Page 37 Volume 13 - N.1 - 2005
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Dor (2005) 13
Dor (2005) 13

Cefaleias trigémino-autonómicas
Clínica e Diagnóstico



Isabel Luzeiro





O grupo das cefaleias trigémino-autonómicas remissão inferiores a 1 mês ou sem períodos
(CTA) inclui três subgrupos: cefaleia em salvas, de remissão na forma crónica (10-15% dos do-
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hemicrania paroxística e cefaleia unilateral ne- entes têm sintomas crónicos, sem remissões ).
vralgiforme, de curta duração com injecção A cefaleia em salvas crónica pode ocorrer «de
conjuntival e lacrimejo (SUNCT). As cefaleias novo» (cefaleia em salvas crónica primária) ou
trigémino-autonómicas (CTA) têm em comum: evoluir de uma forma episódica (cefaleia em sal-
crises com duração de segundos a horas, se- vas crónica secundária). Alguns doentes podem
rem estritamente unilaterais, terem localização evoluir de uma forma crónica para uma forma
orbitária, supra-orbitária ou temporal anterior, episódica.
usualmente de severidade grave ou muito gra- Numa série de 494 doentes, Ekbom, et al.
ve, e sintomas e sinais autonómicos acompa- (2002) refere uma percentagem de 10,2% de
nhantes (injecção conjuntival, lacrimejo, con- formas crónicas .
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gestão nasal, rinorreia, sudação e rubor frontal Quanto ao diagnóstico diferencial deve fazer-
e malar, miose, ptose e edema palpebral) uni e se com outras cefaleias primárias (hemicrânia
ipsilaterais à dor. Os episódios, na sua maioria, paroxística e SUNCT), mas também pensar
ocorrem em séries de crises, durando sema- numa cefaleia secundária (que clinicamente po-
nas, meses ou mesmo anos, separadas (ou dem mimetizar a cefaleia primária): sinusite ma-
não) por períodos de remissão. xilar, síndrome de Tolosa-Hunt, arterite temporal,
síndrome paratrigeminal de Reader, meningioma
Classificação da asa do esfenóide, traumatismo da face, mal-
A Sociedade Internacional de Cefaleias (IHS formação arteriovenosa occipital, adenoma da
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2004) descreve e classifica estas entidades clí- hipófise, lesão cervical superior, dissecção ou
nicas do seguinte modo (Tabela 1). aneurisma da artéria vertebral.
Têm sido descritos casos de cefaleia em sal-
Cefaleia em salvas vas e nevralgia do trigémeo que ocorrem asso-
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ciadas num mesmo doente . Estes casos de-
Trata-se de uma entidade rara mas bastante vem classificar-se com os dois diagnósticos.
grave, com crises estereotipadas, descrita pela
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primeira vez por Friedman e Mikropoulos . A pre-
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valência varia de 0,09% , atingindo os 0,4% , Hemicrãnia paroxística (HP)
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segundo outros autores. Atinge predominante- Cefaleia descrita pela primeira vez por Sjaas-
mente o sexo masculino (4,5-6,7 :) . Carac- tad . Surge habitualmente na segunda década .
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teriza-se por acessos de dor severa, unilateral, Atinge indiferentemente todas as raças.
de localização orbitária, supra-orbitária, tempo- Caracteriza-se por acessos de dor, sintomas
ral ou envolvendo combinações destes locais, e sinais associados semelhantes aos da cefa-
durando de 15 a 180 minutos e ocorrendo desde leia em salvas mas com menor duração, maior
1 em cada dois dias até 8 vezes por dia. Estão frequência, atingindo predominantemente o
associados, homolateralmente, um ou mais si- sexo feminino (3/1) e com uma resposta
nais autonómicos. Os doentes são incapazes de absoluta à indometacina. As doentes, ao con-
estar calmos; habitualmente têm grande agita- trário do observado na Cefaleia em salvas, pre-
ção durante a crise (Tabelas 2 e 3). ferem estar quietas, com a cabeça entre as
Os acessos ocorrem, agrupados em salvas, mãos ou no leito. Entre as crises há hipersen-
durando de semanas a meses, separados por sibilidade local.
períodos de remissão que variam de 1 mês a Na hemicrania paroxística episódica (HPE), as
anos na forma episódica (27% dos doentes têm crises ocorrem num período variável de 7 dias a
um único período de crise), e com períodos de um ano, havendo períodos de remissão de um
ano ou mais.
Na hemicrania paroxística crónica (HPC), as
DOR Neurologista e neurofisiologista crises ocorrem durante um período superior a um
ano sem haver remissões ou essas remissões
36 Centro Hospitalar de Coimbra têm duração inferior a um ano (Tabelas 4 e 5).
Coimbra, Portugal
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