Page 25 Volume 19 - N2 - 2011
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Dor (2011) 19
Introdução A MTD é predominantemente excretada nas fezes,
A MTD é um fármaco opióide sintético desenvol- porém sabe-se que a acidificação da urina pode
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vido pelos alemães aquando da Segunda Guerra fazer aumentar a sua excreção pela via renal .
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Mundial . O seu papel como analgésico potente A eliminação da MTD é lenta. Tem uma semi-
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apenas foi descrito alguns anos mais tarde . vida plasmática que varia de 4,2-190 h .
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Actualmente, a MTD é utilizada como substân- Em média, a semivida é de 15-60 h . A perma-
cia de manutenção nos casos de dependência nência da MTD no corpo depende essencial- © Permanyer Portugal 2011
de opióides . Embora exista informação subs- mente das dosagens, da massa gorda corporal
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tancial a respeito do uso da MTD no âmbito da e da ligação às proteínas plasmáticas. A grande
toxicodependência, os estudos disponíveis em variabilidade declarada na eliminação deste
relação à sua aplicação no controlo da dor são princípio activo contribui para a putativa toxici-
limitados. Talvez a conotação negativa da MTD dade. Alguns autores clamam atenção particular
– que o público, em geral, associa a uma «dro- para as populações geriátricas, vulneráveis e
ga para viciados» – tenha favorecido o seu «es- desidratadas, onde pode existir uma diminuição
quecimento» e a sua subutilização como anal- da clearance de MTD, com a obrigatoriedade de
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gésico eficaz até recentemente . reduzir as doses .
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Na última década houve um interesse renova-
do na prescrição de MTD para aliviar a dor cró- Vias de administração
nica. Inicialmente, a sua indicação compreendia Em Portugal, a MTD (sob a forma de cloridra-
a dor oncológica (DO), sobretudo como segun- to) aparece disponível em solução líquida a 1%,
da linha de tratamento , e em fases avançadas e em comprimidos divisíveis de 5, 10 e 40 mg.
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da doença . Porém, presentemente, emerge a Estes, ao contrário do que acontece com os
sua importância no controlo da dor não-onco- comprimidos de MO de acção retardada, podem
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lógica . Contudo, é preciso frisar que a MTD ser esmagados e triturados . A MTD pode ser
continua a ser um fármaco usado mormente na administrada através de múltiplas vias: sublin-
rotação de opióides (RO) quando todas as alter- gual, rectal, sonda nasogástrica e gastro(jejuno)
nativas parecem claudicar 7-10 . stomias endoscópicas percutâneas. Em cuida-
Muito do entusiasmo à volta deste opióide sin- dos paliativos é usada especialmente a formu-
tético resulta da circunstância de providenciar lação líquida . Infelizmente, não existe no mer-
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uma analgesia eficaz em doentes que estavam cado nacional uma formulação injectável propícia
inadequadamente controlados com as terapêu- para os doentes sem via oral patente, em fases
ticas farmacológicas convencionais 11,12 e/ou de- avançadas da doença ou em agonia, donde,
senvolviam efeitos adversos intoleráveis 5,13,14 . nestes casos, é mandatória a rotação «forçada»
para outro opióide.
Farmacocinética e farmacodinâmica
A MTD liga-se aos receptores opiáceos µ e Principal indicação clínica: dor neuropática
δ, preferencialmente, e ainda aos receptores κ, ou dor de etiopatogenia «mista» Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação
com menor intensidade . Vários estudos têm A população oncológica tem dores cróni-
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sido realizados para comparar a MTD e a morfina cas, com múltiplas etiologias. No cancro é co-
(MO) nas vertentes clínica e farmacológica 7,16-18 . mum a presença de dor neuropática (DN) asso-
Os resultados mostram uma eficácia analgésica ciada à progressão da doença e/ou à iatrogenia.
similar entre as duas substâncias, havendo di- Raramente aparece uma dor cuja etiopatogenia
ferenças significativas em termos de farmaco- seja exclusivamente neuropática. A maioria dos
cinética. doentes oncológicos tem dores «mistas», com
Algumas das características da MTD são im- componentes nociceptivo (visceral e/ou somá-
portantes do ponto de vista farmacológico, de- tico) e neuropático, coexistindo no contexto da
signadamente: a inexistência de metabolitos destruição caótica relacionada com o cancro
conhecidos 19-21 ; a excelente absorção após ad- metastático .
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ministração oral e rectal 18-20,22 ; o seu rápido iní- Nos doentes não-oncológicos, a MTD tem, tam-
cio de acção (entre os 30-60 min, estabelecen- bém, sido prescrita com bons resultados para
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do-se um pico analgésico entre as 2,5-4 h) ; a tratar a dor crónica, particularmente a DN 33,34 . Há,
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necessidade de fazer menos resgates para a dor pelo menos, um ensaio aleatório, controlado com
episódica ; a semivida longa ; a baixa clearan- placebo, que utiliza a MTD na DN não-oncológica .
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ce hepática ; e a tolerância cruzada incomple- Depois, a literatura está repleta de casos em que
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ta, reduzida, com os outros opióides 23,24 . a MTD é aproveitada para tratar várias síndro-
De facto, a MTD é um fármaco altamente lipo- mes álgicas, a saber: dor facial refractária ; dor
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fílico, com uma biodisponibilidade de 80% e lombar crónica 37-39 ; síndrome da cirurgia lombar
uma excelente distribuição tecidular . As insu- falhada ; queimaduras químicas ; síndromes
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ficiências hepática e/ou renal não afectam o seu dolorosas complexas regionais (de tipo I) ; dor
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DOR metabolismo 25,26 ; todavia há, pelo menos, dois do membro fantasma ; polineuropatia diabética ;
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estudos prospectivos em que foram excluídos
cefaleias crónicas refractárias , e nevralgias
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24 os doentes com patologias renais e hepáticas 7,27 . pós-herpéticas .
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