Page 12 Volume 18 - N.1 - 2010
P. 12



L. Cordeiro, et al.: Analgesia do Trabalho de Parto: Perspectivas e Avanços
tem rápido início de acção e curta duração de associada a um consumo de doses elevadas de
acção, mas a sua eficácia analgésica é inferior anestésico local e a um possível bloqueio motor
à do fentanilo e apresenta um efeito depressor profundo, quando comparada com a administra-
19
neonatal superior ao da petidina . O sufentanilo ção intermitente de bolus 46,47 . Experimentalmen-
apresenta uma baixa potência e um potencial te, foi demonstrado que os bolus permitem uma
para a depressão neonatal . distribuição mais uniforme do fármaco, devido à
19
O recurso ao remifentanilo, nos casos de re- maior pressão aplicada para a administração do
cusa de técnica do neuroeixo ou indisponibili- mesmo, originando um bloqueio sensitivo mais
dade para realização da mesma, parece uma eficaz .
48
alternativa promissora. No entanto, as técnicas Na última década, verificou-se uma tendência
do neuroeixo permanecem as técnicas de refe- crescente para a utilização da técnica sequen-
rência para o alívio da dor no trabalho de parto, cial na analgesia do trabalho de parto. O seu
apesar de também estas não serem isentas de rápido início (dois a cinco minutos), associado
riscos. a um mínimo bloqueio motor, permite uma maior
mobilidade por parte da grávida 1,49,50 . Esta téc-
nica combina as vantagens da analgesia intra-
Analgesia locorregional tecal com a versatilidade do cateter epidural, o
Historicamente, a técnica epidural começou qual pode ser utilizado durante todo o trabalho
39
por ser utilizada recorrendo à administração de de parto . Fármacos como os opióides e os
uma dose única de grandes volumes de um anestésicos locais, em baixas doses, isolados
anestésico. Como a analgesia era de curta du- ou em associação 39,49,50 , são utilizados de modo
ração, impunha-se a necessidade de procedi- a tirar o maior benefício desta técnica, alcançan-
mentos epidurais repetidos. Com o advento do do uma analgesia eficaz e menos efeitos adver-
cateter epidural, a suplementação analgésica, sos, com elevada satisfação materna. Complica-
durante o trabalho de parto, passou a ser facili- ções como analgesia insuficiente, hipotensão e
tada . Inicialmente, a dose de anestésico local depressão respiratória maternas, retenção uriná-
39
utilizada, para além da eficácia analgésica, ria, prurido (habitualmente não necessitando de
apresentava também uma incidência elevada de tratamento), dor no local da injecção, cefaleias
bloqueio motor e hipotensão materna 1,39 . Nos pós-punção da dura (baixa incidência), náuse-
anos 80, a descoberta dos receptores dos opi- as, bradicardia fetal e outras mais raras (migra-
óides no sistema nervoso central levou à asso- ção do cateter epidural, anestesia espinhal total,
ciação destes aos anestésicos locais, que actu- convulsões, meningite) podem estar presentes e
ando sinergicamente providenciavam uma maior implicam uma vigilância constante por parte do
qualidade analgésica, com menores doses de anestesiologista 1,39,41,50-53 . Por causar mínimo
cada fármaco e consequente minimização dos bloqueio motor, permitindo a deambulação , a
53
efeitos adversos 1,40 . Para além da eficácia anal- técnica sequencial tem sido referida como
gésica, a epidural tradicional (com recurso a walking epidural. Esta denominação pode ser
concentrações elevadas de anestésico local) igualmente aplicada na técnica epidural com
encontra-se associada a maior recurso à oxito- baixas doses de anestésico local, tanto em bo-
cina , a um trabalho de parto prolongado e a lus como em perfusão. A possibilidade de de-
41
42
maior risco de parto instrumentado . Não há ambulação no trabalho de parto aumenta a sa-
43
evidência de que a analgesia epidural esteja tisfação materna e parece ser superior com a
associada a um risco aumentado de cesariana, sequencial 54-56 . Estudos mostram que a deam-
dor lombar prolongada ou efeitos neonatais ad- bulação não influencia a duração do trabalho de
versos 43,44 . A satisfação materna, no que diz parto nem os níveis de dor 55-57 . Tanto a epidural
respeito ao alívio da dor, não parece ser influen- como a sequencial, associadas à deambulação,
43
ciada pela epidural . No entanto, uma metaná- são técnicas eficazes e seguras para a grávida e
lise comparando a epidural com a analgesia para o feto 54,56,58,59 , obviam a necessidade de es-
sistémica conclui que a satisfação materna é vaziamento vesical 57,59 , diminuem a incidência de
58
45
maior com a epidural . parto instrumentado e implicam adequada moni-
No sentido de alcançar a técnica analgésica torização materna e fetal 51,54,58,60 . A sequencial
ideal e proporcionar uma experiência aprazível, apresenta um efeito analgésico inicial rápido, ní-
procurou-se a flexibilidade e adaptabilidade da veis de dor inferiores na primeira hora, doses
analgesia do neuroeixo aos vários momentos do inferiores de anestésico local e alterações hemo-
trabalho de parto. As baixas doses de anestési- dinâmicas nos primeiros 30 minutos 54,58,60,61 . A
cos locais, a associação de opióides, a perfusão epidural com doses baixas apresenta menor
epidural contínua, a técnica sequencial, a deam- consumo de oxitocina e de anestésico local,
56
bulação durante o trabalho de parto e a analge- quando associada à deambulação .
sia epidural controlada pelo doente (PCEA) são A PCEA foi introduzida no trabalho de parto
o reflexo dessa procura. em 1988, demonstrando ser uma técnica segura
A perfusão epidural contínua, apesar de apre- e eficaz 62-65 . Permite que a grávida controle a DOR
sentar uma analgesia mais consistente e uma dose de fármaco a administrar por via epidural
diminuição do trabalho do anestesiologista, está segundo as suas necessidades e as alterações 11
   7   8   9   10   11   12   13   14   15   16   17