Page 20 Analgesia em Obstetrícia
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– Fármacos dissociativos/amnésicos.
– Neuroleptoanalgésicos.
– Inalatórios.
Não devemos esquecer que todos os medicamentos administrados por via
sistémica atravessam a placenta e, portanto, estão presentes em algum grau na
corrente sanguínea do feto. Existe, como já referido, um efeito potencial de
depressão do recém-nascido, de intensidade variável, dependendo do tipo
de fármaco, da via de administração, do momento da administração tendo em
conta a hora do período expulsivo e a presença de quaisquer outras complica-
ções obstétricas.
4.1. Opióides
De todos os fármacos sistémicos para analgesia do trabalho de parto, os
opióides são considerados os mais eficazes. São também, dentro das cinco
classes de medicamentos já referidas, os mais utilizados, uma vez que através
do aumento da dosagem eles são capazes de fornecer uma analgesia completa
(alívio da dor). No entanto, sabemos que o alívio total da dor tem um preço,
uma vez que o aumento da dose do fármaco é acompanhado por um aumento
da incidência e gravidade dos efeitos secundários. Provavelmente, o efeito
secundário mais limitativo é a depressão respiratória, com a consequente
redução da oxigenação celular. Alguns dos novos agentes, que se têm vindo a
tornar populares (de todos o mais conhecido é o butorfanol), têm a vantagem
de provocar um menor grau de depressão respiratória. Mas, a sedação, a
diminuição dos reflexos e a diminuição da tensão arterial constituem efeitos
adversos graves que impõem limites na quantidade de fármaco que pode ser
administrada.
Outros efeitos secundários comuns, e menos perigosos, são as náuseas, os
vómitos, o prurido, a obstipação, etc.
Como resultado destas limitações, estes agentes são utilizados para
aliviar a dor do TP e não para a eliminar. Pode-se exemplificar este fenóme-
no do seguinte modo: se a grávida começar a sentir a contracção quando
esta atinge um valor de 10 na monitorização tocográfica e tiver dor até a
escala alcançar um valor próximo de 60, após a administração do opióide
pode não sentir a contracção até que esta atinja um valor perto de 30 e a dor
que sente até aos 60 da escala é menos intensa. Concluindo, verifica-se uma
redução quer da intensidade quer da duração da dor após a administração de
um opióide.
De um modo geral, acredita-se que se os opióides forem dados numa fase
muito precoce do TP podem diminuir a contractilidade uterina e atrasar a
dilatação do colo, retardando portanto todo o processo do TP. Não existe
nenhuma evidência científica de que este facto seja nefasto, mas alguns
obstetras consideram-no como um efeito indesejável. Assim que o TP está bem
estabelecido, o facto dos opióides aliviarem a dor parece resultar numa maior
regularidade das contracções uterinas e uma fase activa do TP mais curta.
Mais uma vez, não existe qualquer prova de que isto seja uma coisa boa ou má,
mas a maioria considera desejável um trabalho de parto rápido . 3
Todos os opióides atravessam a barreira placentária e diminuem a varia-
bilidade da frequência cardíaca do feto. Após o nascimento, o recém-nascido
pode apresentar depressão respiratória (geralmente revertida com a adminis-
tração de naloxona) e alterações neurocomportamentais, pelo menos numa
fase inicial. Não parecem haver repercussões a longo prazo, desde que seja
assegurado uma ventilação e oxigenação correctas.
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