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se traduz em imobilização de membros, tosse pou- doentes é provavelmente amplificada no doente
co eficaz e respiração superficial. Estas situações crítico quando comparado com o não-crítico .
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podem ter consequências nefastas como a isque- Ao tentarmos controlar a dor no doente crítico
mia miocárdica, a atelectasia pulmonar e pneumo- devemos ter sempre presente os seguintes prin-
nia, para além de outros efeitos como o controlo cípios básicos:
glicémico alterado, estado hipercatabólico com – Todos os profissionais de saúde deverão
aumento do consumo de oxigénio, hipercoagu- ser considerados advogados do doente no © Permanyer Portugal 2012
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labilidade e disfunção do sistema imunitário . que diz respeito ao controlo efetivo da dor.
Controlar a dor em qualquer contexto clínico – A maior parte (ou mesmo todos) dos doen-
é um desafio e beneficia de uma abordagem tes críticos experimentará dor durante o seu
holística que combine intervenções farmacológi- internamento em UCI, por isso, é essencial
cas com estratégias comportamentais, sociais e uma avaliação contínua utilizando uma abor-
comunicacionais assim como de equipas inter- dagem sistematizada.
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disciplinares . Contudo, para controlar a dor, é – O clínico deverá presumir que a dor está
preciso primeiro avaliá-la. Esta avaliação é rela- presente quando a informação do doente
tivamente simples para doentes que estão sufi- durante a avaliação não é possível, quando
cientemente despertos para fazer a autorrepor- as medições objetivas da dor são conflitu-
tagem através da fala, do acenar com a cabeça osas ou quando é difícil distinguir a dor de
ou do apontar, em resposta às questões sobre a outros problemas.
severidade da dor – o autorreportar do doente é – É mais fácil prevenir a escalação da dor
considerado o método mais fidedigno de avalia- através do reconhecimento e controlo preco-
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ção da dor . A avaliação da dor é menos fiável ces do que tratar a dor após esta estar des-
e menos válida quando se infere através da ob- controlada.
servação do comportamento mas poderá ser o – Se houver qualquer suspeita de dor, os
melhor método disponível nos doentes incapa- analgésicos deverão ser iniciados antes ou
zes de comunicar. Este é o caso da maior parte concomitantemente com sedativos possuin-
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dos doentes críticos que, como se sabe, não do pouco ou nenhum efeito analgésico .
podem comunicar devido a alterações da cons- Por tudo o que foi dito, fácil se torna concluir
ciência, ao delírio e/ou a entubação endotraque- pela complexidade que é o controlo da dor na UCI,
al. Assim, no doente crítico não comunicativo e e que vai desde o seu reconhecimento passan-
em ventilação mecânica são utilizados instru- do pela sua avaliação e, finalmente, o seu con-
mentos de avaliação como o Behavioural Pain trolo efetivo.
Scale (BPS) e o Critical Care Pain Observation
Tool (CCPOT), que ainda não se encontram va-
lidados em Portugal. Os componentes destes ins- Bibliografia
trumentos de avaliação são baseados no reconhe- 1. International Association for Study of Pain: Pain terms: a list with
definitions and notes on usage. Pain. 1979;6:249-52. Citation.
cimento de comportamentos comuns, observados 2. McCaffery M. Nursing management of the patient with pain. Filadé-
durante procedimentos dolorosos e validados em lfia: Lippincott; 1979. p. 3. Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
confrontação com o autorreportar. 3. Puntillo KA, White C, Morris A, et al. Patients’ perceptions and re-
O controlo adequado da dor é um direito hu- sponses to procedural pain: results from Thunder Project II. Am J
Crit Care. 2001;10:238-51.
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mano fundamental . O seu controlo farmacológi- 4. Novaes MA, Knobel E, Bork AM, et al. Stressors in ICU: perception
co na UCI encontra-se comprometido por várias of the patient, relatives and health care team. Intensive Care Med.
razões, a começar pela escassez de evidência 1999;25:1421-6.
de grau elevado que permita orientar as deci- 5. Stanik-Hutt JA. Pain Management in the Critically Ill. Critical Care
Nurse. 2003;23:99-103.
sões terapêuticas que têm sido extrapolados de 6. Lewis KS, Whipple JK, Michael KA, et al. Effect of analgesic treat-
estudos noutros cenários para a UCI. Sabendo ment on the physiological consequences of acute pain. Am J Hosp
Pharm. 1994;51:1539-54.
que a disfunção multiorgânica assim como as 7. Rittner HL, Machelska H, Stein C. Leukocytes in the regulation of
disrupções na distribuição das drogas e a sua pain and analgesia. J Leukoc Biol. 2005;78:1215-22.
ligação às proteínas são comuns no doente crí- 8. Desai PM. Pain management and pulmonary dysfunction. Crit Care
Clin. 1999;15:151-66, vii.
tico, esta extrapolação de dados de outras po- 9. Sessler CN. Progress Toward Eliminating Inadequately Managed
pulações de doentes para a UCI é, no mínimo, Pain in the ICU Through Interdisciplinary Care. Chest. 2009;135:
duvidosa . Acresce que, nos doentes críticos, 894-6.
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para além da disfunção multiorgânica, existem 10. Puntillo K, Pasero C, Li D, et al. Evaluation of Pain in ICU Patients.
Chest. 2009;135(4):1069-74.
alterações agudas nos vários equilíbrios que 11. Brennan F, Carr DB, Cousins M. Pain management: a fundamental
afetam a farmacocinética e a farmacodinâmica. human right. Anesth Analg. 2007;105:205-21.
É também difícil distinguir efeitos medicamentosos 12. Patanwala AE, Duby J, Waters D, et al. Opioid conversions in acute
care. Ann Pharmacother. 2007;41:255-66.
adversos de outros problemas médicos, e a varia- 13. Erstad BL, Puntillo K, Gilbert HC, et al. Pain Management Principles
bilidade de resposta em cada doente ou entre in the Critically Ill. Chest. 2009;135:1075-86.
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