Page 19 Volume 17 - N.3 - 2009
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sem esquecer orientações educacionais de poupança A prescrição de ortóteses corporais, particularmen-
energética e de prevenção de quedas, dados os gru- te no caso da coluna vertebral, é também uma linha
pos etários mais frequentemente atingidos. de intervenção a ser ponderada . Neste caso, interes-
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A intervenção farmacológica visa reduzir a possibili- sa conhecer bem as diferentes soluções existentes no
dade de ocorrência de fracturas ósseas (iniciais ou mercado e ajustá-las ao doente em causa. Utilizamos
subsequentes), mas também o próprio alívio da dor. No mais comummente ortóteses toracolombares ou tora-
primeiro caso dispomos de agentes anti-reabsortivos colombossagradas de restrição de flexão ou extensão
que atrasam ou interrompem a reabsorção óssea do vertebral. Para isso é necessário um controlo radioló-
ciclo de remodelação óssea e que incluem os bifosfo- gico prévio, explicar detalhadamente objectivos, van-
natos (alendronato, ibandronato, risedronato, pamidro- tagens e desvantagens da proposta terapêutica e
nato e ácido zoledrónico), a calcitonina e o modulador sobretudo, ter uma atitude pedagógica na colocação
selectivo dos receptores de estrogénio, raloxifeno; os e utilização da ortótese vertebral. Pretende-se a esta-
agentes anabólicos como a teriparatida que estimula a bilização articular, a diminuição da dor, optimizar a
formação do osso e o ranelato de estrôncio com um independência funcional e a melhoria da qualidade
mecanismo de acção dupla, estimulando a formação de vida do doente.
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de tecido ósseo e diminuição de reabsorção óssea . A intervenção cirúrgica no doente osteoporótico é
No segundo caso, de alívio da dor, devemos con- outra proposta terapêutica possível. Utilizam-se duas
siderar os fármacos analgésicos nas suas múltiplas técnicas minimamente invasivas por via percutânea,
apresentações (não-opióides, opióides minor e ma- a cifoplastia e a vertebroplastia, que visam o preen-
jor), eventualmente complementados com agentes chimento da vértebra colapsada, tentando restituir a
coadjuvantes. Estes poderão ser importantes, no caso sua altura inicial e corrigir a sua angulação. Diferem
de valorizarmos aspectos da dor de índole mista com no facto da primeira utilizar um balão insuflado dentro
algum componente neuropático associado, que em- do corpo vertebral colapsado, que depois é preenchido
bora não frequente, pode contudo coexistir. Como ele próprio com cimento de forma controlada; ao con-
sempre, devemos instituir esquemas farmacológicos trário, a vertebroplastia visa o preenchimento directo
terapêuticos de acordo com a avaliação da intensida- da vértebra sem a utilização de balão. Os recentes
de da dor e tendo em atenção as doses mínimas resultados de estudos randomizados controlados não
eficazes para cada situação. A terapêutica deve tam- mostraram benefício da vertebroplastia relativamente
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bém ter em conta os efeitos laterais dos fármacos que ao grupo de controlo , pelo que na actualidade a
estamos a pensar utilizar, sobretudo pela possibilida- maioria dos cirurgiões que actuam nesta área tera-
de real de termos um doente polimedicado pela co- pêutica tem privilegiado a cifoplastia.
morbilidade existente, dado serem os grupos etários Recordaria no final desta reflexão o primado de
mais idosos, os mais frequentemente atingidos. todos os valores na Medicina: o doente. O doente que
A utilização de analgésicos não-opióides parece no caso em apreço provavelmente estará subdiag-
ser sensata como primeira medida farmacológica. O nosticado, subvalorizado e subtratado, dada a plêia-
paracetamol isolado ou em associação é uma boa de de circunstâncias decorrentes da sua patologia, e
arma terapêutica, pelos escassos efeitos laterais que para o qual reclamarei sempre atenção nas suas múl-
apresenta e desde que correctamente titulado. Outros tiplas facetas. Sobretudo no caso da dor, afinal a razão
analgésicos de acção não inteiramente definida, provável pela qual sou e somos procurados enquanto
como o caso da flupirtina e em que o componente de profissionais de saúde.
relaxamento muscular também existe, poderão ser
outra alternativa a ter em conta, mormente nos casos Bibliografia
em que temos associado um espasmo muscular para- 1. Cooper C, Atkinson EJ, Jacobsen SJ, O’Fallon WM, Melton III LJ.
vertebral. Os anti-inflamatórios não-esteróides (AINE), Population-based study of survival after osteoporotic fractures. Am
J Epidemiol. 1993;137:1001-5.
actuando como inibidores da síntese periférica de 2. Leibson CL, Tosteson AN, Gabriel SE, Ranson JE, Melton LJ. Mortality,
prostaglandinas, são uma outra alternativa, necessa- disability, and nursing home use for persons with and without hip frac-
riamente em terapêuticas de curto prazo e se prescri- ture: a population-based study. J Am Geriatr Soc. 2002;50:1644-50.
tas em fase inicial, aguda, pós-fractura, pelo compo- 3. Delmas PD, van de Langerijt L, Watts NB, et al. IMPACT Study
nente inflamatório associado nesta situação. A sua Group. Underdiagnosis of vetebral fractures is a worldwide problem:
the IMPACT study. J Bone Miner Res. 2005;20:557-63.
manutenção a médio e longo prazo, não sendo lógica, 4. Shea B, Wells G, Cranney A, et al. Osteoporosis Methodology
poderá mesmo ser prejudicial, pelos efeitos laterais Group; Osteoporosis Research Advisory Group. Calcium supple-
diversificados que apresentam. A prescrição de opi- mentation on bone loss in postmenopausal women. Cochrane Da-
tabase Syst Rev. 2004;(1):CD004526.
óides major, nas suas múltiplas apresentações, sendo 5. Reginster JY. Managing the osteoporotic patient today. Bone.
uma outra possibilidade, deve ser reservada para os 2007;40:S12-8.
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casos mais renitentes de alívio de dor . 6. Shaladi AM, Crestani F, Tartari S, Piva B. Our experience in the
chemical spinal neuromodulation in chronic pain from spinal col-
Ainda dentro das opções terapêuticas conservadoras, lapse due to osteoporosis. Clin Ter. 2009;160(6):441-4.
devemos considerar outras técnicas não farmacológi- 7. Fink M, Kalpakcioglu B, Karst M, Bernateck M. Efficacy of a flexible
cas. Alguns agentes físicos ou técnicas de fisioterapia orthotic device in patients with osteoporosis on pain and activity of
daily living. J Rehabil Med. 2007;39(1):77-80.
visam o aquecimento e posterior relaxamento de tecidos 8. Kallmes DF, Comstock BA, Heagerty PJ, et al. A randomized trial of
musculares. Esta prática, muito usual no quotidiano da vertebroplasty for osteoporotic spinal fractures. N Eng J Med.
DOR Medicina Física e de Reabilitação, pode e é de facto 9. Buchbinder R, Osborne RH, Ebeling PR, et al. A randomized trial of
2009;361(6):569-79.
utilizada na presença de contractura muscular asso-
18 ciada à dor por colapso vertebral. vertebroplasty for painful osteoporotic vertebral fractures. N Eng J
Med. 2009;361(6):557-68.
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