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C.G. Ramos: Analgesia Perioperatória em Cirurgia Vascular
e os seus níveis plasmáticos não se correlacionam sam quer pela via epidural, lombar (L1-L2) alta ou
com analgesia. torácica baixa (T7-T9), utilizando perfusões de anes-
O objectivo principal da técnica de PCA é manter tésico local associados a opióides, quer pela via en-
e não estabelecer a analgesia – antes de iniciar a dovenosa, utilizando maioritariamente opióides .
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PCA, é essencial estabelecer a analgesia através da A utilização da via epidural para analgesia, que
administração de doses de bolus em quantidade deve ser continuada 2-4 dias no pós-operatório,
suficiente. apresenta algumas vantagens – além de uma exce-
No que se refere à perfusão de base, muitos clí- lente analgesia e de um grau mínimo de sedação,
nicos evitam-na pelo potencial de aumentar os efei- em comparação com a PCA ev., condiciona também
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tos colaterais, incluindo sedação e depressão res- uma menor duração do íleo .
piratória; esta perfusão de base pode, no entanto, No que se refere à cirurgia arterial periférica, trata-se
ser útil – durante a noite, pode melhorar a qualidade de intervenções que podem ser prolongadas, não en-
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do sono e reduzir a dor após longos períodos de volvendo, habitualmente, grande perda de sangue .
sono, quando as doses a pedido não são adminis- A dor pós-operatória após estas intervenções pode
tradas. Estas perfusões de base são muito eficazes ser desde ligeira a intensa e durar dias a semanas;
em doentes que já faziam terapêutica com opióides se verificarem alterações anatómicas ou lesão neu-
para dor crónica antes da cirurgia. ropática, a dor pode durar semanas a anos 10,35 .
A PCA é considerada a forma mais segura de A utilização de analgesia epidural perioperatória,
administração eficaz de opióides apesar de alguns embora controversa, tem vantagens.
relatos de depressão respiratória (aproximadamente Embora muitos estudos tenham sido realizados,
0,5%); este facto deve ser considerado, sobretudo como foi referido anteriormente, tem sido difícil de-
nos grupos de maior risco, como idosos e doentes monstrar estas vantagens da anestesia e analgesia
com apneia do sono. regional no que diz respeito à sobrevida do doente
Em resumo, a PCA é uma modalidade terapêutica e do enxerto; não devemos esquecer também os
de analgesia eficaz e segura, que apresenta efeitos riscos associados à realização de analgesia regio-
colaterais mínimos; pode e deve ser adaptada a cada nal do neuroeixo nestes doentes.
doente, já que a dose ideal de fármacos pode ser A analgesia por via endovenosa, através de PCA,
alcançada pela possibilidade de alterar as doses, que perfusão endovenosa ou em administração fraccio-
se ajustam assim às necessidades dos doentes. nada, com morfina ou tramadol, por exemplo, cons-
O tratamento óptimo da dor pós-operatória depende titui, no entanto, uma boa alternativa.
da avaliação continuada da intensidade da dor e da Relativamente às amputações, vamos encontrar
monitorização dos efeitos colaterais da terapêutica; aqui alguns dos doentes com mais patologia asso-
a avaliação deve ser seguida por ajustes apropria- ciada do universo dos doentes vasculares. A dor
dos da dose de bolus, do intervalo de lock-out, e da pós-amputação é geralmente moderada a grave em
perfusão basal, se utilizada. intensidade e pode durar de dias a anos .
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Apresenta a vantagem de eliminar os tempos de Se os doentes já apresentam dor pré-operatória,
resposta dos enfermeiros, o que diminui a dependência uma intervenção terapêutica agressiva para reduzir
dos doentes em relação ao pessoal de enfermagem a percepção da dor foi teorizada, visando diminuir a
e permite maior actividade espontânea dos doentes. incidência de dor do membro fantasma pós-operató-
A aceitação é globalmente elevada, tanto por par- ria, como foi atrás referido. A administração de per-
te dos doentes como dos enfermeiros . fusões pré-operatórias de anestésicos locais, sozi-
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Durante a transição da administração da analgesia nhos ou em conjunto com opióides, pode ser útil na
por via parentérica para a via oral é importante avaliar minimização da dor do membro fantasma no pós-
a eficácia das doses prescritas frequentemente para operatório, embora esta abordagem permaneça con-
evitar uma analgesia inadequada; as doses orais de- troversa, uma vez que os estudos já realizados não
vem ser aumentadas gradualmente se a analgesia for têm produzido resultados consistentes. Alguns estu-
insuficiente. A utilização simultânea de vários grupos dos utilizando perfusões pré-operatórias não de-
de analgésicos (opióides, AINE, paracetamol) é tam- monstraram qualquer benefício; isto pode reflectir a
bém aqui uma mais valia. ausência de técnicas uniformes e a variedade de
Referir-nos-emos agora com um pouco mais de situações que levam à necessidade de amputação.
detalhe aos tipos de intervenções mais frequentes Num estudo de Nikolajsen, et al. , em 1997, verifi-
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em cirurgia vascular e as opções analgésicas mais cou-se que doentes a fazer bupivacaína e morfina
adequadas a cada caso. por via epidural durante o pré-, intra- e pós-operatório
Começando pela cirurgia da aorta abdominal, quer não apresentaram qualquer redução na incidência de
para correcção cirúrgica de aneurisma quer para tra- hiperalgesia e alodinia na primeira semana e aos
tamento de doença arterial do sector aortoilíaco, con- 6 meses quando comparados com doentes a fazer
diciona uma laparotomia, com abordagem trans ou os mesmos fármacos por via epidural apenas no pós-
retroperitoneal, o que é fonte de dor significativa no operatório. Outros estudos, utilizando perfusões de
pós-operatório. São intervenções potencialmente pro- anestésicos locais nos nervos ciático e tibial posterior,
longadas, que podem envolver grande perda de san- que são métodos seguros e eficazes de tratar a dor
gue, e cuja necessidade de ventilação no pós-opera- pós-operatória, não demonstraram prevenção de DOR
tório não pode ser excluída à partida. As opções para dor residual ou do membro fantasma em doentes
analgesia pós-operatória neste tipo de cirurgia pas- submetidos a amputação devido às alterações isqué- 13