Page 26 Volume 13 - N.4 - 2005
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T. Rebelo, C. Oliveira: Dor no Doente com Alterações Cognitivas

zes de auto-relatar a dor de uma forma válida e rurgia de coluna, verificando-se a existência de
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fiável ou apontar o local doloroso . No entanto, grande disparidade na administração analgésica
mesmo nestes indivíduos, as alterações da me- entre crianças com e sem défices .
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mória de curta duração levam a que não se Nestes doentes, a avaliação da dor depende
lembrem de vários episódios dolorosos, acaban- de terceiros, grupo onde os pais devem ser in-
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do por não se fazer o seu diagnóstico . Verificou- cluídos. Estes, detectaram dor moderada a gra-
se também que, apesar de serem capazes de ve em dois terços das crianças durante pelo
colaborar, os doentes com demência referem menos um dia, num período de duas semanas .
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menos dor quando comparados com os que não De ressalvar que nenhuma destas crianças se
apresentam esta doença . encontrava sob medicação analgésica. Pensa-
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Nos doentes incapazes de verbalizar, a análi- se que, ao contrário dos doentes mais idosos,
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se das alterações dos comportamentos e activi- os pais subvalorizem a dor das crianças .
dade são a melhor estratégia para avaliação da Existem tentativas para validar novos instru-
dor. Devemos, pois, pesquisar os comportamen- mentos de avaliação como são os casos da
tos tidos como típicos: expressão facial, verba- NCCPC Non-Communicating Children’s Pain
lização, vocalização, movimentos corporais, al- Checklist (NCCPC), da Escala San Salvadour e
terações na relação interpessoal, mudanças nas da Face Legs Activity Cry Consolability Scale
actividades diárias ou rotinas e mudanças de hu- (FLACC).
mor. Quando estes estão ausentes ou são de A NCCPC é usada para medir a dor em crian-
difícil interpretação, é importante estar alerta ças com deficiências cognitivas profundas 16,19 ,
para indicadores menos óbvios de dor e avaliá- avaliando a frequência com que foram observa-
la com a actividade. O comportamento e activi- dos certos comportamentos durante um período
dade habituais devem ser sempre estabelecidos de 10 minutos. Estes incluem vocalização, in-
para permitir reconhecer desvios, possíveis indi- tegração social, expressão facial, actividade,
cadores de situações dolorosas . movimentos do corpo e membros e aspectos
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Toda esta observação é subjectiva, tendo-se fisiológicos que são pontuados de 0 a 3. Foi
constatado que os médicos e enfermeiros sub- inicialmente criada para crianças dos três aos
valorizam a dor, enquanto os cuidadores a so- 18 anos e pode ser usada independentemente
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brevalorizam . da criança apresentar défices motores. O seu
Neste contexto estão descritos variados méto- uso não implica conhecimento prévio da crian-
dos que exigem grande esforço para a sua im- ça. Um score maior ou igual a 11 implica a
plementação. Referimos uma mnemónica criada presença de dor moderada a severa e scores
com o objectivo de ajudar na sistematização da de seis a 11, dor ligeira.
avaliação da dor pelos cuidadores, a BODIES . A Escala San Salvadour é outra escala de
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Esta mnemónica significa: B, quais os compor- avaliação para crianças com limitações . São
tamentos observados (Behaviours); O, com que registados 10 itens: choro e/ou grito, reacção de
frequência (Often); D, qual a duração (Duration); defesa, mímica de dor, protecção de zonas dolo-
I, qual a intensidade (Intense); E, no caso de rosas, gemidos ou choro silencioso, interesse
estar medicado se o tratamento foi eficaz (Effec- pelo ambiente envolvente, alterações do tónus,
tive); S, o que iniciou/terminou o comportamento capacidade de interacção, intensificação de mo-
(Start/Stop). vimentos espontâneos e posição de defesa es-
Para registo por parte dos familiares, existe pontânea. A pontuação é obtida retrospectiva-
uma escala validada com enfermeiros: Non- mente durante oito horas de acordo com: 0,
Communicative Patients Pain Assessment Scale manifestações habituais; 1, alteração duvidosa;
(ver adiante). 2, alteração visível; 3, alteração apreciável; 4, al-
teração extrema. Qualquer item não aplicável à
Crianças criança em questão não deve ser pontuado. Com
um valor superior a seis, a presença de dor é
A avaliação da dor nas crianças é sempre de- inquestionável e deve ser instituído tratamento.
licada e difícil, estando dependente do nível de Pontuações de dois a seis oferecem muitas dúvi-
desenvolvimento cognitivo e capacidades psi- das. A avaliação pressupõe a resposta da crian-
cossociais. ça durante o exame físico, o sono e estado basal,
As alterações neurológicas podem limitar a ca- e correlaciona-se com o nível de autonomia.
pacidade de comunicar e compreender a situa- A FLACC avalia a expressão facial, movimen-
ção dolorosa. Não existem dados que permitam tos dos membros inferiores, actividade, choro e
afirmar que as crianças com défices cognitivos facilidade com que é consolada. Atribui-se um
apresentem maior tolerância à dor ou sensibili- valor de 0 a 2 e se o resultado obtido for zero,
dade diminuída, sendo-lhe insensíveis ou indife- representa uma criança relaxada sem dor, se for
rentes. Pelo contrário, estas crianças apresentam de 1 a 3 representa desconforto moderado, de
risco aumentado de experiências dolorosas fre- 4 a 6 já significa a existência de dor moderada,
quentes, não reconhecidas e não tratadas . Um e de 7 a 10 dor grave. As crianças são obser- DOR
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estudo concluiu que a dor raramente era avalia- vadas em repouso e durante o movimento para
da em crianças com défices cognitivos após ci- avaliar possíveis alterações. A escala foi desen- 25
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