Page 11 Volume 18 - N.1 - 2010
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Dor (2010) 18
Analgesia sistémica – opióides transitória e facilmente ultrapassável pelo re-
curso a oxigénio suplementar e redução da
Os opióides sistémicos têm sido largamente dose utilizada 21,22,28,29,33,34 . A sedação é referi-
empregues como método analgésico no traba- da em muitos estudos, mas raramente é acen-
lho de parto. A sua popularidade tem sido con- tuada 21-23,29,34,35 . As náuseas e os vómitos apre-
testada, em alguns artigos publicados, devido sentam uma incidência variável, entre 19 e 48%
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aos efeitos secundários maternos e neonatais e conforme os estudos . De realçar o facto de
à fraca eficácia analgésica 19,20 . No entanto, no- estes efeitos ocorrerem com alguma frequência
vos fármacos e novos equipamentos têm im- durante o trabalho de parto, mesmo sem anal-
pulsionado a utilização desta modalidade anal- gesia. O prurido, quando presente, é descrito
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gésica . Apesar destes desenvolvimentos, a como moderado e não necessitando de terapêu-
analgesia do neuroeixo mantém-se o método tica específica 34,35 , ou como intenso, obrigando
mais eficaz no trabalho de parto, sendo a anal- à suspensão do fármaco . Não existe evidência
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gesia sistémica reservada para situações em científica de instabilidade hemodinâmica ou rigi-
que a analgesia regional está contra-indicada, dez muscular associadas à administração de re-
não está disponível ou é recusada pela grávi- mifentanilo como analgésico no trabalho de par-
da 1,19,21-24 . to. Os padrões da frequência cardíaca fetal, o
A petidina foi introduzida em 1939 e, apesar índice de Apgar, o sangue do cordão umbilical
de ser o opióide mais utilizado por via sistémi- e as escalas de avaliação neurocomportamental
ca 1,25 , a sua eficácia analgésica no trabalho de dos recém-nascidos mostraram variações den-
parto tem sido questionada 20,25 . Num estudo pu- tro dos padrões normais 19,21,22,24,29,30,32,34,35 .
blicado em 1996, concluiu-se que a petidina O recurso à analgesia controlada pelo doente
apresenta um efeito sedativo marcado associa- (PCA) em bolus, perfusão contínua ou associa-
do a um modesto efeito analgésico . Este mo- ção dos dois métodos, parece adequar-se ao
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desto efeito analgésico é corroborado por outro perfil farmacocinético do remifentanilo e ao pa-
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estudo realizado em 2004 . Os efeitos adversos drão cíclico da dor do trabalho de parto, adi-
maternos e fetais, associados aos opióides, fo- cionando vantagens à analgesia, tais como
ram avaliados em estudos comparativos que menores efeitos secundários, maior satisfação
incluíram a petidina 22,27-29 . Um dos estudos foi materna, melhoria nas escalas de dor e menor
interrompido devido aos baixos valores de Ap- taxa de conversão para analgesia do neuroei-
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gar . A depressão do neonato associada à pe- xo 21,28,35 . São vários os estudos que avaliam a
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tidina é um efeito adverso bem documentado . eficácia analgésica do remifentanilo no trabalho
As náuseas, os vómitos e a depressão respi- de parto, mas a dose ideal e o método de ad-
ratória materna foram descritos noutros traba- ministração mais adequado ainda são pontos
lhos 27-29 . Os efeitos adversos da petidina re- controversos 19,21-24,30,32-35,37,38 . Doses mais eleva-
sultam não só de uma semivida prolongada das com intervalos de bloqueio mais curtos
materna (2,5 a 3 h) e fetal (18 a 23 h), mas correlacionam-se com maior eficácia analgésica
também da acumulação de metabolitos activos e maior incidência de efeitos secundários mater-
(ex.: norpetidina, com uma semivida de 60 h no nos, como depressão respiratória, náuseas, vó-
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neonato) . mitos e sedação. Doses mais baixas e intervalos
A dor no trabalho de parto é uma dor episódi- de bloqueio maiores estão associados a menor
ca e intensa, devendo o opióide ideal apresentar incidência de efeitos secundários, mas menor
um perfil farmacocinético adequado a esta situ- eficácia analgésica. Factores como a antecipa-
ação particular. Neste sentido surgiu o remifen- ção da próxima contracção pela grávida, a
tanilo, que é um opióide sintético, agonista se- adequação das doses à evolução da dor e à
lectivo dos receptores μ-1, de curta duração de progressão do trabalho de parto, uma perma-
acção, pouco solúvel e com grande ligação às nente monitorização respiratória e vigilância da
proteínas . Apresenta um início de acção rápi- grávida e um aumento progressivo da dose do
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do, sendo metabolizado por hidrólise através das bolus, de modo a dar resposta às necessidades
esterases plasmáticas e tecidulares, não especí- individuais da grávida, contribuem para cimen-
ficas, em metabolitos que são praticamente inac- tar o uso do remifentanilo na analgesia do trabalho
tivos 19,30-32 . A sua rápida eliminação leva a que de parto 21,24,28
. Apesar de todos os benefícios do
não haja acumulação, mesmo em administra- remifentanilo, a sua segurança ainda carece de
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ções prolongadas . Atravessa rapidamente a confirmação e o seu risco/benefício deve ser
placenta, sendo igualmente metabolizado pelo ponderado para cada caso.
neonato 19,30-32 . Pelas suas características farma- O fentanilo, o alfentanilo e o sufentanilo são
cocinéticas, aparentemente, o remifentanilo é o outros opióides já utilizados por via endovenosa
opióide ideal para o alívio da dor cíclica do tra- no trabalho de parto. O fentanilo apresenta uma
balho de parto. Contudo, os efeitos adversos, potência 800 vezes superior à petidina, com pi-
maternos e fetais, associados aos opióides po- co-de-acção em três a quatro minutos após a
DOR dem limitar a sua utilização. A depressão respi- administração, mas apresenta também importan-
ratória, materna e fetal, é o mais preocupante,
tes efeitos adversos no neonato, com excessivo
10 mas na maioria dos estudos é descrita como recurso à naloxona no pós-parto . O alfentanilo
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