Page 16 Volume 20 - N3 - 2012
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Dor (2012) 20

Dor em Cuidados Intensivos
© Permanyer Portugal 2012


Edward Maul







Resumo
Os doentes internados nas Unidades de Cuidados Intensivos apresentam com muita frequência dor e
sofrimento. O autor considera ser muito importante e necessária a avaliação sistemática da dor, o controlo
da sintomatologia álgica, minorar o sofrimento nos doentes críticos. O alívio da dor, do sofrimento e da
angústia constitui um dever ético e deontológico, em particular na Medicina Intensiva.

Palavras-chave: Dor. Sofrimento. Cuidados Intensivos.


Abstract
Critically ill patients in the intensive care unit are very often in pain and suffer disproportionately. The author
considers early recognition and control of pain together with ongoing assessment to be very important and
necessary in pain management. The relief of pain, suffering and distress is a core principle of medical ethics,
especially in intensive care. (Dor. 2012;20(3):15-6)
Corresponding author: Edward Maul, emaul3@gmail.com

Key words: Pain. Suffering. Intensive care.




A International Association for the Study of de pensos e a colocação e remoção de cateteres,
Pain (IASP) define dor como sendo «uma expe- que podem mesmo ser causa de dor, situação
riência sensorial e emocional desagradável asso- esta que é muitas vezes pouco reconhecida .
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ciada a dano tecidular real ou potencial ou que é Muitas destas intervenções aparentemente inó-
descrita nos termos desse dano»¹. No entanto, cuas e que são repetidas várias vezes por dia,
uma definição mais percetível é a de que a dor é fazem parte da rotina diária duma Unidade de
«tudo o que a pessoa que a experimenta diz que Cuidados Intensivos (UCI). Também a presença Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
é, e que existe quando ele/ela diz que existe» . contínua de sondas orais ou nasais, a ventila-
2
O alívio da dor e do sofrimento é o princípio ção mecânica permanente, a privação do sono
fundamental que guia todos os profissionais de e o delírio ou outras formas de sensório altera-
saúde que cuidam de doentes, qualquer que seja do, podem contribuir para o desconforto físico e
o contexto clínico. No entanto, os doentes críticos emocional do doente, aumentando assim a per-
parecem sofrer de forma desproporcionada, quer ceção da dor . Alguns doentes estão particular-
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devido à doença ou lesão aguda que ameaça a mente em risco de não terem a sua dor controla-
vida, quer porque foram submetidos a cirurgia da, em especial os que não conseguem verbalizar
major extensa e mutilante. devido à entubação endotraqueal, os que estão
Estes doentes estão muitas vezes imobilizados, quimicamente paralisados e os que estão seda-
apresentando feridas e grandes incisões cirúrgi- dos ou em coma. Acresce que muitos doentes
cas, para além de serem portadores de disposi- erradamente acreditam que a dor é expectável
tivos médicos invasivos como tubos e cateteres e deve ser tolerada, ou então têm medo que o
penetrantes, e não-invasivos. Mais, sentem um uso de analgésicos opióides possa levar à ha-
imenso desconforto devido às rotinas dos cuida- bituação. Por outro lado, também os profissionais
dos com procedimentos tais como a aspiração podem não se aperceber do desconforto do do-
de secreções, os posicionamentos, a mudança ente ou dos efeitos fisiológicos deletérios da dor
não controlada . Assim, não admira que a maior
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parte dos doentes críticos afirmem que alguma
vez experimentaram dor no decurso do seu inter-
namento em UCI.
A dor, além de provocar sofrimento e angústia,
Ex-Diretor do Serviço de Medicina Intensiva
Hospital Central do Funchal tem consequências fisiológicas como a resposta ao DOR
Funchal, Madeira stress e a hiperatividade simpática levando, tam-
E-mail: emaul3@gmail.com bém, muitas vezes, à limitação dos movimentos que 15
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