Page 21 Volume 18 - N.3 - 2010

Dor (2010) 18

Doente
Bloqueio de receptores
Bloqueio dos canais
de cálcio
Libertação de substância P
nas fibras C
Destruição de
corpúsculos da dor
Dopagem em desporto
(Pequim, 1988)
Sensação Interacção com bloq.
Capsaicina
Capsaicinóides de queimadura dos canais de cálcio
Lesões cutâneas

A sua inalação não é tóxica! Mas você desejaria estar morto antes que isso acontecesse!
Figura 1. Capsaicina (Capsicum frutescensis).

concentrações mais elevadas e parece ser pro- Contudo, a recuperação parece acontecer quan-
duzida nos septos interlobulares dos pimentos. do o alcalóide deixa de ser utilizado.
Desde há vários anos, diversas referências Alguns grupos de investigadores estudam a
têm sido divulgadas considerando o papel da eficácia da capsaicina como analgésico de lon-
capsaicina no alívio da dor traumática, da dor ga duração e como agente anticancerígeno (leu-
neuropática, da dor pós-herpética, na neuropa- cemias, cancro do pulmão) 34-36 .
tia diabética e na dor pós-cirúrgica, sob a forma Foram registados cinco casos de dopagem de
de administração tópica. cavalos de alta competição nos Jogos Olímpicos
Alguns autores referem a utilização como antipru- de Pequim em 1988 (o cavaleiro Tony Hansen
riginoso, em situações de prurido refractário e no foi condenado pelo Tribunal Arbitral do Despor-
prurido associado à insuficiência renal crónica. to por utilização de creme de capsaicina no ca-
O alcalóide parece ligar-se selectivamente a valo, perdendo a medalha de bronze) e suspei-
uma proteína, designada por transient receptor ta-se que possa ser utilizada topicamente em
cation channel subfamily V member (TRPV1), atletas de competições que envolvam estímulos
bloqueando os receptores VR1, junto aos canais dolorosos.
de cálcio, produzindo aumento de temperatura A dose tóxica de capsaicina, pura e cristaliza-
e implementando a produção de substância P da, para um adulto médio é de 13 gramas, o que
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na região pós-sináptica das fibras C. Este racio- corresponde à ingestão de 1,8 litros de Tabasco .
cínio explica diversos fenómenos: quando inge- Os efeitos tóxicos que requeiram medidas de
rida produz sensação de pungência (ardor, pi- emergência médica são, portanto, raros. A cap-
cante, calor) por irritação das células trigeminais saicina em pó deve ser manipulada com extre-
localizadas na mucosa bucal e na língua com a mo cuidado, em salas adequadas e com protec-
consequente libertação de substância P, a qual ção total do organismo, particularmente, dos
é um mediador da informação dolorosa para os olhos. Como alguém afirmou: «A sua inalação
centros cerebrais. O consumo repetido dessen- não é tóxica, mas você desejaria estar morto
sibiliza as células e, por isso, a pungência é mais antes disso acontecer!».
bem tolerada pelos consumidores habituais . As oleoresinas são ingredientes utilizados na
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Quando utilizada topicamente, a capsaicina elaboração de molhos picantes utilizados em
provoca uma verdadeira explosão de substância culinária: oleoresinas de capsicum, oleoresinas
P das fibras C da região afectada, compreen- de paprica e oleoresinas de pimentas.
dendo-se então o aumento de temperatura e Algumas oleoresinas têm sido utilizadas em
pungência no local e a posterior analgesia, por cosméticos, analgésicos tópicos e molhos hiper-
depleção deste mediador. picantes e no fabrico de gás pimenta.
Em termos clínicos, a capsaicina mimetiza
uma queimadura, pela qual os corpúsculos da Toranja, touranja, laranja-vermelha,
dor são destruídos, impedindo a passagem do laranja-romã ou Citrus x paradis
DOR estímulo nervoso durante algum tempo. A utili- É um citrino híbrido, resultante do cruzamento
zação crónica em determinada região do orga-
20 nismo pode levar à destruição de neurónios. entre a laranja (Citrinus x sinensis) e o pomelo