Page 13 Volume 18 - N.2 - 2010
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Dor (2010) 18








Costela
Costela
superior inferior


Pleura

Figura 1. Sonoanatomia da região posterior do tórax e
identificação dos níveis a bloquear.
Nota: as imagens apresentadas não são as
correspondentes à doente, dada a existência de
problemas técnicos na gravação das mesmas aquando Superior → inferior: músculo intercostal externo,
da realização do bloqueio.
interno e íntimo.
Local da administração dos fármacos aquando do
bloqueio
bilateral (níveis T2 a T4), por hiper-hidrose palmar,
sob anestesia geral balanceada. No período in- Figura 2. Anatomia da região intercostal.
tra-operatório foi administrado fentanilo 0,1 mg, Nota: as imagens apresentadas não são as
correspondentes à doente, dada a existência de
paracetamol 1 g e cetorolac de trometamina problemas técnicos na gravação das mesmas aquando
30 mg. Não se registaram intercorrências anes- da realização do bloqueio.
tésico-cirúrgicas durante o procedimento.
Na Unidade de Cuidados Pós-Anestésicos
(UCPA), foi administrada petidina 50 mg ev., por
queixas álgicas (escala visual analógica [EVA]: Aos 60 e 120 dias após bloqueio classifica a dor
8/10), com melhoria clínica (registos da UCPA 2/10 e 180 dias depois, refere ausência de dor
– EVA: 2/10). Durante o internamento hospitalar (EVA: 0/10).
a doente referiu dor severa (EVA: 8/10) e respos-
ta fruste ao protocolo de dor aguda prescrito Discussão e conclusões
(EVA: 6/10; paracetamol 1 g, 6/6 h, ev., cetorolac A literatura revela que 25-60% dos doentes
de trometamina 30 mg, 12/12 h, ev. e tramadol submetidos a cirurgia torácica desenvolvem dor
100 mg, 8/8 h, ev., SOS). crónica. A CTVA, estando associada à manipu-
Treze dias após o procedimento, a doente foi lação dos nervos e músculos intercostais e sen-
referenciada à Unidade de Dor Crónica por dor do um procedimento mais prolongado do que a
severa (EVA: 9/10) de características neuropáti- toracotomia aberta, está comparativamente as-
cas, envolvendo o território dos nervos intercos- sociada a taxas de dor crónica, que oscilam
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tais T3 e T4 esquerdos. Durante este período, o entre os 22 e 63% . Apenas um estudo retros-
paracetamol e anti-inflamatório prescritos foram pectivo parece revelar taxas inferiores de dor
ineficazes. crónica associada à CTVA; porém, este mesmo
Após avaliação clínica, definiu-se como estra- estudo enviesa aspectos importantes como falta
tégia terapêutica a realização de BENI nos níveis de dados pré e pós-operatórios do doente e
supramencionados. Colocou-se a doente na po- pormenores cirúrgicos que seriam relevantes
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sição de Bench, abraçando uma almofada, por para as conclusões finais . Apesar de 50% dos
forma a melhor expor o campo (afastando a doentes submetidos a toracotomia referirem dor
omoplata da linha média) (Fig. 1). Após desin- um ano após o procedimento, quando esta é
fecção adequada da pele, a sonda linear (fre- tratada agressivamente, a incidência pode dimi-
quência 8-12 Hz) do ecógrafo Philips HD 11 foi nuir com significância clínica para 21%.
colocada em posição parassagital, na região Uma das estratégias adoptadas para a mini-
dorsal esquerda, entre a linha média e o bor- mização do desenvolvimento de dor crónica
do medial da omoplata, ao nível dos arcos pós-toracotomia (DCPT) é a abordagem eficaz
costais posteriores T3 e T4. Introduziu-se a da dor aguda, tendo em conta que um dos fac-
agulha 24 Ga x 25 mm Stimuplex A, B. Braun, tores preditivos da primeira é, precisamente, a
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out-of-plane, rasando o bordo superior da intensidade da segunda. O método habitual-
costela inferior e administrou-se 6 mg de ropi- mente adoptado para analgesia pós-toracotomia
vacaína a 0,2% e 4 mg de dexametasona, entre é a epidural torácica, técnica não isenta de efei-
os músculos intercostais interno e íntimo. O vo- tos secundários importantes: retenção urinária
DOR lume injectado foi dividido igualmente pelos dois (42%), náusea (22%), prurido (22%), hipotensão
nervos intercostais já mencionados (Fig. 2). Ve-
(3%) e depressão respiratória (0,07%). Acresce
12 rificou-se melhoria da dor após a técnica (1/10). ainda o facto de a colocação do cateter epidural
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