Page 18 Volume 17 - N.3 - 2009
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Dor (2009) 17

Osteoporose e Dor



Filipe Antunes




Sendo dois dos conceitos nosológicos mais fre- uma contractura muscular paravertebral local, resultan-
quentes na prática clínica de quem lida com patologia te de alterações da biomecânica da coluna vertebral e
do foro musculoesquelético, nem sempre estão asso- a uma limitação do arco de movimento segmentar.
ciados, mesmo na abordagem do doente osteoporó- A dor vai-se mantendo ao longo do tempo, predomi-
tico. Esta particularidade deve-se em meu entender à nantemente de carácter mecânico e acompanhada de
subvalorização clínica da sintomatologia álgica na incapacidade progressiva para a execução corrente de
osteoporose, em que muitas das vezes nos preocu- tarefas do dia-a-dia, o que acaba por determinar a pro-
pamos mais com valores numéricos resultantes de cura de apoio médico. Só nessa altura é que o quadro
estudos complementares de diagnóstico do que na clínico é ponderado e eventualmente estabelecido.
valorização da história clínica de quem nos procura. Neste ponto, não será tarde para reafirmar a neces-
Sendo a osteoporose uma doença metabólica ca- sidade de colheita de uma história clínica cuidada,
racterizada pela redução de massa óssea e deteriora- valorizando de forma atenta e pormenorizada todas
ção da microestrutura do osso, com consequente au- as queixas do doente, nomeadamente a dor, através
mento da fragilidade óssea e risco de fractura, torna da monitorização das suas características, frequência
real e efectiva a presença de quadros álgicos de carác- e intensidade. Devemos também complementar a
ter predominantemente nociceptivo nesta população consulta com a realização do exame objectivo do
de doentes. Esta situação é prática, se não totalmente doente, em que a simples inspecção/observação da
diagnosticada no caso de fracturas de membros, postura adoptada, pode ser um valioso contributo na
sobretudo na fractura da anca, mas continua a passar elaboração de um diagnóstico preciso. Os arcos de
despercebida no caso das fracturas vertebrais. movimento articular do indivíduo, são outro dos aspec-
As fracturas osteoporóticas resultam em dor e con- tos fundamentais na execução deste exame, de forma
sequentemente em limitação de actividade e restrição a estabelecer um plano terapêutico exequível e eficaz.
de participação nas actividades de vida diária. Esta Este último não é nem será fácil de obter se apenas
situação envolve cuidados de hospitalização no caso tivermos em consideração as opções farmacológicas
de fracturas da anca, nomeadamente com o aumento usuais na terapêutica da osteoporose. Para além da
da prevalência da osteoporose nas idades mais avan- procura de melhoria na densidade e qualidade do osso,
çadas e com taxas de mortalidade entre os 20 e 24%, devemos ter necessariamente em conta o alívio da dor,
no primeiro ano pós-fractura . Nos restantes sobre- razão provável da procura do aconselhamento médico.
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viventes, a perda de independência funcional, parti- O principal objectivo é mesmo reduzir a dor e as
cularmente na marcha e a necessidade de assistên- suas consequências em termos funcionais e de qua-
cia pessoal, são factores incapacitantes importantes lidade de vida.
na vertente social e na qualidade de vida. Sendo a fractura osteoporótica a razão de existência
No caso das fracturas vertebrais esta realidade não de dor, interessa obviamente a sua redução, pelo que as
é tão marcada, pelo subdiagnóstico do quadro clíni- intervenções no próprio estilo de vida são determinantes
co. Estima-se que apenas um terço das fracturas ver- para o sucesso do plano terapêutico. Neste sentido in-
tebrais sejam diagnosticadas clinicamente . teressa desde logo estabelecer como meta a cessação
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O surgimento de fracturas osteoporóticas é a prin- tabágica e a redução do consumo excessivo de álcool.
cipal razão para o aparecimento da dor. No caso dos A ementa nutricional é também importante, nome-
membros, envolve na sua maioria um evento preciso adamente na ingestão de fibras vegetais e aporte
no tempo, usualmente um traumatismo, que condicio- equilibrado de vitaminas e elementos químicos, em
na a sintomatologia aguda com dor intensa e incapa- que o cálcio é fundamental, dado o seu papel no
cidade funcional momentânea. No caso das fracturas metabolismo do tecido ósseo. Uma ingestão adequa-
por compressão vertebral, usualmente dorsolombares, da diária de 1.200 mg de cálcio e de 400 a 800 UI
a dor surge mais ou menos intensa, diminuindo depois de vitamina D são factores importantes na diminuição
de gravidade ao fim de algumas semanas ou meses da taxa de perda óssea .
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de evolução. Esta dor associa-se frequentemente a A prescrição de um programa cinesiológico de exer-
cício específico deve antes de mais ser plausível para
o doente que nos procura. Deve ser adaptado à sua
condição física, psicológica, económica e social, pelo
que não basta ser genérico e propor medidas globais
com o intuito de mobilizar o doente. O programa per-
Medicina Física e de Reabilitação/Unidade de Dor
Hospital de Braga sonalizado deve assentar em princípios de recrutamen- DOR
Portugal to muscular aeróbio, enfatizando as componentes de
E-mail: filipe.j.antunes@gmail.com correcção postural e fortalecimento selectivo muscular, 17
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