Page 30 Volume 13 - N.4 - 2005

Dor (2005) 13 P. Silva Carvalho,S. Tavares: Dor e Doença Psiquiátrica Profunda

Dor e Doença Psiquiátrica Profunda

Pedro Silva Carvalho e Sílvia Tavares 2
1

Resumo
Dor e doença psiquiátrica interinfluenciam-se mutuamente de forma complexa. Assim como a presença de
dor pode originar e descompensar uma doença psiquiátrica, a existência deste tipo de patologia pode pre-
dispor a sintomatologia dolorosa ou alterar a sua percepção. Quando as limitações inerentes à doença im-
pedem de alguma forma a comunicação adequada de sintomas álgicos, como acontece com os doentes
psiquiátricos profundos, dificultam significativamente a sua acessibilidade, avaliação e diagnóstico, interfe-
rem com estas relações e revestindo este campo de incertezas.
Nesta revisão são abordadas as diversas relações descritas na literatura recente entre dor e as doenças
psiquiátricas em que há comprometimento da capacidade de reportar dor – estádios moderados a avançados
de demência, debilidade mental profunda, psicoses graves, autismo, estados de estupor depressivo e outras
perturbações dissociativas.
Conclui-se que a controvérsia é grande nesta área e merece investigação mais aprofundada. A crença de
que estes doentes seriam menos sensíveis à dor pode estar errada em alguns casos, e os doentes terem
apenas dificuldade em exprimi-la. É necessário prestar uma atenção mais cuidada às pistas físicas e com-
portamentais destes doentes para um diagnóstico mais rápido das condições dolorosas e para retirar con-
clusões mais sólidas acerca das sensibilidades álgicas. Constata-se também que a dor pode ser a única
manifestação de doença psiquiátrica e vice-versa.
Palavras-chave: Dor. Doença psiquiátrica profunda. Incapacidade de comunicar dor. Sensibilidade álgica.

Abstract
Pain and psychiatric disease interact in a mutual and complex way. As pain may originate and exacerbate a
psychiatric disorder, this kind of disease may also predispose to painful symptoms or may change its per-
ception. When a profound psychiatric condition compromises the ability to communicate pain adequately, its
accessibility, evaluation and diagnosis becomes a difficult task. As a consequence, our knowledge of this
field is still very uncertain.
This article describes relationships between pain and psychiatric disease that have been contemplated in
recent publications, concerning those conditions that cause any limitation of the ability to report pain – mod-
erate and advanced stages of dementia and mental retardation, profound psychosis, autism dissociative
states of depression and other dissociative disorders.
We have concluded that there is a great deal of controversy concerning this matter and further investigation
is required. Considering these patients less sensitive to pain might be a mistake in some cases. They may
only be unable to express pain. It is necessary to pay careful attention to their physical and behavioural
signs in order to diagnose painful conditions more quickly and to take more accurate and definitive conclu-
sions about this kind of sensibility. We also noticed that pain may be the only manifestation of a psychiatric
disease and vice versa.

Key words: Pain. Profound psychiatric disease. Inability to communicate pain. Painful sensibility.

1 Assistente Hospitalar de Psiquiatria
Hospital de Magalhães Lemos
Porto, Portugal
2 Interna Complementar de Pedopsiquiatria DOR
Centro Hospitalar de Coimbra
Coimbra, Portugal 29