Page 22 Analgesia em Obstetrícia
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timentos materno e fetal em 6 min. A sua semivida é de 2,5 h na mãe, mas
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entre 18 a 23 h no recém-nascido .
A petidina é metabolizada no fígado em três compostos: ácido meperídico,
ácido normeperídico e a norpetidina (farmacologicamente activa). A norpeti-
dina, cuja concentração plasmática materna sobe muito depressa durante os
primeiros 20 min após a injecção, e com subida lenta durante o resto do TP,
atravessa a placenta rapidamente e tem uma semivida de ± 60 h no recém-
nascido. Além disso, as concentrações neonatais deste metabolito podem
ainda aumentar devido ao metabolismo placentar da petidina.
É importante não esquecer que a depressão respiratória do recém-nascido
é máxima se o período expulsivo ocorrer 2 a 3 h após a última administração
(se a petidina for dada na hora que antecede o nascimento, a depressão
respiratória é rara), dependendo também da quantidade total de fármaco
administrada e da taxa de metabolismo materno. No entanto, com as doses de
referência, é pouco provável o aparecimento de alterações neurocomporta-
mentais. Outro efeito secundário comum são as náuseas e/ou vómitos, razão
pela qual este fármaco é usualmente administrado em associação a uma
fenotiazina.
A resposta neonatal à petidina materna está correlacionada com a cinética
fetal do fármaco. Nas primeiras 2 h, a captação tissular fetal limita a concen-
tração plasmática de petidina. Após 3 h, o feto começa a eliminar o fármaco
dos seus tecidos. Além disto, a norpetidina é um potente depressor respirató-
rio, havendo autores que a indicam como principal responsável pela depressão
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neonatal . Outros argumentam que a depressão neonatal está relacionada,
não com a norpetidina, mas com a acumulação de petidina não metabolizada
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que passa da mãe para o feto . Doses múltiplas de petidina levam a um
gradiente de difusão contínua entre a mãe e o feto, maximizando a exposição
fetal quer à petidina quer à norpetidina. Ambos os compostos vão acumular-
se nos tecidos fetais. Concluindo, farmacologicamente, a melhor altura para
nascer, depois de uma injecção endovenosa materna de dose única e modera-
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da de petidina, é na primeira hora ou após 4 h .
A petidina materna pode causar uma diminuição da variabilidade da
frequência cardíaca fetal durante mais de uma hora. Também pode ser respon-
sável por uma diminuição da frequência e duração dos movimentos fetais,
sendo este efeito máximo nos primeiros vinte minutos após a injecção. Estas
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duas situações podem criar confusão na avaliação do estado fetal .
Apesar de tradicionalmente se pensar que a petidina diminui a contracti-
lidade uterina e atrasa a fase latente do TP, o oposto também pode ser
verdadeiro. Estudos efectuados em animais mostraram um aumento da frequên-
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cia e amplitude das contracções uterinas após a administração de petidina .
Olofsson, et al. avaliaram, em 1997, num hospital sueco, os efeitos analgésicos
da petidina e da morfina sistémicas durante o TP. Concluíram que a dor do
trabalho de parto não é sensível nem à morfina nem à petidina, administradas por
via sistémica. Estes fármacos apenas causaram forte sedação das parturientes. Os
autores advogam, portanto, que não parece ético nem medicamente correcto
responder ao pedido de auxílio das grávidas dando-lhes um sedativo forte. E
adiantam que, devido aos efeitos negativos bem documentados sobre os recém-
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nascidos, estes agentes, quando dados por via sistémica, devem ser evitados .
4.1.3. Fentanyl
O fentanyl é um fármaco muito lipossolúvel, com grande ligação às
proteínas plasmáticas, e com uma potência cerca de 100 vezes superior à da

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