Page 15 Volume 13 - N.2 - 2005
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físicos resultam na extremidade activa do eléc- sui acção selectiva no que respeita a fibras ner-
trodo: a formação de calor e a criação de um vosas, sendo igualmente destruídas fibras mie-
campo eléctrico. linizadas e não-mielinizadas. No início da
utilização da RF, o objectivo era uma interrupção
Energia térmica da condução da nocicepção efectuada pela le-
A corrente de radiofrequência provoca a osci- são térmica neuronal. Este era e é o princípio
lação de iões nos electrólitos tecidulares e da utilizado na desnervação das articulações inte-
fricção interiónica resulta a produção de calor, rapófisarias e na cordotomia.
pelo que não é o eléctrodo activo que gera calor, A dimensão das lesões depende da tempera-
mas sim o calor gerado nos tecidos que aquece tura, mas também depende do diâmetro do eléc-
o eléctrodo. O calor produzido é proporcional à trodo e do comprimento da ponta activa. No que
impedância dos tecidos e à densidade da cor- concerne ao tempo de lesão, uma vez atingido o
rente. Esta é mais intensa à volta da ponta acti- equilíbrio térmico, a lesão não aumenta de tama-
va, sendo ligeiramente superior na extremidade nho e na prática clínica a maioria dos intervencio-
proximal do que na extremidade distal; como nistas lesiona por 60 a 90 segundos, dependen-
resultado, as lesões de termocoagulação têm a do da vascularização dos tecidos, mantendo a
forma aproximada de pêra, com a base desta temperatura constante a 80 °C; deste modo con-
envolvendo a extremidade proximal da ponta seguem-se produzir lesões circunscritas e previ-
activa. A temperatura do eléctrodo activo depen- síveis – a grande vantagem do método.
de não só do calor gerado, mas também do Quando a RF se passou a utilizar no tratamen-
calor dissipado e este está directamente relacio- to de outras síndromes dolorosas, em que as
nado com a condutividade térmica dos tecidos lesões eram susceptíveis de causar danos neu-
e a circulação sanguínea adjacente. O resultado rológicos severos e resultar em síndromes de
deste conjunto de factores é a impossibilidade deaferenciação, como nas lesões do gânglio da
de prever, apenas pelos parâmetros eléctricos, raiz dorsal, o objectivo passou a ser o de fazer
a temperatura do eléctrodo activo, e daí a sua uma interrupção parcial da condução nervosa.
monitorização. Existem, pois, dois tipos de lesões por RF con-
vencional. No primeiro, o objectivo é a interrup-
ção de toda a condução sensorial, no segundo
Campo eléctrico a interrupção parcial. Para criar as lesões do
Os campos eléctricos são definidos em ter- primeiro tipo, o eléctrodo deve, de acordo com
mos da força que exercem em cargas eléctricas. a morfologia da distribuição do calor, ser colo-
Em sistemas biológicos estas cargas podem ser cado tão próximo quanto possível e paralelo à
electrões, iões e macromoléculas. Constituem estrutura nervosa a lesionar. No segundo tipo de
um exemplo de grandezas vectoriais como a lesões, o eléctrodo é posicionado um pouco
gravidade e os campos magnéticos. Quando se afastado do alvo, utilizando para tal rigorosos
aplica uma corrente RF, o campo eléctrico pode padrões de neuroestimulação, e a temperatura
definir-se como a força a que uma partícula no é reduzida sendo comum lesionar a 67 °C. A dor
tecido é submetida sob a influência da carga do provocada pelas lesões térmicas exige que se
eléctrodo. A direcção e grandeza do campo proceda a anestesia local antes de as efectuar.
eléctrico dependem da forma do condutor car-
regado, sendo inversamente proporcional ao
raio num condutor circular, pelo que no eléctro- Radiofrequência por pulsos
do activo o campo eléctrico é relativamente fra- A acção do calor como elemento responsável
co, perpendicularmente à ponta activa, com a pelos efeitos clínicos das lesões de RF começou
sua forma cilíndrica, e bastante intenso na extre- a ser questionado, sobretudo na década de 90.
midade distal da mesma, propagando-se para As razões para tal advêm de diversas constata-
diante, numa distribuição espacial diferente da ções: após as lesões, havia um longo período de
do calor gerado. O campo eléctrico gerado pela desconforto antes do efeito benéfico surgir; em
RF está em constante variação e as partículas alguns doentes, que após o tratamento readqui-
num campo eléctrico não-uniforme são subme- riam a sensibilidade, não havia um retorno da dor;
tidas a uma força, a força dielectroforética, que não se conseguia demonstrar destruição de fi-
medeia os efeitos biológicos dos campos eléc- bras C após lesões do GRD; a maioria dos pro-
tricos e que depende das propriedades das par- cedimentos eram efectuados com o eléctrodo
tículas, do meio onde se encontram e da fre- perpendicular aos nervos a lesionar; a falta de
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quência da corrente RF . correlação entre as lesões de simpaticectomia
lombar por RF e os resultados, em que alguns
Mecanismos de acção doentes tinham alívio da dor sem sinais de blo-
Radiofrequência convencional queio simpático ou vice-versa; os efeitos da RF
do disco intervertebral dificilmente explicáveis
DOR térmica é o elemento considerado responsável por lesão térmica; o trabalho de Slappendel R
Na radiofrequência convencional, a energia
em 1997 que demonstrou, num estudo controla-
14 pela obtenção dos resultados. O calor não pos- do randomizado, que a eficácia de lesões do