Page 27 Volume 13 - N.4 - 2005
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volvida inicialmente para avaliação de dor no Vários estudos indicam que aos doentes com
pós-operatório, mas foi testada nas crianças défices cognitivos residentes em lares é adminis-
com défices cognitivos, tendo sido validada num trada medicação analgésica com menor frequên-
estudo realizado . cia e em dose mais reduzida, quando compara-
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Continua ainda a ser muito reduzido o número dos com os restantes . Dos doentes com défices,
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de trabalhos acerca da avaliação da dor na os que se apresentam mais ausentes, desorien-
criança, e destes, a grande maioria não contem- tados e com incapacidades funcionais recebem
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pla as crianças com limitações cognitivas . menos analgesia, quer por parte dos médicos
A avaliação destes doentes deve ser individu- quer pelos enfermeiros . Os mesmos resultados
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alizada envolvendo os médicos, enfermeiros e foram obtidos em doentes com fractura da bacia:
pais. O incorrecto tratamento da dor origina os que tinham alterações cognitivas receberam
desconforto e sofrimento desnecessários para menos de metade da morfina do que aqueles
as crianças, bem como aumenta receios, frus- com funções superiores normais 24,25 .
trações, desequilíbrios emocionais e de saúde Em 1993, foi publicado um trabalho no qual
nos progenitores. 50% das enfermeiras concordavam com a ob-
servação de que «se o doente se apresentar
Idosos confuso, a avaliação da dor tem valor reduzi-
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do» . No mesmo ano, um artigo sobre a eficácia
Os doentes idosos são os que mais frequente- da avaliação por parte dos médicos mostrou
mente procuram assistência e cuidados de saú- elevada taxa de não-diagnóstico de dor em do-
de devido à maior prevalência de patologias entes idosos com capacidade de comunicação,
progressivas relacionadas com a idade, apresen- sendo esta ainda maior em doentes incapazes
tando frequentemente dor crónica e aguda 7,15 . de verbalizar .
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A definição de doente idoso é arbitrária e está Resultados de vários estudos focam as dificul-
em constante mudança. A tendência é definir o dades na avaliação da dor nos doentes com
idoso como o indivíduo reformado, definição que défices cognitivos e a falta de conhecimento
terá de ser revista com a alteração da idade de entre os cuidadores acerca da abordagem efi-
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reforma. Estima-se que cerca de 15% dos doen- caz da dor .
tes idosos sofram de défices cognitivos. Existem dados que permitem concluir que a
As causas mais comuns de dor/desconforto no maioria dos idosos com normal ou moderada
idoso são a obstipação, inflamação, infecção, alteração da função cognitiva, bem como alguns
fracturas, úlceras de pressão e mudanças de pen- com alteração severa, são capazes de utilizar
sos. No âmbito da dor crónica, são de considerar escalas de auto-avaliação para medir a dor .
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a osteoartrite (presente em 80% dos idosos), a Os doentes com ou sem alterações cognitivas
neuralgia pós-herpética, as neuropatias periféri- preferem a Verbal Descriptor Scale (VDS) ou
cas e as síndromes miofasciais, entre outras. Iowa Pain Termometer (IPT) para avaliar a dor,
Estudos em doentes idosos sem défices cog- contudo a fiabilidade das escalas não está de-
nitivos, residentes em lares, mostraram que 45 a monstrada.
83% dos doentes referiu dor, sendo a dor cons- Também para esta faixa etária são várias as
tante em 34% . tentativas para criar escalas de comportamentos
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Outros trabalhos alertam para o facto de as que permitam uma correcta abordagem destes
deficiências cognitivas poderem mascarar e doentes. Entre elas encontram-se: Discomfort in
exacerbar a dor . Nestes doentes, a presença Dementia of the Alzeihmer’s Type (DS-DAT), Mo-
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de deficiências está associada muitas vezes dified DS-DAT, Checklist of Nonverbal Pain Indi-
com síndromes depressivas e alterações da cators (CNPI), Assessment of Discomfort in De-
conduta que incluem comportamentos agressi- mentia (ADD), Pain Assessment in Advanced
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vos e vocalizações negativas . Os comporta- Dementia (PAINAD), Pain Assessment for the
mentos mais frequentemente observados são Dementing Elder (PADE), Non-Communicative
esgares de dor, agitação e inquietação, mas Patient’s Pain Assessment Instrument (NOPPAIN),
sempre em menor quantidade que nos doentes Nonverbal Behavioral Pain Scale, Behavioral
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sem alterações cognitivas . Pain Assessment for Dementia Persons e DOLO-
Factores que podem limitar a avaliação nesta PLUS 2 (mais para uso no contexto de dor cró-
população incluem capacidade diminuída de nica, mas ainda não validada).
relatar dor, preocupações dos cuidadores relati- A Assessment of Discomfort in Dementia
vamente a dependência farmacológica e de- (ADD) é um protocolo que avalia a dor física e
pressão respiratória, farmacocinética alterada o desconforto psíquico e social. Não foi desen-
devido à idade, mitos e estereótipos relaciona- volvido com o intuito de objectivar ou avaliar
dos com dor e envelhecimento e, por fim, pro- intensidade da dor, estando estruturado em seis
blemas de recursos. Os mitos mais frequentes passos que incluem o exame físico, revisão da
são a dor estar integrada no processo normal de história, avaliação afectiva, implementação de
DOR envelhecimento, a medicação analgésica provo- medidas de conforto, medicação analgésica e
car dependência e receio da medicação deixar
pedido de colaboração com outras especialida-
26 de surtir efeito. des. Os parâmetros avaliados são a expressão