Page 9 Volume 18 - N.2 - 2010
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de conceito sobre a abordagem e tratamento nos pressupostos do Programa Nacional de
da dor e espelhando a subjectividade do fe- Controlo da Dor da Direcção-Geral da Saúde ,
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nómeno, haverá muitos doentes a não recebe- onde é referido que «(...) Todo o indivíduo tem
rem o tratamento mais adequado ao seu tipo direito ao adequado controlo da dor, qualquer
e intensidade de dor. Faz-nos isto pensar que que seja a sua causa, por forma a evitar sofri-
será de provável valia criar uma maior unifor- mento desnecessário e reduzir a morbilidade
mização de conceitos e de práticas no âmbito que lhe está associada (...)» e que «O contro-
dos CSP. lo da dor deve ser efectuado a todos os níveis
Por tudo isto, parece impor-se alguma altera- das redes de prestação de cuidados de saúde,
ção ao actual cenário de tratamento da dor cró- começando em regra pelos Cuidados de Saúde
nica no âmbito da MGF. Primários e prosseguindo, sempre que neces-
sário, para níveis crescentes de diferenciação
Melhorar o tratamento e especialização». Assim, idealiza-se a cons-
da dor crónica musculoesquelética tituição de uma consulta de dor, que consti-
A nova estrutura organizativa que tem vindo tuirá uma forma diferenciada, no âmbito dos
CSP, de prestação de cuidados aos doentes
a ser implementada ao nível dos CSP, com a com dor crónica motivada por patologia osteo-
criação das Unidades de Saúde Familiares articular, dada a sua grande prevalência neste
(USF) e dos Agrupamentos de Centros de Saúde sector.
(ACES) , veio proporcionar a possibilidade de Tratando-se de uma nova forma de prestação
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implementar tipos diferenciados de prestação de cuidados, o seu lançamento efectuar-se-ia de
assistencial, mais específicos e adequados às modo prospectivo, ainda com incertezas quan-
necessidades concretas dos grupos popula- to ao acolhimento de que seria alvo, tanto por
cionais e das patologias predominantes nos parte dos médicos como dos doentes. Por
utentes dos centros de saúde. Aos MF inte- isso, antes de avançar para a sua implanta-
grados em USF, é atribuída uma relativa flexi- ção, seria efectuado um inquérito junto dos
bilidade funcional para, através da contratua- médicos, questionando sobre o modo como
lização de serviços a prestar, desenvolverem avaliam as virtualidades deste novo serviço.
formas de atendimento que considerem mais Pensando que toda a mudança num sistema
úteis e necessárias. gera sempre resistências, o lançamento do
Assim, tendo em conta a elevada prevalên- questionário seria uma forma de abrir a dis-
cia da artrose, da lombalgia e de outras pato- cussão e proporcionar o esclarecimento que
logias do aparelho locomotor nos doentes que permitisse ultrapassar as diversas fases até à
são atendidos nos CSP e pensando nas con- obtenção de um compromisso de participação
tingências a que tais doentes ficam sujeitos no projecto .
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quando apenas «circulam» pelas habituais Da sua implantação resultará alguma mu-
consultas de MGF, parece-nos adequado que dança organizacional e de conceito quanto ao
venham a implementar-se programas de aten- tratamento da dor, pelo que o seu funcionamen-
dimento diferenciado. Devendo integrar-se no to poderá gerar «contágio», com emergência
conceito de contratualização de serviços das de novas atitudes gerais, mais consentâneas
USF, abrangeriam os doentes referidos, de com a melhoria de qualidade dos cuidados de
modo a prestar-lhes os cuidados diferenciados saúde.
necessários a uma melhoria geral do seu es- Vindo a ser um serviço a «enxertar» nos CSP
tado de saúde, onde avulta um adequado con- e intrinsecamente ligado aos MF, deverá ser
trolo da dor. De um modo muito genérico, visto por estes como uma forma complementar
imagina-se a criação de uma consulta de re- de apoio aos seus doentes, com quem não
ferência para encaminhamento de doentes poderão deixar de manter uma relação prefe-
com dor crónica do aparelho locomotor, parti- rencial e personalizada. Como referido, os do-
cularmente de portadores de artroses e de entes a admitir na nova consulta, provirão ex-
lombalgia. Seria um novo tipo de atendimento clusivamente de encaminhamento pelos
em que se concretizaria a abordagem espe- respectivos médicos.
cífica desses doentes, gerido por um MF ha- O tipo de cuidados a prestar inspirar-se-á
bilitado a lidar com a dor. Haveria possibilida- em guidelines nacionais ou internacionalmente
des de recorrer a meios complementares de reconhecidas, pressupondo um forte investi-
tratamento, como a Medicina Física e de Re- mento na educação do doente quanto à com-
abilitação, a consultadoria por ortopedistas e preensão e modo de lidar com as patologias
reumatologistas e a participação activa de em causa. Outro dos processos terapêuticos
psicólogo. que será imprescindível desenvolver, na mes-
Fundamentação e aspectos gerais ma linha de actuação, é o da Medicina Física
e de Reabilitação, seja por apetrechamento do
DOR de organização da consulta próprio ACES/USF, seja por ligações preferen-
ciais e de proximidade com entidades conven-
A consulta especializada de dor que se ima-
8 gina poder ser implementada, enquadra-se cionadas.