Page 14 Volume 19 - N2 - 2011
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L. Carvalho: O placebo na Dor

Quadro 1. Exemplos de placebos Quadro 2. Circunstâncias da utilização do placebo 9
Categoria Frequência Categoria Frequência
Antibióticos para diagnóstico não 40% Após pedido não justificado de 32%
bacteriano medicação
Vitaminas 23% Para acalmar o paciente 21% © Permanyer Portugal 2011
Fitosuplementos 12% Após exaustão de todas as outras 20%
possibilidades terapêuticas
Doses subterapêuticas 10%
Como terapêutica suplementar 19%
Analgésicos para sintomas não 9%
relacionados com dor Para queixas não específicas 15%

Soro fisiológico iv. ou im. 6% Para parar as queixas do paciente 15%
Comprimidos de placebo 3% Como teste diagnóstico 15%
Para controlar a dor 10%
Comprimidos de açúcar ou adoçantes 2%
Para ganhar tempo até à próxima dose 5%
prevista de medicação

mais precoce. Podemos constatar uma relação
entre a dose e o efeito, sendo o efeito mantido
por algum tempo. Relativamente à dimensão do efeito placebo
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Kermen , et al. realizaram um questionário a nos estudos controlados com placebo, esta é em
médicos de família contendo perguntas relacio- média de 35,2%, sendo muito variável de estudo
nadas com a utilização de placebo na prática para estudo, com as patologias estudadas e
diária. Desses resultados foram extraídos os se- com os diversos desenhos dos estudos. As ca-
guintes exemplos de placebos (Quadro 1). racterísticas do placebo, as diferenças individu-
Os mesmos autores perguntaram também so- ais, os aspectos psicológicos e a interacção
bre as circunstâncias que levam o médico de entre médico-paciente são outros factores com
família a utilizar o placebo (Quadro 2). impacto no efeito placebo. Encontram-se na li-
Durante o trabalho de investigação que reali- teratura os seguintes números:
10
zei em 2005 sobre as atitudes e conhecimen- – 26-32% na enxaqueca.
tos dos médicos portugueses em relação ao – 35-75% na depressão.
controlo da dor crónica, a amostra foi questiona- – 62% na síndrome do intestino irritável.
da sobre se «O alívio da dor por um placebo é – 19% na doença de Crohn.
um bom indicador de que o doente exagera em – 19,6% na síndrome de fadiga crónica. Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação
relação à sua dor». As respostas obtidas apresen- – 26,7% na colite ulcerosa.
tam um grau médio de concordância de 7,3, mas – 29,7% na depressão major.
com diferenças significativas para a especialidade – 31,2% na mania.
de Ortopedia (valor de 5,40), para a Anestesiolo- – 26,8% no refluxo esofágico.
gia (8,75), e a Medicina Interna (8,36) (Fig. 1). – 35% na dor.
– 90% na angina pectoris.
O artigo de revisão publicado muito recen-
temente pela Cochrane Database of Systema-
3
tic Reviews revela que os seus autores não
150 descobriram evidência que as intervenções
125 com placebo tivessem efeitos clínicos impor-
N. o de respostas 75 39 venções com placebo podem influenciar os re-
tantes. Contudo, em certos contextos as inter-
100
sultados, especialmente na dor e na náusea,
50
embora seja difícil distinguir os efeitos reportados
25
5 19 19 25 17 10 21 9 26 34 25 do placebo dos efeitos ocasionados por viéses.
0 O efeito na dor variou, mesmo entre ensaios com
Não 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 baixo risco de viés, desde negligenciável a mui-
responde
to importante. As variações no efeito placebo
Escala visual analógica foram parcialmente justificadas por variações na
(0 - Discordo totalmente 10-Concordo totalmente)
condução dos ensaios e de como os sujeitos
foram informados.
Figura 1. Grau de concordância à pergunta «O alívio da Contabiliza-se muitas vezes como efeito pla-
dor por um placebo é um bom indicador de que o cebo nos estudos aleatorizados e controlados DOR
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doente exagera em relação à sua dor».
outros aspectos com ele não relacionados, tais 13
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