Page 26 Volume 18 - N.3 - 2010
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J.J. Figueiredo Lima: Plantas e Dor. Contributo para o Estudo Etnoantropológico do Tratamento da Dor




Doente
Receptores do GABA
Receptores serotoninérgicos
Indutor do citocrómio P450

Sedação prolongada
coagulação
↓ Biodisponibilidade
GABA Sinergismo Barbitúricos
Alcalóides Potenciação Benzodiazepinas
Taninos Adição Anti-histamínicos
Terpénicos Cumarínicos
Erva de S. João
Alho




Hiperdosagem: «Valerianismo»

Figura 4. Valeriana (Valeriana officinalis).




salienta-se o ácido γ-linolénico, a partir do qual com diversas espécies distribuídas por todo o
se originam as prostaglandinas E1 (PGE1). Atri- planeta (Fig. 4).
bui-se a este grupo de prostaglandinas algumas Após maceradas as raízes, delas se formulam
funções biológicas relevantes: antitrombótico, medicamentos fitoterápicos com propriedades
anti-aterosclerótico, anti-inflamatório, antialérgi- ansiolíticas, tranquilizantes, sedativas («o Valium
co e regulação da actividade da prostaglandina do século XIX»), diuréticas, antiespasmódicas e
E2 (PGE2). O equilíbrio entre a actividade bioló- anticonvulsivantes.
gica destas prostaglandinas é essencial para o Na constituição química entram: GABA, ácido
equilíbrio fisiológico . propiónico, ácido tânico, flavonóides, diversas
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A presença de ácido γ-linolénico no óleo de cetonas e diversos alcalóides (actinidina, catini-
onagra constitui um elemento clinicamente im- na, valerina, valerianina), derivados terpénicos
portante, ainda que para tal não exista evidência (valepotriatos, borneol, ácido valeriânico e tani-
científica. nos), etc. .
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Entre outros componentes isolados, salientam-se: Extractos da planta revelaram afinidade para
ácidos da série Ω, fitosterol, flavononas, onoteri- os receptores do GABAa e dos receptores sero-
na, ácido palmítico, ácido oleico, etc. tinérgicos 5HT5. Potencia a actividade do GABA
Pode, teoricamente, considerar-se interacção no SNC ao inibir as enzimas catalisadoras do
farmacológica com: antidepressivos, particular- ácido gama aminobutírico. Parece induzir o sis-
mente, com fármacos do tipo das fenotiazinas e tema enzimático CYP3A4. É utilizada em estados
com a clorpromazina, (podendo desencadear de ansiedade, insónias, cansaço intelectual, de-
convulsões epileptiformes), com ciclosporina e pressão, epilepsia, etc., e para tratamento da
AINE. Pode ter efeito aditivo com anticoagulan- dependência de benzodiazepinas. O borneol,
tes e com antiagregantes plaquetários. um monoterpeno bicíclico, é um agonista par-
Não deve ser utilizada durante a gravidez ou cial dos receptores GABAa . Os valepotriatos
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durante o aleitamento, por provável interacção são terpenos quimicamente instáveis, agonistas
com a produção de prolactina. dos receptores GABA, «capazes de potenciali-
O consumo regular deve ser interrompido zar a anestesia induzida pelo hexobarbital,
duas semanas antes de qualquer acto anesté- apresentar efeitos anticonvulsivantes, aumen-
sico. tar o tempo de sono induzido pelos barbitúri-
cos e exercer efeitos sedativos dosidependente».
O ácido valeriânico é um derivado sesquiter-
Valeriana, erva de S. Jorge, erva dos gatos pénico. É um indutor da actividade do GABA
ou Valeriana officinalis L no SNC e manifesta afinidade para os recepto-
Utilizada para fins medicinais há muito milha- res serotoninérgicos, contribuindo para a expli-
res de anos, sendo referenciada desde a mais cação dos efeitos calmantes, sedativos e de- DOR
remota Antiguidade. É um género de plantas pressores do SNC observados após ingestão
herbáceas perenes da família das Valerianaceae, de extractos de valeriana. 25
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