Page 11 Volume 20 - N3 - 2012
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Dor (2012) 20
Introdução com instalação mais tardia dos sintomas (en-
o
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Os primeiros casos de CPPD foram descritos tre o 5. e o 14. dia pós-punção). A Interna-
no final do século XIX pelo cirurgião alemão tional Headache Society definiu CPPD como
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August Bier . Apesar de a sua incidência ter uma cefaleia de distribuição tipicamente fron-
diminuído significativamente, continua a ser to-occipital, irradiando por vezes para o pes-
uma das complicações mais frequentes das coço e ombros, de intensidade moderada a
técnicas de anestesia/analgesia do neuroeixo. severa e que apresenta um padrão clássico © Permanyer Portugal 2012
Atualmente, a incidência média é de cerca de de agravamento com o levante e alívio com o
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8%, mas pode variar de 5 a 81%, dependendo decúbito . Destacam-se também alguns sin-
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de vários fatores . Existem fatores de risco li- tomas acompanhantes que podem ou não estar
gados ao doente – nomeadamente idade jo- presentes como náuseas e vómitos, rigidez da
vem, sexo feminino, gravidez e uma história nuca, fotofobia, diplopia e alterações auditi-
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pessoal de enxaqueca ou CPPD anterior – e vas . No que diz respeito à duração do quadro,
fatores ligados à técnica, dos quais se desta- existem alguns relatos de persistência dos sin-
cam: o calibre e design da agulha utilizada, o tomas por períodos até um ano mas, na grande
local de punção da dura-máter, a pesquisa do maioria dos casos, é um quadro autolimitado
espaço epidural com ar e a experiência e fadiga no tempo cuja resolução sem tratamento es-
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do médico . tima-se ser de seis semanas em 85% dos
casos .
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Apesar deste caráter autolimitado, torna-se
Fisiopatologia e quadro clínico necessário iniciar o tratamento com a instala-
Anatomicamente, a dura-máter estende-se do ção da sintomatologia, particularmente nas
forâmen magnum até S2 onde se funde com o cefaleias moderadas a severas, pois este qua-
filum terminale. É constituído sobretudo por um dro clínico está muitas vezes associado a au-
tecido conjuntivo denso de fibras elásticas e de mento do stress no período pós-operatório ou
colagénio que se dispõem aleatoriamente. A sua pós-parto, podendo originar uma incapacida-
espessura é variável ao longo do seu trajeto . O de total, o aumento do número de complica-
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LCR encontra-se sobretudo no espaço subarac- ções e um prolongamento do internamento
noideu cerebral e medular. A sua função princi- hospitalar.
pal é de proteção contra o trauma. É maiorita-
riamente produzido a nível dos plexos coroideus Terapêutica
e absorvido nas granulações aracnoideias de
modo a que num determinado momento só exis- Na abordagem inicial, é importante a exclusão
tam cerca de 150 ml de LCR. A pressão do lí- de outras causas para cefaleias, em particu-
quor é mantida num valor médio de 10 mmHg lar algumas alterações intracranianas graves
mas varia com a posição, sendo que na posição nomeadamente: a hemorragia intracraniana,
horizontal apresenta um valor que varia entre qualquer lesão intracraniana ocupando espa-
5-15 cm H O e com o levante aumenta para ço, a trombose venosa cerebral e a meningi- Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
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7,10,11
cerca de 40 mmHg . te .
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A fisiopatologia exata das CPPD ainda não É também importante realçar que, no caso
está totalmente demonstrada, mas pensa-se particular das puérperas, estima-se que em
que esteja relacionada com vários fatores. O 39% dos casos apresentem cefaleias durante
evento desencadeante primário é sempre a a primeira semana após o parto, independen-
perfuração da dura-máter que cria uma solu- temente de qualquer história de punção da
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ção de continuidade, permitindo a saída do dura-máter .
LCR do espaço subaracnoideu com uma dimi- No que diz respeito à terapêutica, esta visa o
nuição subsequente do seu volume e pressão. alívio dos sintomas e a atuação sobre os meca-
A diminuição do volume conduz a hipotensão nismos fisiopatológicos na origem da cefaleia.
cerebral com venodilatação compensatória Distinguem-se dois tipos de intervenções: medi-
(teoria de Monro-Kellie) que está na origem das das não-invasivas e invasivas.
cefaleias . A diminuição da pressão do líquor
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leva à tração sobre algumas estruturas de su- Medidas não-invasivas
porte cerebral, nervos cranianos e cervicais As medidas não-invasivas podem ser dividi-
quando o doente inicia o levante, o que está na das em não-farmacológicas e farmacológicas.
origem de alguns dos sintomas que acompa- As primeiras consistem no apoio psicológico,
nham este tipo de cefaleias . repouso e hidratação. As cefaleias no período
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O quadro clínico segue, na maioria das ve- pós-operatório ou pós-parto são uma fonte de
zes, um padrão típico. Os sintomas têm início stress adicional se a situação não for devida-
nos primeiros três dias após punção da dura- mente esclarecida. Nesse sentido, é importante
-máter em 90% dos doentes, sendo que em esclarecer os doentes sobre a provável origem
DOR 65% dos casos o quadro instala-se nas pri- da sua sintomatologia, explicar o seu caráter
autolimitado no tempo e os tipos de tratamento
meiras 24 h. Embora com menor frequência,
10 pode também apresentar uma evolução atípica disponíveis. Outra medida não-farmacológica é
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