Page 18 Volume 16 - N.4 - 2008
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C. Nóbrega, et al.: Nevralgia do Trigémio na Esclerose Múltipla: Que Diferenças?
recurrence, involvement of three branches of trigeminal nerve and hypoesthesia among MS patients, although
only with the last two aspects the difference is statistically significant (p = 0.029 and p = 0.009, respectively).
Among patients with pain over trigeminal nerve’s three branches, 91.6% (n = 11) had an abnormal brain MRI
(p = 0.007), and 75% (n = 9) had demyelinising lesions in the pons. A similar relation was found among
patients with hypoesthesia: all of them had an abnormal MRI (p = 0.001), and 80% had demyelinising lesions
in the pons. Treatment options did not differ between groups.
Conclusions. Before a patient with TN, young age, hypoesthesia or pain over trigeminal nerve’s three branches
should alert for MS. This study shows some clinical differences in TN between patients with and without MS,
nonetheless it does not seem to determine a different therapeutic strategy. There could be though an
heterogeneity among MS patients, not shown in the present study and requiring further investigation in order
to characterise, classify and determine the different treatment approaches. (Dor. 2008;16(4):16-20)
Corresponding author: camila.r.nobrega@gmail.com
Key words: Trigeminal neuralgia. Multiple sclerosis.
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Introdução Internacional de Cefaleias para NT idiopática ou
A NT é uma entidade clínica com critérios de secundária a EM foram incluídos. O diagnóstico
diagnóstico bem definidos que cursa com dor de EM foi feito de acordo com os critérios de
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intensa e incapacitante de tipo choque eléctrico, McDonald revistos . Foi preenchido um formulá-
com início e terminação abruptos, espontânea rio próprio de admissão e seguimento para cada
ou desencadeada por estímulos variados e com doente e todos realizaram RM cranioencefálica
localização no território de distribuição do nervo (RM-CE). Foram analisados os dados demográfi-
trigémio. A forma clássica não apresenta défices cos, as características da dor (existência de dor
neurológicos clinicamente evidentes e, por defi- entre os paroxismos, a intensidade e frequências
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nição, não pode ter uma causa aparente . O dos paroxismos, a presença de desencadeantes,
mecanismo parece ser a geração espontânea e a bilateralidade), a presença de hipostesia no
condução efática de impulsos nervosos em zo- território do trigémio, as alterações na RM-CE, o
nas de desmielinização das fibras sensitivas na número e tipo de fármacos prescritos, a duração
raiz do nervo trigémio ou, menos frequentemen- das queixas até à remissão, a recorrência e a
te, no tronco cerebral. A principal causa apon- referenciação para tratamento cirúrgico. Foi feita
tada é a compressão vascular na origem da raiz a análise descritiva e comparativa com aplica-
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do trigémio . Contudo, também pode ser cau- ção de testes (χ e T-teste) para detectar dife-
sado por lesões desmielinizantes primárias do renças com um intervalo de confiança de 95%.
sistema nervoso central, surgindo em 2% dos
casos associado ao diagnóstico de EM . Tem Resultados
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uma prevalência de 15/100.000 habitantes e, na Foram analisados 20 doentes com NT clássica
população com EM, a prevalência é francamen- e 21 doentes com NT e EM. Os resultados estão
te maior, estimando-se cerca de 2 a 4% de do- expressos no quadro 1 e nas figuras 1 a 4.
entes afectados 5-10 . Além da maior prevalência, Verificou-se uma predominância de doentes do
a NT na EM tem particularidades que justifica- género feminino contudo com distribuição seme-
ram a criação de uma entidade própria na Clas- lhante em ambos os grupos (70 vs 71,4% de mu-
sificação Internacional de Cefaleias – dor facial lheres) (Quadro 1). A população com EM é signi-
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atribuída a EM . Esta é uma entidade mais ficativamente mais jovem (37,2 anos ± 10,3 vs
abrangente, incluindo mesmo a dor facial não- 48,4 anos ± 8,6, p = 0,001) (Quadro 1).
paroxística desde que em estreita relação tem- Relativamente às características do grupo
poral uma lesão desmielinizante nas vias trigé- com EM, os doentes com EM tinham este diag-
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mino-talâmicas . Com este trabalho propomo-nos nóstico em média há 9,6 + 11,1 anos, contudo
a estudar as características clínicas da NT em a NT foi forma de apresentação da EM em 28,6%
doentes com e sem EM, na busca de eventuais (n = 6) (Quadro 1).
elementos distintivos dos dois grupos.
Das características da dor analisadas, en-
contrámos uma maior frequência nos doentes
Metodologia com EM de dor contínua, sintomas bilaterais,
Desenhamos um estudo observacional prospec- recorrência das queixas, envolvimento dos
tivo que foi desenvolvido na consulta de Neurologia três ramos do trigémio e de hipostesia, mas DOR
ao longo de um ano. Os doentes que preen- apenas nos dois últimos a diferença é estatis-
chiam os critérios de diagnóstico da Classificação ticamente significativa (p = 0,029 e p = 0,009 17