19p13, com a enxaqueca
14 Hospital de Santo António com aura (MA) e a enxaqueca sem aura (MO),
Porto, Portugal