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Dor (2006) 14
cífica como a cirurgia vascular estes conceitos são Diabetes mellitus (DM)
particularmente prementes; basta pensarmos que es- A incidência da DM em doentes com doença vas-
tes doentes frequentemente experimentam a dor, por cular periférica situa-se entre 8-12%.
vezes de difícil controlo, ainda antes das intervenções A DM predispõe estes doentes à isquemia cardí-
cirúrgicas, pela própria patologia isquémica de base, aca silenciosa, condicionando a nossa conduta pela
para já não falar num tipo de intervenção que se coexistência frequente de polineuropatia diabética.
reveste de especial agressividade, quer do ponto de Adicionalmente, as neuropatias autonómicas po-
vista psicológico quer físico – as amputações. dem afectar a função renal e causar instabilidade
O doente vascular apresenta especificidades, no- hemodinâmica .
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meadamente no que diz respeito à patologia associa-
da e ao grupo etário predominante, que constituem Doença pulmonar crónica e tabagismo
um desafio à implementação de uma terapêutica
analgésica simultaneamente segura e eficaz. Uma percentagem elevada dos doentes vasculares
Será acerca da terapêutica analgésica periopera- é constituída por fumadores e destes 50-60% têm
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tória destes doentes que nos vamos debruçar nesta evidência de doença pulmonar crónica .
revisão. As alterações fisiopatológicas condicionadas por
estes factores de risco são causa de complicações
Especificidades do doente vascular pulmonares após os procedimentos anestésico-ci-
rúrgicos, incluindo hiper-reactividade da via aérea,
Grupo etário atelectasias, retenção de secreções, infecções res-
Uma percentagem significativa da população de piratórias e hipoxia.
doentes vasculares é composta por idosos. Factores que aumentam a probabilidade de ocor-
As diferenças culturais, psíquicas e fisiológicas rência de infecções respiratórias incluem cirurgia
dos idosos têm que ser compreendidos para tratar abdominal alta, doença pulmonar prévia, tabagismo,
a sua dor pós-operatória efectivamente. idade superior a 70 anos, obesidade, e, naturalmen-
Os doentes idosos frequentemente têm uma con- te, uma analgesia pós-operatória inadequada.
cepção errada de que a dor é normal e esperada
durante o processo de envelhecimento e podem ser Doença renal
estóicos no relato da sintomatologia. A doença renal crónica é reconhecidamente um
A avaliação efectiva da dor pode também ser factor de risco importante na morbilidade e mortali-
difícil por disfunção cognitiva associada com delírio dade pós-operatória, sendo uma patologia coexis-
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e demência. O compromisso auditivo e visual torna tente frequente em doentes vasculares .
as técnicas de avaliação, tais com a escala visual Alguns problemas associados com a abordagem
analógica, difíceis de utilizar. perioperatória destes doentes e que devem ser con-
As alterações cardiovasculares, pulmonares, hepá- siderados incluem:
ticas e renais podem afectar a administração, efeitos – Alterações do metabolismo e excreção dos fár-
colaterais e clearance dos fármacos analgésicos. macos.
Embora o processo de envelhecimento por si não – Retenção de sal e água, causando HTA e ede-
altere o limiar ou a tolerância à dor, os idosos são nor- ma.
malmente mais sensíveis aos efeitos analgésicos e – Hipercaliemia.
colaterais dos opióides. Terapêuticas alternativas po- – Acidose.
dem ser usadas em combinação com os opióides para – Hipocalcemia com hiperfosfatemia.
limitar os efeitos dose- dependentes destes fármacos. – Anemia.
– Doença cardíaca isquémica, aterosclerose ace-
Patologia associada lerada, cardiomiopatia urémica.
Devido às comorbilidades significativas uma ava- – Aumento do tempo de hemorragia, por altera-
liação pré-operatória cuidadosa é essencial para ção da função plaquetária.
determinar a aptidão para a cirurgia e para formular – Desnutrição.
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um plano anestésico/analgésico adequado . – Atraso do esvaziamento gástrico.
– Compromisso do sistema imunitário com maior
probabilidade de infecções.
Doença coronária – Cuidados com fístulas e shunts.
A maior parte da mortalidade perioperatória e – Nefrotoxicidade dos meios de contraste angio-
pós-operatória tardia na doença vascular periférica gráficos.
é atribuída à doença cardíaca aterosclerótica .
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Terapêutica anticoagulante/antiagregante
Hipertensão arterial (HTA) A hemostase em doentes do foro cardiovascular é
A HTA afecta quase 60% dos doentes submetidos um desafio cada vez mais complexo de ultrapassar .
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a cirurgia por doença vascular periférica. Tratar doentes com patologia cardiovascular re-
A avaliação da lesão dos órgãos terminais deve quer uma compreensão da etiologia da doença e
DOR ser feita, estando os doentes hipertensos mal con- das características predisponentes que tornam es-
trolados em risco aumentado de instabilidade car-
tes doentes hipercoaguláveis, hipertrombóticos, am-
8 diovascular e complicações cardíacas . bos ou nenhum.
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