Page 30 Volume 18 - N.3 - 2010
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Dor (2010) 18
Qualidade de Vida Através da Dança
Diana Rodrigues
Resumo
A Dança apresenta vantagens já estudadas como terapia para inúmeras doenças. Apesar de o meu objectivo
não ser a terapia, a cura, pretendi ajudar os pacientes da Unidade da Dor do Hospital Garcia de Orta (HGO)
a ultrapassar pequenos obstáculos no dia-a-dia, como limpar o pó ou estender a roupa, melhorando assim a
sua qualidade de vida através da minha área de actuação: a Dança.
Palavras-chave: Dança. Dor. Dor crónica. Hospital Garcia de Orta. Qualidade de vida.
Abstract
The dance has advantages, already studied, as a therapy for several diseases. Although my target is not
therapy or the cure, I wanted to help patients of pain unit of Hospital Garcia da Orta to overcome small
obstacles of everyday life such as dusting or hang clothes on the clothesline, improving their quality of life
through my area of activity: dance. (Dor. 2010;18(3):29-31)
Corresponding author: Diana Rodrigues, dsrodrigues86@gmail.com
Key words: Dance. Pain. Chronic pain. Hospital Garcia de Orta. Quality of life.
No meu percurso de aprendiz de bailarina, que são flexíveis e quase inquebráveis mesmo
aprendi a lidar com a dor e adquiri alguns conhe- quando dão aquelas escorregadelas e caem
cimentos para tentar atenuá-la, preveni-la. Saber espalhados no chão, que dançam livremente
como aquecer antes de uma aula e como alon- sem preconceitos com o corpo, com os olhares,
gar depois pode ser a salvação de um pescoço, com a dor. Decidi virar-me primeiro para a faixa
evitando que se desenvolva um torcicolo ou de etária da terceira idade e mais tarde, através de
a
uma contractura nas costas. Aprendizagens um conhecimento no HGO em Almada, Dr. Cris-
deste tipo são adquiridas empiricamente através tina Catana, uma das responsáveis pelo acom-
de um dia-a-dia de cansaço, suor, persistência, panhamento psicológico dos pacientes da
tentativas e erros, tornando-se numa sabedoria Unidade da Dor do hospital, descobri talvez
de senso comum impregnada em todos os um objectivo diferente para a dança: melhorar
bailarinos. a qualidade de vida de pessoas com dor cró-
Como professora de Dança (Clássica e outros nica, qualquer que fosse a idade. Tornou-se ne-
géneros) de crianças, atendo às suas necessi- cessário perceber em que consistia a dor que
dades físicas, de desenvolvimento cognitivo e na sua definição mais simples é um mecanismo
sensorial, efectuando uma transferência daquilo de defesa que «(…) de um simples estímulo de-
que aprendi através da experiência para as au- sagradável como uma picada, passa a um influ-
las e para os alunos. Evitamos também aqui que xo nervoso que excita as células nervosas os
se desenvolva a dor – apesar de que, com o neurónios. Estes estímulos transformam a infor-
esforço e com a técnica, esta estar sempre mação numa mensagem química (…). Em segui-
implícita, sendo no entanto uma «dor saudável», da esta mensagem passa para a espinal medula,
produto final de esforço e do trabalho, e não desta para o centro da dor, o tálamo, e finalmen-
crónica e prejudicial. te para as zonas inteligentes do cérebro que
1
A partir desta experiência, senti necessidade catalogam, localizam e memorizam a dor.» .
de explorar outras vias, outra faixa etária. Não Pode ser distinguida no seu caso mais grave
as crianças que nos dão tudo o que pedimos, entre aguda e crónica, sendo a primeira de cur-
ta duração e a segunda repetitiva e de duração
superior a seis meses.
O conhecimento faz-se através do sistema ner-
voso central. Todas as memórias, sensações,
Professora de Dança DOR
Bailarina ideias, sonhos, experiências estão impressos nesse
E-mail: dsrodrigues86@gmail.com sistema. Conhecemos aquilo que adquirimos 29